quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Jornal da Unicamp.

Campinas, 06 de agosto de 2012 a 12 de agosto de 2012 – ANO 2012 – Nº 534

Do lodo,
roseiras em flor

Estudo comprova que alternativa
é ambientalmente segura
e economicamente viável

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O lodo proveniente de lagoas facultativas de estação de tratamento de esgoto se mostrou um eficiente substituto ao adubo químico na plantação de roseiras. O lodo contém matéria orgânica e nutriente ricos para o solo e a sua reciclagem traz benefícios valiosos para o meio ambiente. Estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo (FEC) pelo tecnólogo em saneamento ambiental Jorge Luiz da Paixão Filho revela que a alternativa é ambientalmente segura e economicamente viável, pois traz vantagens para o produtor de flores, que poderia minimizar o impacto ambiental dos fertilizantes químicos. