quarta-feira, 31 de julho de 2013

Marta Bellini

quarta-feira, 31 de julho de 2013

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Estado de são Paulo, IHU/Unisinos.

Francisco e os diletantes 

Roberto Romano

"Sinto muito escrever algo que não entra na euforia pela visita do papa Francisco. No pânico ou arrebatamento, vale seguir Spinoza, para quem não devemos rir nem chorar com os fatos, mas compreender suas articulações, não raro despercebidas na hora. Qual lógica seguirá o simpático bispo de Roma na sua atuação mundial? Não erraremos em demasia ao retomar a História da Igreja nos últimos tempos", escreve Roberto Romano, professor de Éitca e Filosofia da Unicamp, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 31-07-2013.

Eis o artigo.

Sinto muito escrever algo que não entra na euforia pela visita do papa Francisco. No pânico ou arrebatamento, vale seguir Spinoza, para quem não devemos rir nem chorar com os fatos, mas compreender suas articulações, não raro despercebidas na hora. Qual lógica seguirá o simpático bispo de Roma na sua atuação mundial? Não erraremos em demasia ao retomar a História da Igreja nos últimos tempos.

"Toda nação europeia, sem a influência da Santa Sé, será levada invencivelmente à servidão ou à revolta" (De Maistre). O pensamento conservador do século XIX põe no pontífice a base da ordem social e política, premissas retomadas pelos líderes eclesiásticos em documentos e tratados diplomáticos. A síntese entre poder divino e secular permite entender os papas recentes. Em carta ao cardeal Gasparri (1929), Pio XI diz sobre o Tratado de Latrão: a Igreja e o poder civil formam uma "ordem necessariamente determinada pelos respectivos fins". Logo, "a dignidade objetiva dos fins determina necessariamente a absoluta superioridade da Igreja". O Vaticano sustentou poderes estatais, mesmo quando eles prometiam barbárie, como na Concordata (Reichskonkordat) com Hitler. O apoio ao Führer teve contrapartidas. O artigo 5.º do tratado indica: "No exercício de sua atividade sacerdotal, os eclesiásticos gozam da proteção do Estado, do mesmo modo que os funcionários do Estado". A Igreja proíbe atividades partidárias dos padres e movimentos leigos na Alemanha. Desarmados os católicos, o nazismo se fortifica. Hitler violou sistematicamente a Concordata.

No Vaticano II ocorre importante mudança na política acima. O apoio a Mussolini e a Hitler supunha extirpar liberais, socialistas e outros. A Gaudium et Spes proclama que "muitos e vários são os homens que integram a comunidade política e podem legitimamente seguir opiniões diversas (...) o exercício da autoridade política, seja na comunidade como tal, seja nos órgãos representativos do Estado, sempre deve ser realizado nos limites da ordem moral (...) de acordo com a ordem jurídica legitimamente estabelecida ou por estabelecer". Cautela diante dos líderes autoritários: "Os cidadãos (...) evitem atribuir demasiado poder à autoridade pública e não exijam dela inoportunamente privilégios e proveitos exagerados, de tal modo que diminuam a responsabilidade das pessoas, das famílias e dos grupos sociais".

Depois de Paulo VI a política vaticana vai do Concílio à Realpolitik. João Paulo II colabora para o enterro da URSS, o que libera forças democráticas. Mas, como provam M. Politi e C. Bernstein (Sua Santidade), ele foi silente em face de regimes como o de Pinochet, aliando-se a Reagan em feitos pouco defensáveis. Wojtyla/Ratzinger lançam o Termidor. "É preciso", proclama o Concílio, "reconhecer que a cidade terrena, a quem são confiados os cuidados temporais, se rege por princípios próprios". A maioridade foi reconhecida aos leigos. João Paulo II tutela os fiéis na vida pública e na Igreja. À hierarquia foi atribuído poder inaudito. Logo, a direção da Igreja gira em torno de si mesma, tolera descalabros éticos e políticos que levam à renúncia de Bento XVI. Nada foi deixado aos padres e leigos. Aumenta o êxodo rumo à indiferença religiosa, ao ateísmo.

Segundo K. Mannheim, "a Igreja Católica é a grande instituição que, pela primeira vez, planificou o lado social da cultura. Ela exibe muito saber deixando que seus integrantes externos façam experimentos na sua periferia. Quando eles fracassam a Igreja os desaprova ou excomunga; mas formas bem-sucedidas de ajuste e mudança fazem por vezes suas organizações lutarem pela própria Igreja. Assim ocorreu com as ordens monásticas e grupos missionários como Cluny e os Jesuítas". Francisco ressuscita esperanças dos que seguem a Teologia da Libertação. Mas os altares simultâneos para João XXIII e João Paulo II sinalizam uma complexa abertura pontifícia para várias saídas. Francisco mostra que não assume um discurso fechado, nem favorece a via progressista. O contentamento por seus gestos deve ser moderado pela prudência. Entusiastas não operam com a razão, mas com a vontade e o dogma, acolhidos como inquestionáveis. Quando publiquei meu doutoramento, defendido na França em 1978, João Paulo II era a esperança. Em Brasil, Igreja contra Estado, apresento análises, documentos à vista, nas quais mostro a lógica que move a Igreja moderna: afirmar sua soberania espiritual acima de Estados e sociedades, como na tese de Pio XI. O livro alerta os que imaginavam uma Igreja catequizada pelo socialismo.

