segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Entrevista de Roberto Romano à Revista Isto É dinheiro. O entrevistador é Márcio Juliboni. O rosnados ditos comentários de leitores, que publico abaixo, provam que tenho razão, o fascismo está na pauta do dia.

Divisão entre PT e PSDB é suicida, diz Roberto Romano

Em entrevista à DINHEIRO, professor da Unicamp afirma que a briga entre tucanos e petistas só alimenta a ascensão de radicais de direita, que podem assumir o poder nos próximos anos

26/01/2015 08:00

  • // Por: Márcio JULIBONI
Imprimir:
Roberto Romano, professor da Unicamp
Por mais difícil e improvável que pareça, PT e PSDB devem deixar as brigas de lado e se entenderem. Caso contrário, o País sofre um sério risco de cair nas mãos de um governo de direita. O alerta é de Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp. Acima das diferenças, Romano afirma que é preciso apelar para o que os dois principais partidos brasileiros têm em comum: são formados por pessoas que lutaram contra a ditadura e pertencem ao “campo progressista”, aquele que propõe avanços na sociedade. “Quando tucanos e petistas terminarem de se destruir, o caminho estará aberto para a direita”, afirma.

Para não deixar dúvidas sobre o risco de voltarmos ao autoritarismo, caso os dois principais partidos brasileiros não restabeleçam pontes, Romano ressalta: “a direita não conversa; ela manda.” O problema, porém, é que tucanos e petistas, neste momento, não se entendem nem entre si. No PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves, derrotado pela petista Dilma Rousseff nas últimas eleições, já afiam os dentes para disputar a indicação para concorrer ao Planalto em 2018. No PT, cresce a esquizofrenia: o partido é, cada vez mais, oposição e governo ao mesmo tempo.

DINHEIRO – Por que seria importante que PT e PSDB conversassem?

Roberto Romano –
 Tenho lido muito sobre a República de Weimar [período da história alemã entre o fim da Primeira Guerra, em 1918, e a ascensão do nazismo, em 1933]. Na época, a briga entre socialdemocratas e socialistas era tão grande, que destruíram uns aos outros. Isso levou à ascensão da direita. Em política, não existe lugar vago. Quando esquenta a briga entre a esquerda e a centro-esquerda, abre-se uma brecha para a direita crescer. No Brasil, o PT e o PSDB chegaram a tal ponto... quando eles terminarem de destruírem uns aos outros, o caminho estará aberto a um candidato de direita. E lembre-se de que a direita não conversa com ninguém; ela manda. O meu medo é que a direita se aproprie das novas tecnologias de marketing.

DINHEIRO – Mas há espaço efetivo para o PT e o PSDB se entenderem?

Romano – 
Do ponto de vista factual, é muito difícil. Há muita agressão e desconfiança mútuas. Ninguém duvida da capacidade de liderança de Lula, mas ele é muito egocêntrico. Sempre liderou, focado em suas decisões. Há uma grande escassez de líderes no Brasil. No PSDB, estão o Serra, Alckmin e o Aécio. Já o ex-presidente FHC é importante, mas já não mobiliza multidões. Então, não há ninguém capaz de fazer frente ao Lula, agora. Mas o fato de ser difícil estabelecer o diálogo não quer dizer que essa divisão entre tucanos e petistas não seja suicida. Esses partidos fazem parte do campo progressista, aquele que propõe avanços na sociedade. No PSDB, há pessoas que não são conservadoras, como o Aloysio Nunes e o Serra. Já o Alckmin é mais conservador, influenciado pela doutrina social da igreja católica, para a qual a questão social tem algo de paternalista. Em 2018, a luta interna do PSDB se dará entre Alckmin e Aécio Neves, que é mais de centro-esquerda.

DINHEIRO – O quanto essa briga de petistas e tucanos fortalece a direita?

Romano –
 A direita está se fortalecendo em todo o mundo. Vemos isso com o retorno dos republicanos, nos Estados Unidos. Na França, por exemplo, alguns representantes da centro-esquerda já surpreenderam, ao afirmar que podem votar na líder dos conservadores, a Jean-Marie Le Pen. A justificativa é que eles ajudaram a eleger um governo que não foi aberto ao diálogo e permitiu a corrosão dos salários, por exemplo. Então, esses representantes perguntam que alternativa lhes restou.

DINHEIRO – Essa situação é semelhante às queixas dos movimentos sociais em relação ao PT?

Romano –
 Esses movimentos foram anestesiados durante dos governos de Lula e Dilma. Apesar de todas as coisas, o [ex-deputado federal] José Genoíno tem uma frase ótima sobre isso: “estamos no governo, mas não temos o poder”. Ele disse isso, na época do governo Lula, porque sabia da força do empresariado.

DINHEIRO – O senhor já disse, também, que o erro estratégico de PT e PSDB foi apostarem em alianças, em vez de ampliarem suas bases municipais. Os dois partidos parecem insistir nesse erro.

Romano –
 No caso do PSDB, acho que o jogo já está dado. Ele não se movimenta nesse sentido. Já no caso do segundo governo Dilma, a composição do ministério só aumenta a sua fragilidade e dá margem para que a direita retorne. Quando ela tenta esvaziar o PMDB, fortalece o Kassab, por exemplo. O Kassab nunca foi de esquerda e foi, inclusive, muito combatido pelo PT. Quando prefeito de São Paulo, ele colocou coronéis da PM para comandar as subprefeituras. Tradicionalmente, essa é uma categoria que é retrógrada. É completamente utópico esperar que haja uma saída à esquerda, neste governo Dilma. O PMDB é uma confederação de oligarquias. É a velha direita brasileira hegemônica. Você já sabe o que esperar. Mas, dos novos partidos, como o do Kassab, pode-se esperar tudo, menos uma volta à esquerda. Ao sair da tutela do PMDB, Dilma se enfraquece.

