quinta-feira, 9 de abril de 2015

J. R. Guedes de Oliveira


           A UNE NÃO ERA ATRELADA...NOS VELHOS TEMPOS

                                                                                      J. R. Guedes de Oliveira

          Velhos tempos que deixaram marcas, mas, também, exemplos edificantes. Um destes posso muito bem dizer, pois que, na década de 60, líder estudantil, admirávamos e seguíamos a cartilha da UNE – União Nacional dos Estudantes, mesmo sendo secundaristas.
          Sonhávamos e discutíamos, opinando sobre os rumos do nosso Brasil, ante uma década conturbada, principalmente aqui na América Latina. Havia  Francisco Julião, Cheddi Jagan, Douglas Bravo, Coronel Caamano Denno e tantos outros que fizeram história – uma enorme lista de figuras que a juventude estudantil observava atentamente, desejando entender a cada perfil e a cada ação movida pelos mesmos. Na Europa, a juventude, aqui, observava o que Daniel Cohn-Bendit desejava.         
           Mas a nossa UNE era sagrada. Nem é preciso dizer dos seus presidentes que tiveram força, brio e dignidade. Mas, acima de tudo, nunca foram atrelados a nada, a não ser na defesa da educação, do estudo, da honestidade de dirigentes e no desejo de um gigante país.
          Não me lembro de receber, a UNE, benesses, gratificações, valores corrompidos. Era entidade de lisura e transparência que, pelos seus grandes vultos, empunhara a bandeira de luta, como um soldado pronto a defender a Pátria. Não havia mordaça consentida ou “tapa-boca”.
          Velhos e saudosos tempos!
           A UNE já não é mais a mesma: agora, um amontoado de esquisitas figuras, mais voltadas aos interesses governamentais e, o que é mais perigoso e vergonhoso, atrelados ao sistema. Perdeu ânimo; recuou desejos; afinou-se aos mandatários e, sem esboçar qualquer palavra, vê-se perdido no tempo e no espaço. Que presente inglório! Que passado retumbante!
            A UNE que conheci, de Aldo Arantes a Luís Travassos (Marcos Brant, José Serra, Altino Dantas, Jorge Luís Guedes – destemidos, sempre!), era algo indescritível, coisa de se orgulhar pelo que estes fizeram em prol da vida estudantil e pelas diretrizes mais altas do país, em permanentes manifestações.
           Soube que a UNE ganhou terreno em Brasília, avolumou o seu caixa e, por grande tristeza, baixou a crista, sentando ao lado dos dirigentes e voltando as costas para os seus mais sagrados compromissos: a educação.
           Onde estão estes dirigentes que deveriam seguir em frente nas manifestações por uma educação melhor? Onde estão eles, para batalhar em favor dos professores e melhores condições do exercício em sala de aula? Onde estão eles, para gritar, esbravejar, empunhando cartazes e tudo o mais, contra os corruptos e desonestos de um Brasil melhor? Onde estão eles, que poderiam até ter a cara pintada?
          Pasmem! Há muito tempo a UNE está nas mãos de um partido político (PCdB), que determina, sem a menor sombra de dúvidas, o que ela deve ou não fazer. Atrelados, amarrados, atados – acorrentados, pois, - não é nem sombra da grandiosidade do seu passado. É triste ver uma entidade que não cumpre o seu papel histórico e, mais ainda, se demonstra de total apatia por qualquer movimento reivindicatório. Nadar em dinheiro, das chamadas benesses institucionais palacianas, é de uma total falta de legitimidade.
           Quando a UNE voltará a ter brilho próprio? Pago para ver!