Como resposta alguém proclamou, baseado apenas no desejo, "uma inegável tendência da Igreja na direção do projeto socialista, como o verificou o insuspeito historiador da Igreja R. Aubert, e outros analistas sérios" (Clodovis Boff, A Igreja da Esperança). O dito socialismo baseava-se no equívoco de identificar a tese marxista (a socialização dos meios de produção) e a Doutrina Social da Igreja (a propriedade social). Jogo semântico, para ser caridoso, o "socialismo" eclesiástico era desprovido de base histórica.

Na vida social, política, econômica ou religiosa, nada é "inegável", salvo para quem, em vez de pesquisar tendo a dúvida como corretivo, decreta, como o camarada Lyssenko, certezas catastróficas. A repressão de João Paulo II/ Bento XVI foi atenuada, mas nada indica que Francisco, que segue a Doutrina Social da Igreja, chegue ao socialismo ou prescreva heterodoxias morais ou místicas. Os governos também se acautelem: a Igreja apoia a ordem civil, mas busca acima de tudo preservar sua missão e defender seus espaços. Como diz Elias Canetti, perto dela "todos os poderosos dão a impressão de serem modestos diletantes". E diletantes enxameiam nos palácios brasileiros.

Roque

 
Estimativas do Planalto indicam que a rebelião dos aliados pode custar um rombo de R$ 6,2 bilhões por ano.

terça-feira, 30 de julho de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Roque




Veja. De fato, há uma grande diferença. Mas talvez o mais despojado seja o de maior autoritarismo. Ao futuro para que ele diga...

Montagem dos tronos de Bento XVI e papa Francisco
Montagem dos tronos de Bento XVI e papa Francisco (Franco Origlia/Getty Images/Tony Gentile/AFP)

Observatório da Imprensa, Roberto Romano, Jena Wyllys, Daniel Aarão Reis discutem o Estado laico, o papa Francisco, as massas.

‘OI’ NA TV

O Estado laico em xeque

Por Lilia Diniz em 26/07/2013 na edição 756
Na semana em que o papa Francisco chegou ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Observatório da Imprensa exibido pela TV Brasil na terça-feira (23/7) discutiu a postura da mídia brasileira diante do preceito do Estado laico, tema tratado no programa em diversas ocasiões. Assegurada pela Constituição Federal, a laicidade é posta em xeque diariamente: das cédulas de real, que ostentam a frase “Deus é fiel”, ao crucifixo pendurado no plenário do Supremo Tribunal Federal, passando pelos recentes projetos de “cura gay” e “bolsa estupro”. Outra barreira à laicidade são os variados feriados religiosos do calendário brasileiro. No Rio de Janeiro, sede da JMJ, a prefeitura decretou dois dias de feriado integral e mais dois períodos parciais. Realizado desde 1986, o encontro de jovens católicos espera reunir, de acordo com estimativas dos organizadores, mais de 2 milhões de peregrinos de todo o mundo.

Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro o historiador Daniel Aarão Reis. Professor titular de História Contemporânea do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), Aarão pesquisa a História das Esquerdas no Brasil. Em São Paulo participaram Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), e o filósofo Roberto Romano. Autor de três livros, colunista da Carta Capital e do portal iGay, Jean Wyllys participa de movimentos que combatem a homofobia, a intolerância e o fundamentalismo religioso, entre outros temas. Roberto Romano é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e tem doutorado na Escola de Altos Estudos de Paris. É professor titular da Unicamp na área de Ética e Filosofia Política. Escreveu vários livros e artigos sobre ética e teoria do Estado.

No editorial que abre o programa (ver íntegra abaixo), Dines comentou que o Estado laico é “continuamente atravessado pela transformação da nossa mídia eletrônica em púlpito religioso”. Dines ressaltou que esse tema já foi tratado no programa por várias vezes: “Nossa insistência justifica-se duplamente: se o Estado democrático de direito é por obrigação isonômico, as concessões e a programação das emissoras de rádio e televisão devem obedecer aos mesmos critérios igualitários em matéria religiosa. Não é o que acontece”.

A reportagem exibida antes do debate no estúdio entrevistou Leonardo Maciel, presidente da RioEventos, órgão da prefeitura carioca encarregado dos preparativos da JMJ. Maciel explicou que o volume de fiéis confirmados para o encontro justifica o feriado: “É o maior evento que o país já recebeu. Não há na história do país um evento dessa magnitude, com essa quantidade de turistas que vem ao Rio de Janeiro. É impossível que um evento dessa magnitude, tal qual uma Olimpíada, chegar a uma cidade sem que essa cidade se adapte a isso, então você tem que tomar medidas para que [tudo] ocorra sem transtornos”. Maciel garantiu que a prefeitura apoia grandes iniciativas, independentemente do caráter religioso.