DINHEIRO – O PT vai mudar, acabar, ou vai ser um partido esquizofrênico, que é governo e oposição ao mesmo tempo?

Romano –
 Eu acho que a esquizofrenia é a mais provável. Os setores de esquerda do partido acham que é preciso mudar, mas o que eles não dizem é: mudar para onde? O programa do PT ainda é radical, comparado aos governos de Lula e Dilma. Ele defende um socialismo democratizante, com influência do catolicismo. A esquizofrenia está aí: o programa não tem nada a ver com a prática do PT no governo. Seria necessário um debate interno muito grande para refundar o partido, mas acho dificílimo. Há insatisfações à direita e à esquerda. Além disso, ouvi, certa vez, de um dirigente do partido que boa parte dos indicados pelo PT a cargos públicos são pessoas humildes, sem recursos. Então, antigamente, após quatro anos de mandato, não conseguiam se reeleger por falta de dinheiro. Aí, ouvi a frase mais preocupante: “então, eles aprenderam a lição”. O dirigente se referia ao fato de que parte dos indicados começou a aceitar o jogo político, com tudo o que sabemos que envolve.

DINHEIRO – Quais as chances de termos um candidato de direita no segundo turno da eleição de 2018 ou 2022?

Romano –
 Acredito que haverá um candidato de direita em 2022. Não digo que seja um Jair Bolsonaro, porque ele tem um estilo muito histriônico e afasta os eleitores mais moderados. Em 2018, seja quem for candidato pelo PSDB, Alckmin ou Aécio, poderá atrair uma parte dos eleitores, se o PT efetivamente naufragar. Se Alckmin ganhar em 2018, a esquerda poderá respirar e se recompor, porque Alckmin é conservador, mas é mais aberto ao diálogo. No caso de Aécio, a retomada da esquerda pode ser mais difícil, porque contaria com o apoio de parte do PMDB e da igreja católica. A dúvida é qual Aécio teríamos na presidência. Aquele que é neto de Tancredo Neves e possui tradições democráticas, ou aquele que governou Minas Gerais de modo autoritário, levando os mineiros a não votarem nele para presidente em 2014. Mas é sempre bom lembrar que a direita, no Brasil, detém o poder. Às vezes, acontece de o governo escapar de suas mãos, mas o poder não. O que pode ocorrer é que, não precisando mais da esquerda para governar, a direita encontre seu próprio candidato.

DINHEIRO – Com tudo isso, o senhor está otimista, pessimista ou realista com a política brasileira?

Romano –
 Sou um pessimista com a história do Brasil, cheia de corrupção, favores, desigualdades sociais e econômicas. Essas desigualdades atingem a todos. Não se restringem ao que o Élio Gaspari chama de “andar de baixo”. No “andar de cima”, quando um grupo de empreiteiras se beneficia de favores do governo, lesam a concorrência e aquelas empresas que trabalham honestamente. Isso prejudica muito o desenvolvimento do País. Agora, me considero um realista no sentido de que a solução é que a sociedade se una. A interpretação de Maquiavel, feita por Spinoza, é de que o direito natural é que o peixe grande coma o peixe pequeno. A solução é que os peixes pequenos se unam para comer o grande. É por isso que acho a frase do Genoíno boa: você pode ser governo, sem que o poder esteja em suas mãos. E sou otimista, porque acho que a história não é uma fatalidade. É preciso um trabalho contínuo das pessoas. Há como mudar.

DINHEIRO – E como fazer isso?

Romano –
 Gosto muito do etnólogo francês André Leroy-Gourhan. Para ele, a história da humanidade é a história da tecnologia. Nos fizemos humanos ao nos erguemos e passarmos a enxergar mais longe. Ao liberarmos as mãos para levar comida à boca e para fabricar ferramentas. Somos inteligentes, porque ficamos em pé. Enquanto aceitarmos rastejar diante de forças maiores ou sutis, não mudaremos. Os brasileiros se acham muito espertos, mas a melhor forma de viver e evoluir é ficar de pé.

Avalie esta notícia:  star1star2star3star4star5
Imprimir:

5 Comentários:

  • Aye // 26/01/2015 - 13:28
    0 0 Denunciar
    Rogério, MAV ignorante. Destruir no sentido de não deixar que cresçam. Sei que para a esquerda destruir significa outra coisa. Já diria Celso Daniel. A maior tragédia da humanidade chama-se socialismo.
  • joao gaspar // 26/01/2015 - 11:42
    1 0 Denunciar
    Unicamp e Usp, a grande maioria dos professores são esquerdistas que adoram viver nas tetas do governo, bando de neofitos.
  • joao gaspar // 26/01/2015 - 11:41
    1 0 Denunciar
    É incrivel este Roberto Romano, esquerdista de araque. No minimo deve receber dinheiro dos PeTralhas. Do que adianta ter tanto estudo e ser um babaca.
  • Rogério // 26/01/2015 - 10:35
    0 1 Denunciar
    Por causa de pessoas anencéfalos como este indivíduo Aye, que tragédias acontecem na humanidade.
  • Aye // 26/01/2015 - 10:02
    1 1 Denunciar
    Alguém fala pra esse PTrofessor esconder a foice e o martelo estampados na testa dele. Precisamos destruir sim a esquerda no país. É o nosso grande câncer! Entrevistar alguém da Unicamp só podia dar nisso.