quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

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Nome e Sobrenome

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Por Monica Baumgarten de Bolle - 19 de dezembro de 2012 12:31
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(Publicado no O Globo a Mais de 18/12/2012)
As autoridades brasileiras dizem que o pibinho resultou da crise internacional. Os economistas brasileiros, fartos dos sofismas das autoridades, das declarações cavilosas cujo principal propósito é desorientar os incautos utilizando a lógica ardilosa, afirmam o contrário. Basta ver como evoluiu o crescimento no Chile, na Colômbia, no Peru, para desmentir a tese de que as dificuldades que enfrentamos são culpa dos outros, e não de nossa própria autoria. Em parte, esses economistas estão certos. Contudo, nós temos, sim, uma crise internacional para chamar de nossa, para acalentar, por assim dizer. Ela tem nome e sobrenome, como me disse um amigo. Cristina Kirchner, eis a denominação da criatura.
A estratégia adotada pelo Brasil nos últimos anos, desde o primeiro mandato do Presidente Lula, tem sido de se aproximar e de estreitar os laços econômicos e ideológicos com o nosso vizinho turbulento. Enquanto nos tornávamos cada vez mais próximos da tragicômica Argentina, Chile, Colômbia e Peru faziam exatamente o contrário. Afinal, quem queria ser associado a um regime populista, desnorteado, desrespeitoso com a propriedade alheia, deslavadamente mentiroso com as suas próprias estatísticas? O semanário britânico The Economist – aquele que saiu da lista dos “favoritos” das autoridades brasileiras – vilipendiou o país de Cristina Kitsch de forma brilhante ao intitular a matéria em que diziam que não mais publicariam os números de inflação do país “Don’t lie to me Argentina” (“Não minta para mim Argentina”), numa alusão à canção deEvita.
São tantas as peripécias recentes de Cristina que é difícil enumerá-las. Há a perseguição à imprensa livre, a expropriação da empresa YPF da petrolífera Repsol, as investidas contras as consultorias do país, que, sabendo que os índices de inflação e outros indicadores econômicos são escancaradamente manipulados, elaboravam os seus próprios números. Há o protecionismo desenfreado, as proibições às saídas de dólares, agora que a economia começa a dar sinais de esgotamento, de que não resiste à tamanha violência. Isso para não falar do recente julgamento da corte de Nova Iorque a favor dos credores que não participaram da reestruturação da dívida finda em 2005, afirmando que eles têm o direito a receber a parte que lhes cabe do governo argentino. A saga rendeu um fato recente inusitado: a apreensão de um navio argentino, o Libertad– nome de deliciosa ironia – em Gana, na África, como garantia de pagamento aos detentores de títulos de um dos fundos que compraram a dívida do país.
Há, enfim, um clima de faroeste portenho de causar inveja a qualquer déspota desordeiro wannabe, aqueles que têm como mote “mudar tudo isso que está aí”.
O Brasil se aproximou da Argentina, os outros dela se afastaram. O comércio entre Chile e Argentina equivale a somente 1,5% das exportações chilenas, apesar de os dois serem vizinhos, com uma imensa fronteira em comum. Peru e Colômbia exportam, cada um, cerca de 0,4% do total de produtos vendidos no exterior para o país de Cristina. Já o Brasil exporta cerca de 10% do que produz para os hermanos ehermanas. A participação dos produtos manufaturados brasileiros neste percentual – bens duráveis como geladeiras, fogões, máquinas de lavar e automóveis, além de calçados, têxteis e produtos cosméticos – é considerável.
Tudo ia bem até que o Brasil começou a acumular superávits comerciais sucessivos com a Argentina. O desagrado portenho aumentou, os casos de contenção de exportações brasileiras na fronteira se proliferaram a ponto de o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel, afirmar, no início de 2012, que a Argentina se tornara um “problema permanente”. Ao longo dos últimos anos, todo tipo de artimanha para prejudicar a entrada de produtos brasileiros em território argentino foi usado – a Afib, a receita federal argentina, apertou o cerco burocrático, exigindo uma documentação kafkiana para os exportadores brasileiros; além disso, os prazos máximos de detenção alfandegária estabelecidos pela Organização Mundial do Comércio foram deslavadamente descumpridos, levando a espera para a liberação de produtos a superar 180 dias. Diversas medidas “não tarifárias” e inamistosas foram usadas. O resultado foi uma queda expressiva das importações argentinas. E, por conseguinte, das exportações brasileiras. Sobretudo de produtos industriais.
E agora? Se a indústria brasileira sofre em razão de problemas domésticos, mas também em função das estripulias do vizinho, não seria a hora de pôr fim às travessuras de Cristina? Não deveria a nossa Presidente, tão inflexível e rigorosa na defesa dos interesses nacionais, enquadrar Cristina Kirchner, em vez de se deixar fotografar afagando e brindando com a portenha?
Ou será que Dilma se assusta diante da farta cabeleira avermelhada, das sobrancelhas arqueadas e dos olhos arregalados e ensimesmados de sua contraparte? Será?