Romper a tradição

Para a professora de Filosofia da USP Roseli Fischmann, historicamente a laicidade do Estado brasileiro nunca chegou a se concretizar. “No Império era natural essa ligação íntima, uma ligação plena do Império e da igreja católica. Dentro dos governos que são aristocráticos, então isso se aplica. E, logicamente, quando se implanta a República, a primeira coisa a ser negada é essa, porque a República traz essa certeza de que todos somos livres e iguais. Esse é um ponto crucial. Se somos iguais, não há espaço para essa diferenciação da aristocracia desde o nascimento”, lembrou a professora. Para ela, a igreja católica continua solicitando não direitos, mas privilégios ao Estado.
Roseli Fischmann destacou que o Estado é “de todos e de todas”, por isso a laicidade é importante: “Aquilo que é colocado, não quer dizer que se deva seguir. Nós vemos [isso], por exemplo, na discussão relativa à homossexualidade, só para pegar um exemplo recente que causou muito debate. [Aceitar] que exista esse reconhecimento da plena igualdade [não significa estar] de acordo ou querendo para si. É importante entender que a lei, por existir para todos e para todas, não se coloca como uma coisa impositiva, ao contrário: ela continua mantendo a possibilidade de escolha”.

O programa também entrevistou a professora Maria Clara Bingemer, do departamento de Teologia da PUC-Rio. A estudiosa explicou que os ocidentais, de maneira geral, estão marcados pelo cristianismo histórico porque esta corrente configurou, não só a fé e a religião, como também a cultura. “O comportamento dos cristãos sempre foi contra corrente. Acho que, por isso também, os órgãos públicos e a mídia ficam muito em cima da igreja, para ressaltar quando ela tropeça. E ela tropeça porque é humana”, disse a professora.

Laicismo e democracia

No debate no estúdio, o professor Roberto Romano explicou que o termo “laico” tem origem na palavra grega laos, que significa o povo, potência maior na democracia ateniense. Na Idade Média, implantou-se a doutrina de que quanto mais perto de Deus, mais alta a posição hierárquica na sociedade. “Embaixo de tudo estava o leigo, o laos, que não tinha direito nenhum e não tinha condição de ser autônomo. Essa doutrina que foi gerada no helenismo e na Idade Média veio até hoje. Em muitos Estados você tem essa visão bastante deturpada do povo como aquele que deve receber ordens e não tem dignidade. Isso quer dizer o seguinte: laicismo significa exatamente o sinônimo de democracia”, sintetizou Romano. Na ausência da laicidade, poderes “extra povo” dominam a cena política.

Para o professor, existem formas avançadas de laicismo, como nos Estados Unidos. Lá, igreja e Estado estão explicitamente separados, embora tenham ocorrido tentativas, sobretudo nos governos Bush, de “misturar as águas”. Roberto Romano ressaltou que um Estado laico absoluto será sempre difícil porque há uma permeabilidade das religiões na vida social e, por consequência, na estrutura do Estado. “Os religiosos elegem seus representantes no Executivo e no Legislativo e, portanto, procuram influenciar a vida política e estatal para as suas visões”, disse o filósofo. Roberto Romano ressaltou que a igreja católica, desde o século 19, se apresenta como uma conquistadora das massas:
“Esse evento do Rio de Janeiro não é diferente: é colocar a massa na rua para mostrar que a superioridade da igreja é inconteste em relação do Estado. É bom lembrar que no século 19 a igreja tomou o costume de dedicar países inteiros ao Sagrado Coração de Jesus, em expiação e reconhecimento da sua soberania eclesiástica. O Sacre Coeur de Paris é uma consagração da França pelos pecados da Comuna de Paris e da Revolução Francesa. O Equador foi consagrado ao Sagrado Coração de Jesus e o Cristo Redentor nada mais é do que isso. Se você olhar lá tem o Sagrado Coração de Jesus”, citou Romano.

As massas tomam a rua

Na avaliação de Dines, os feriados determinados pela prefeitura do Rio de Janeiro em razão da Jornada Mundial da Juventude acabam sendo um privilégio para a igreja católica. Daniel Aarão ressaltou que durante a instalação da República algumas lideranças, animadas pelos propósitos positivistas, idealizaram uma República laica, mas as tradições se mostraram mais fortes e acabaram predominando. A igreja católica continuou influindo através de canais e ramificações e condicionando o Estado na sua atuação. “Nesse megaevento do Rio de Janeiro eu acredito que seja prudente decretar o feriado porque os transportes da cidade não têm condições de [operar] em situação normal”, avaliou Aarão. O historiador ressaltou que em outros feriados católicos, como o de Nossa Senhora Aparecida, os não crentes e os ateus são obrigados a respeitar a data.

Daniel Aarão vê com naturalidade os movimentos de massa das igrejas, mas observou que as confissões não podem transformar os eventos um fator para colonizar o Estado: “O princípio da laicidade do Estado, ao contrário do que muitos religiosos entendem, não é um princípio antirreligioso. É um princípio a-religioso. Ele quer fazer da religião um assunto da esfera privada de cada um. Cada um pode ter a sua crença, pode sse manifestar na rua, em casa, onde quiser. O problema é manter o Estado neutro em relação às diversas confissões religiosas e também em relação àqueles que não têm religião nenhuma”. 

