quarta-feira, 14 de agosto de 2013

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CAMPINAS, 14 DE AGOSTO DE 2013

VIOLÊNCIA

Metade das vítimas de estupro são adolescentes

Pesquisa mapeou a violência sexual contra 687 mulheres atendidas no Caism entre 2006 e 2010

14/08/2013 - 07h21 | Inaê Miranda
inae.miranda@rac.com.br








Um estudo feito pelo Hospital da Mulher Professor Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aponta que quase a metade das vítimas de estupro (47,4%) são adolescentes.

A pesquisa mapeou a violência sexual contra 687 mulheres jovens e adultas — atendidas entre 2006 e 2010 —, traçando o perfil, as consequências psicológicas, o tratamento ambulatorial e as características da agressão de mulheres.

A pesquisa foi feita pela médica psiquiatra Cláudia de Oliveira Facuri com a orientação da professora Renata Cruz Soares de Azevedo, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Segundo Cláudia, o levantamento foi feito com base nas informações obtidas das fichas clínicas que compõem o prontuário das pacientes. Dos 687 casos, 325 eram adolescentes.

A idade média das mulheres avaliadas foi de 23 anos. Segundo o estudo, a maioria era de cor branca, solteira, sem filhos, sadia e com escolaridade superior a oito anos.

De acordo com a pesquisadora, os dados confirmam trabalhos da literatura médica, que indicam a adolescência como a fase de maior risco para vitimização sexual, por ser relacionada ao aparecimento de características sexuais peculiares.

“A menina começa a parecer mulher”, explica Cláudia. Nessa fase, a adolescente começa a transitar com menor supervisão. “Ela passa a ter um contato com uma zona maior de pessoas e se expõe a situações menos planejadas. É também uma fase de experimentação”, afirma.

O estudo também apontou que 41,6% estavam empregadas e 39,4% eram estudantes. “São mulheres no auge da sua vida produtiva. Sem doença crônica ou fator de fragilidade que a exponha. Está indo para o trabalho ou para a escola e é abordada”, explica.

Segundo depoimento das vítimas, a maioria das agressões ocorreu no período noturno, na rua, no percurso do trabalho ou escola, em vias sem ou com pouca iluminação, por um único agressor desconhecido e com intimidação por força física ou porte de arma. “Nossas mulheres são vítimas de violência urbana.”

As consequências psicológicas e físicas da vítima de agressão são inúmeras. De acordo com o estudo, após a violência sexual, mais da metade apresentou alteração do sono, 51% apresentaram sintomas depressivos, 48,5% ansiedade e 18% relataram que pensaram em cometer suicídio. As mulheres vítimas de violência sexual também estão mais sujeitas a desenvolver doenças como asma, hipertensão, obesidade e transtornos alimentares.

Tratamento
De acordo com Cláudia, chama a atenção o fato de as mulheres buscarem tratamento mais precocemente. Mais da metade registrou boletim de ocorrência e 87,6% procuraram atendimento de emergência do Caism em até 72 horas.

“Quanto antes os cuidados e a profilaxia forem tomados, os resultados serão mais eficazes e os danos menores. Aumenta a qualidade da assistência, o acesso ao atendimento psicológico especializado.”

A pesquisadora ressalta a importância do apoio familiar, de maior acesso aos espaços de cuidado e melhor qualificação e conhecimento não apenas dos profissionais como da população de modo geral.

“As pessoas ainda têm dificuldades de abordar temas que são considerados tabus. Mas quanto mais se conhece melhor a assistência que se vai prestar. Daí a necessidade de serviços com profissionais treinados, orientados sobre o que fazer, como encaminhar e sensibilizados para respeitar a dor.”

Serviço

O Caism funciona 24 horas por dia. Ele está localizado na Rua Alexander Fleming, nº 101, Cidade Universitária Zeferino Vaz. Mais informações pelo telefone: (19) 3521-9333.