O deputado Jean Wyllys destacou que, em todo o mundo, Estados colocaram o preceito da laicidade nas suas Constituições para poder impedir as guerras religiosas e dar alguma neutralidade ao Estado frente às diferentes crenças. De fato, a única Constituição radicalmente laica do Brasil foi a de 1891, após a proclamação da República. “É a única que não faz qualquer referência a Deus. De lá para cá a igreja católica renovou seus signos de influenciar o Estado e a palavra Deus voltou ao preâmbulo e a outras partes da Constituição. No Brasil, não só a igreja católica tenta solapar essa laicidade que implicaria uma neutralidade do Estado frente às crenças mas, recentemente, dos anos 1980 para cá, as igrejas neopentecostais vem renovando os seus meios de influenciar o Estado e de orientar as políticas públicas”, criticou o deputado.

Um Estado, muitas religiões

Na opinião de Wyllys, em um país com uma formação multicultural e plurirreligiosa como o Brasil, é inconcebível deixar que correntes religiosas majoritárias influenciem o Estado e suas políticas. Por outro lado, não se pode negar a tradição dos santos católicos no cotidiano: “Não quer dizer que no feriado de Nossa Senhora Aparecida todas as pessoas se dirijam à basílica. Muito pelo contrário, elas vão para o futebol, para a praia, elas aproveitam o feriado”. Para o deputado, não é possível separar toda a identidade e a cultura brasileira da influência das religiões, mas é preciso perseguir a laicidade em nome do Direito de crer e de não crer dos indivíduos. Formado dentro dos preceitos do catolicismo e admirador da arte sacra, o deputado diz que muito dos seus valores vêm do cristianismo.

Dines ponderou que existe uma inegável herança da religião na cultura brasileira, mas que as confissões devem se afastar do Estado. Um dos exemplos desta proximidade é a presença do deputado Marcos Feliciano à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Impregnado de doutrinas religiosas radicais, o pastor enfrentou forte oposição e, no entanto, permanece no cargo. Para o deputado Jean Wyllys, o fato é inaceitável: “Eu acho inadmissível tanto que a igreja católica tente influenciar as políticas de Estado quanto os neopentecostais, sobretudo os fundamentalistas religiosos como o deputado-pastor Marcos Feliciano, [queiram fazê-lo] sem considerar, por exemplo, o conhecimento, os saberes dos povos, a própria ciência moderna. Ele desconsidera tudo isso para fazer uma interpretação literal da Bíblia e tentar, a partir dela, legislar para um povo que é plurirreligioso”, sublinhou o deputado.

Jean Wyllys lembrou que, interessados na capacidade de transformar fiéis em eleitores, diversos partidos convidaram pastores carismáticos para fazer parte de seus quadros e ressaltou que a consequência disso para a laicidade do Estado é grave. “Esses pastores tomaram gosto pela política e começaram a desenvolver uma fantasia totalitarista de que vão transformar o Brasil em uma teocracia cristã. Isso é apavorante. Não é uma teoria da conspiração minha. Eu tenho visto isso todos os dias nos discursos feitos aqui”, disse o deputado. Para ele, a bancada neopentecostal fere os princípios da Constituição ao trabalhar contra a promoção do bem de todos, sem discriminação.

“Há deputados que subiram na tribuna da Câmara para dedicar o mandato a Jesus, por incrível que pareça, e para dizer que ele vai conduzir o mandato de acordo com o que está na Bíblia. Eu não tenho nada contra a Bíblia, pelo contrário, é um livro maravilhoso do ponto de vista literário e histórico, mas ele fundamenta a crença de um grupo de pessoas. Pode ser o grupo majoritário, mas ainda é de um grupo de pessoas”, afirmou o deputado. Para ele, é preciso defender as minorias das paixões das maiorias.
 
 
Os púlpitos eletrônicos

Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 694, exibido em 23/7/2013

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Esta edição foi gravada para ser exibida num dos feriados decretados pela prefeitura do Rio de Janeiro, para facilitar a mobilidade das legiões de jovens peregrinos de todas as partes do mundo que se reúnem no Rio na 28º Jornada Mundial da Juventude que, como sempre, será assistida pelo sumo pontífice.

É a primeira viagem ao exterior do primeiro papa nascido nas Américas, o jesuíta argentino Francisco, eleito em março deste ano. As emocionadas homenagens e as devoções produzidas por um evento religioso dessa dimensão constituem uma oportunidade para mostrar ao mundo um Rio de Janeiro diferente daquele que aparece durante o carnaval.

É também uma oportunidade para voltarmos a examinar, com a merecida seriedade, a questão do Estado secular e laico, previsto em nossa Constituição, e continuamente atravessado pela transformação da nossa mídia eletrônica em púlpito religioso pelas confissões majoritárias: católicos e evangélicos.

A nossa insistência justifica-se duplamente: se o Estado democrático de direito é por obrigação isonômico, as concessões e a programação das emissoras de rádio e televisão devem obedecer aos mesmos critérios igualitários em matéria religiosa.

Não é o que acontece. Além disso, qualquer fissura no edifício republicano – por mais insignificante que seja – tenderá a ser continuamente ampliada.

É um risco que não vale a pena correr, sobretudo em momentos tão tensos como os que estamos vivendo.

Para avaliar e refletir sobre uma questão tão delicada e transcendental, contamos com a colaboração do deputado federal Jean Wyllys, do filósofo Roberto Romano e, aqui ao meu lado, do historiador Daniel Aarão Reis.
 
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Roque


Correio Braziliense, 28/07/2013


 A aposta no Papa
Roberto Romano

Diz a lenda que Zeus, irritado com Prometeu, mandou  uma caixa aos homens. Ela encerrava regalos que escondiam desgraças e sofrimentos. No fundo veio a esperança, o ataque mais pérfido dos seres divinos.  No caso dos sucessivos pontificados, a esperança trouxe amargas surpresas. Os católicos do século 19 queriam modernizar a Igreja, adaptando-a à democracia representativa. Eles sofreram uma derrota tremenda. Quem analisa o livro escrito por Döllinger, traduzido por Rui Barbosa, “O papa e o Concílio”, aquilata o quanto se perdeu na luta dos liberais contra o Vaticano. Sem eles, o catolicismo germânico foi dominado pelos conservadores. Teria sido mais difícil desarmar a sociedade se, em vez do Centro reacionário, as massas católicas fossem lideradas pela formação liberal. Com a ausência da última, a Concordata de Império entre Hitler e o Vaticano permitiu liberdade maior ao nazismo. Quem duvida, leia o artigo 32 da Concordata (20 de julho, 1933) onde se determina o esvaziamento partidário católico em troca da “proteção” do pessoal eclesiástico pelos asseclas de Hitler.  

Grandes esperanças foram depositadas em Eugênio Pacelli. Embora a história de sua atividade ainda seja controversa, podemos dizer que os anseios dos que não desejavam o totalitarismo e queriam apoio da Santa Sé foram desatendidos. Morto Pio 12, todos esperavam um papa de transição. João 23, conservador em matéria religiosa, não prometia modificações eclesiásticas e sociais. Foram surpresas no mundo, socialista e capitalista, as medidas anunciadas pelo ancião. Ele convoca o Concilio Vaticano 2, um abalo revolucionário em todos os aspectos da vida eclesial e redige duas Encíclicas inovadoras (a Mater et Magistra e a Pacem in Terris), se aproxima dos judeus, incentiva mudanças nunca imaginadas no universo católico. Sem as encíclicas mencionadas, jamais viria à luz o grande documento da Igreja no século 20, a “Populorum Progresio” de Paulo 6,  acoimada como “marxismo requentado” pelo Wall Street Journal.

Morto Paulo 6, as esperanças se voltam ao “papa sorriso”, João Paulo 1, o breve. A eleição de João Paulo 2 trouxe muitas esperanças para a Igreja. Mas o seu reinado longo, repressivo, censório, enrigeceu a hierarquia, desvalorizou os fiéis na base eclesiástica, destruiu boa parte das conquistas trazidas pelo Vaticano 2. Na hora em que o polonês sobe ao trono, a teologia da libertação conhece o  auge nas Américas. A Igreja hierárquica, que abençoara as ditaduras sul americanas, enfrenta setores amplos do clero e dos leigos que ansiam pela democracia. No caso brasileiro, em tempo não muito distante, além de arregimentar massas contra o governo Goulart, a CNBB desejou, em documento oficial, “leal colaboração”com os ditadores e reconheceu a legitimidade “do novo regime institucionalizado em dezembro último”. Sim, leitor, falamos do Ato Institucional número 5 que permitiu dizimar opositores com torturas, exílios, ameaças de pena de morte. Alguns integrantes do episcopado, minoria combativa liderada por Evaristo Arns, Claudio Hummes, Helder Câmara, Tomás Balduíno, Pedro Casaldaliga, sofriam para manter a dignidade eclesiástica. A maioria dos hierarcas preferiu a “leal colaboração”com o regime tirânico.

As bases da Igreja ensaiavam os passos da liberdade e os líderes entoavam o cântico do servilismo, e assim teve inicio o reinado de João Paulo 2. Naquele momento publiquei o livro “Brasil, Igreja contra Estado”. Nele, mostrava que as esperanças dos progressistas no ocupante da Santa Sé eram infundadas. Recebi críticas virulentas e, depois, um silêncio nada obsequioso dos interessados. Estes acreditavam, acríticamente, que a própria Igreja se tornava socialista. A ilusão foi desfeita pelo papa que ajudou a desmantelar a URSS. No Brasil e na América do Sul ele censurou teólogos e filósofos, puniu e fechou seminários, retirou poderes dos bispos que dele discordavam. É o que ocorreu na diocese de São Paulo, esquartejada para diminuir a força de Dom Arns. No mesmo tempo em que dizimava a teologia da libertação e seus militantes, o papa dava as mãos para Ronald Reagan, abraçava Augusto Pinochet, calava diante da repressão no continente. Ruiram as esperanças no socialismo eclesiástico.

É de se esperar que a prudência aconselhe os responsáveis pela militância progressista católica a não apostar imoderadamente alto no atual pontífice. Sua simpatia e carisma, seu programa de luta pelos pobres e pela justiça, sua ampla cultura teológica e humanística, seu passado jesuítico, tudo indica para um grande pontificado.  Mas nada sabemos, por exemplo, sobre como serão as relações da Santa Sé com países como a Venezuela, a Argentina, o Equador, o Brasil. É naqueles Estados que se concentra a possível renascença da teologia da libertação. Também nada sabemos da forma diplomática a ser dada aos tratos do Vaticano no Oriente Médio (além das notícias que vazam sobre o tema), na África e na Ásia.

Se João 23 e o Concílio foram comparados à Revolução francêsa (símile muito usado no século anterior) e se João Paulo 2 representa o Termidor, é cedo para dizer qual diretriz maior terá o pontificado de Francisco. Antes de festejar uma ruptura revolucionária, vale a pena seguir os passos do Vaticano sob sua tutela. Numa instituição complexa e planetária, o entusiasmo no dirigente deve ser contido. Sinais, em qualquer plano, devem ser testados antes de expostos como certezas. Na caixa de Pandora, a esperança irrefletida é sempre o mais cruel dos castigos.

domingo, 28 de julho de 2013

Roque


Roque


Marta Bellini. Certa feita François Mauriac, ácido católico sem papas na lingua, encontrou numa festa um escritor carola, que lucrava muito com livrinhos piedosos. Mauriac viu que dama estava usando o mais fino vison. Não se conteve: passou a mão sobre a pele rica e, suavemente "murmurou"(bem alto...) : "doce Jesus"...É mesmo, doce Jesus...

domingo, 28 de julho de 2013

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Jacob Barata Filho é proprietário de local onde seria rezada missa pelo Papa no Rio


Um dos maiores empresários de ônibus da cidade, Jacob Barata Filho é também um dos donos do terreno em Guaratiba, o Loteamento Vila Mar, onde seria rezada, pelo Papa Francisco, a missa que encerraria a Jornada Mundial da Juventude.

A área de dois milhões de metros quadrados foi cedida gratuitamente à organização do evento, mas se beneficiará de obras de terraplanagem e das que estão sendo feitas, pela prefeitura, em seu entorno.





FONTE:http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2013-07-03/informe-do-dia-o-socio-do-terreno-do-papa.html

sexta-feira, 26 de julho de 2013

De um amigo, muito estimado, vem o texto abaixo


......Dilma Rousseff resolveu pegar carona na conquista da Libertadores pelo Atlético Mineiro. E enviou ao time campeão a seguinte mensagem:
 
“O Brasil acordou alvinegro com o título do meu querido Clube Atlético Mineiro de campeão da Taça Libertadores. Aprendi a gostar de futebol indo, ainda criança, ao estádio do Mineirão assistir aos jogos do Atlético. Parabéns aos jogadores, à comissão técnica e a nossa torcida, que conquistou a admiração de todos os brasileiros. Parabéns não apenas pela vitória. Parabéns por, mesmo diante de um resultado adverso, não desistirem, não esmorecerem e, por isso mesmo, se superarem”.
...................
Quem faz o diabo para levar vantagem em tudo decerto acha que mentir é pecado venial. Ou nem isso.........a presidente jura que aprendeu a gostar de futebol “indo, ainda criança, ao estádio do Mineirão assistir aos jogos do Atlético”. Esqueceu de combinar com o calendário gregoriano.
 
Nascida em dezembro de 1947, Dilma estava a dois meses dos 18 anos quando o Mineirão foi inaugurado em setembro de 1965. Deixara de ser criança fazia tempo. E nunca foi vista vibrando nas arquibancadas do Independência, o estádio do Atlético. Desde os 16 passava os domingos não em campos de futebol, mas enfurnada nas reuniões da turma decidida a trocar a ditadura militar pela ditadura comunista.
 
Dilma Rousseff nunca se emocionou com o preto e branco. Sempre deu preferência ao vermelho.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Roque




Correio Braziliense, entrevista Frei Betto, Roberto Romano e outros analistas.

 Senado Federal - Portal de Notícias.
Data: 23/07/2013 Fonte: Correio Braziliense - 6
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A primeira prova de fogo

FRANCISCO NO BRASIL
 
Segundo especialistas, líder religioso tem a chance de ampliar a agenda católica de justiça social com o cenário de insatisfações dos brasileiros diante das condições de vida nas cidades 

JOÃO VALADARES
A onda de insatisfação que tomou conta das ruas do Brasil em junho será aproveitada pelo papa Francisco para consolidar a imagem de um líder conciliador e, sobretudo, atento aos problemas do povo. O terreno é pantanoso, mas, na avaliação de cientistas políticos, religiosos e teólogos ouvidos pelo Correio, é a oportunidade ideal para o pontífice fortalecer mundialmente a nova agenda da Igreja Católica, pautada nas ações do papa João XXIII, que priorizam os mais pobres e o compromisso cristão com a justiça social.

O escritor e religioso Frei Betto, adepto da Teologia da Libertação, disse não ter dúvidas de que, no domingo, quando deixar o Brasil, o papa vai sair bem maior. “É impossível ele sair diminuído. Ele veio ao encontro das manifestações dos jovens e essa imagem será consolidada. Ele sinaliza para uma Igreja Católica bem mais perto dos pobres. Já chegou enorme ao Brasil, abraçando o povo e com o vidro do Fiatzinho aberto”, ressaltou. Frei Betto acredita que, durante a passagem do líder religioso pelo país, setores conservadores da Igreja Católica podem se sentir pouco à vontade. “Ele quer uma Igreja mais aberta e pode causar alguns constrangimentos”, declarou.

O professor de ética e filosofia da Universidade de Campinas (Unicamp) Roberto Romano diz que a visita é um teste importante para o Santo Padre, uma verdadeira prova de fogo. “Ele chegou num momento de crise generalizada. Aqui, você não sabe quem manda e quem obedece. Temos um Poder Executivo que está legislando, um Congresso que boicota a presidente e um Judiciário em tensão permanente com os outros poderes”, pondera.

Romano acredita que o líder da Igreja Católica vai usar a turbulência das ruas para ir de encontro às massas. “Todo papa procura um modelo de atuação. No caso do papa Francisco, ele explicitamente colocou  João XXIII como o modelo a ser seguido. A visão que ele tem de autoridade é oposta a de João Paulo II. O papa já sinalizou no sentido de quebrar a estrutura burocrática e abrir os diálogos”, ressalta. O professor acredita no poder diplomático da religião católica. “Ele está fazendo um imenso trabalho de diplomacia maior do que boa parte dos esforços da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil é uma prova de que de fato ele tem condições de liderança mundial. É fundamental. O papa Francisco tem o reconhecimento das grandes massas. Se for necessária uma espécie de chamada para essas massas, ele terá sucesso”, avalia.

A experiência do pontífice como cardeal-presbítero de Buenos Aires, capital da Argentina, país onde crises políticas são recorrentes, é ressaltada como um ponto positivo para a leitura da situação brasileira. “Ele não saiu do mosteiro direto para o Vaticano. Conhece bem crises políticas violentas. O pontífice considera que a elite governante brasileira é profundamente egoísta. Antes de chegar ao Brasil, já anunciou o espetáculo”, afirma Romano. Por isso, na visão do professor, é improvável que a visita seja negativa para o Vaticano. “Não vejo possibilidade de ele sair diminuído ou menor. Ele tem saberes e conhecimento. Agora, temos que olhar o lado brasileiro. Até que ponto os nossos governantes estarão à altura dessa visita?”, questiona.

O professor de interpretação bíblica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Frei Isidoro Mazzarolo, salientou que o clima de revolta popular no Brasil servirá como caldo para engrossar o sentimento de uma Igreja que aponta para uma dimensão bem menos conservadora. “As manifestações sociais e até uma turbulência social na qual o Brasil viveu antes da visita representam um momento propício para o papa enfatizar a insatisfação social como um direito do povo. As reivindicações são motivos para o pontífice tornar o seu desejo de enfatizar as questões sócio-políticas como uma dimensão do Evangelho.”


Vivência

O religioso também ressalta a experiência latino-americana de Francisco. “Este fato vai marcar sem dúvida a posição dele como alguém que conhece essa dimensão de uma igreja que sofre não só pela corrupção política dos países, mas por um contexto de opressão internacional que o terceiro mundo sofre em relação ao países desenvolvidos”, defende.

A professora de sociologia da religião da Universidade de New Hampshire of the Holy Cross (EUA) Michelle Dillon ressalta que o papa precisa contagiar os bispos com o mesmo espírito. “A ênfase de Francisco na preocupação com os pobres e com as igualdades econômica e social pode encorajar alguns jovens a participar ativamente na igreja. Mas, para isso acontecer, a ênfase na justiça social não deve ser apenas mencionada em discursos pontuais, mas ser sustentada tanto pelo papa quanto pelos bispos locais e nacionais”, afirma.

Francisco é o primeiro papa nascido no continente americano e o primeiro não europeu. Ele tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 1998 e cardeal-presbítero em 2001. Colaborou Étore Medeiros.

Órgãos relacionados:

  • Congresso Nacional

Quando muito se fala e se briga ao redor dos médicos e da medicina, vale a pena ler o que diz o Open Secret sobre as maneiras de fazer lobby da indústria farmacêutica. Se lá é assim, aqui....

OpenSecrets Blog

Big Pharma Shrinks Peddling of Big Influence


In the first quarter of 2013, the pharmaceuticals and health products industry spent more than $66.5 million on lobbying -- more than any other industry, according to OpenSecrets.org data.

But Big Pharma's lobbying efforts in the second quarter were significantly smaller; at least two companies spent less than half what they paid out from January through March.

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Second quarter lobbying reports from each one of the 10 companies that spent the most in the first three months of the year all show decreases in lobbying spending.

The Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, a trade group representing drug companies, spent $5.3 million lobbying in the first quarter. But that dipped in the second quarter to $4.4 million. 
Lobbying was also down for Merck & Co., which spent the second largest amount on lobbying early in the year, $4.19 million. Merck's spending plunged to just $900,000 for April through June, less than one-fourth of its previous level.

Novartis, which placed third in lobbying spending in the first quarter, spent slightly more than Merck this time around. But its $1.1 million devoted to lobbying is nowhere near the more than $3.24 million the group spent in the first quarter. 

The other top lobbying spenders in the pharmaceutical and health product industry last quarter -- Pfizer, Eli Lilly & Co., Sanofi, Amgen, Biotechnology Industry Organization, Bayer, and AstraZeneca -- all spent less in the second quarter. 

The companies share many policy concerns, according to their lobbying reports.

All except Amgen and Bayer lobbied on various issues involving Part D of Medicare, the outpatient prescription drug subsidy plan for Medicare recipients. 

In addition, many companies lobbied on the 340B Drug Discount Program, which requires drug manufacturers to sell prescription drugs at a decreased cost to safety net healthcare providers. 

The implementation of the Affordable Care Act (ACA) was commonly lobbied by these groups as well. In 2009, the year the ACA was being debated, the pharmaceutical and health product industry spent more than $271 million on lobbying. 

Big Pharma was still the top industry when it came to lobbying spending in 2012, but the industry has shrunk its spending for that activity ever since, as the second quarter reports show.

Image: Pill image via BigStockPhoto.com.

Roque


Jornal da CBN, 24/07/2013, 07: 56, Roberto Romano entrevistado por Milton Jung

 

Jornal da CBN

Segunda a sexta, 6h a 9h30 / Sábado e domingo, 6h a 9h
Quarta, 24/07/2013, 07:56

Ainda é cedo para decretar o fim da importância da Igreja Católica

Entrevista com Roberto Romano, filósofo e professor da Unicamp.

Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn/JORNAL-DA-CBN.htm#ixzz2ZxnYL0bb

terça-feira, 23 de julho de 2013

O Globo 23/07/2013

Roberto Romano é professor de Ética da Unicamp

Igreja: erros e acertos são atribuídos ao Pontífice

Analistas deixam de sublinhar o peso das grandes matrizes éticas. É verdade que as doutrinas expostas pelas grandes religiões se emaranham com alvos geopolíticos, econômicos e bélicos. Assistimos o recrudescimento das lutas civis e de tensões entre países.

A imprensa expõe o uso da força contra os direitos humanos em prol de governos. Escravidão, tortura, exílios, formam a pauta que leva multidões às praças e ruas. Os fatos são terríveis, e pouco notado é o esforço de autoridades religiosas e civis para atenuar a barbárie.

A Igreja Católica, a primeira instituição planetária da história, carrega em si as tensas realidades dos povos. Pioneira no uso da burocracia para administrar milhões de fiéis, ela forjou uma força diplomática eficaz que ajudou a diminuir a taxa de loucura nos fatos políticos, guerreiros, econômicos. O pontificado existe para dirimir polêmicas no corpo eclesiástico e para o representar diante das sociedades e poderes laicos. Quase sempre os erros e acertos da Igreja são atribuídos ao Pontífice. As contradições católicas sob regimes totalitários se concentram em Pio XII, cuja biografia é marcada pelo debate sobre a colaboração com os governos de Hitler e de Mussolini, ou pela ajuda às vítimas do antissemitismo. Décadas após sua morte, historiadores procuram textos e gestos num sentido ou noutro durante o seu pontificado.

Eugênio Pacelli recolhe juízos negativos sobre a forma de reger a Igreja. João XXIII tem a simpatia universal. As encíclicas “Mater et Magistra” e “Pacem in Terris” são consideradas civilizatórias. Existe o intermédio em tais apreciações. Paulo VI foi chamado “Papa hamletiano”. Se abriu trilhas para a defesa da justiça social e da paz, ele deixou a encíclica “Humani Generis”, na qual não apenas condena os métodos contraceptivos como reforça o controle dos fiéis pela hierarquia, o que abriu a estrada para o pontificado de João Paulo II. Aquele pontífice recebeu aplausos por sua estratégia na derrocada final da URSS, mas recebeu críticas pelo acolhimento dado a mestres da tirania como Augusto Pinochet. Vale a pena reler a excelente análise de Carl Bernstein e Marco Politi (“Sua Santidade”).

“A Igreja é mesmo divina. Caso oposto, os homens já a teriam destruído”. O dito de um agnóstico do século XIX é válido. A instituição teve dirigentes como Julio II, homem de guerra, mas que ajudou as artes e a ciência. Ela também contou com Alexandre VI, o simoníaco que a jogou no lodaçal. Devem ser recordados Leão XIII e outros que trouxeram coisas novas ao arcaico edifício religioso. Desafia, pois, esperar o contorno que Francisco dará ao pontificado. Na Argentina os sinais de sua ação foram equívocos. Existem dúvidas sobre sua atividade no período mais negro daquele país, a última ditadura. Por outro lado, com base no saber de sua ordem, a jesuíta, ele move uma política de aproximação com os injustiçados, os banidos do mundo econômico e político, os sem esperança. Sua visita ao Brasil, no intervalo de manifestações populares contra os governos que muito propagam mas pouco fazem em prol do bem comum, é das mais benéficas. Esperemos que ele conduza uma Igreja comprometida com a justiça e a amizade entre os povos. Pelo que vimos, Francisco suscita anseios de paz e caridade, algo que o aproxima bastante de João XXIII, o Papa bom.

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Roque



Thiago Coser

domingo, 21 de julho de 2013

Globo News Painel, O Diferente no Papa Francisco é sua personalidade. O programa recebeu Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp; José Oscar Beozzo, historiador e diretor do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular; e Afonso Soares, cientista da religião da PUC-SP.


Rádio CBN, transmite o Globo News Painel desta semana, sobre a visita do Papa Francisco

Domingo, 21/07/2013, 06:14

Vinda de papa Francisco ao Brasil não é uma viagem qualquer

O programa recebeu Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp; José Oscar Beozzo, historiador e diretor do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular; e Afonso Soares, cientista da religião da PUC-SP.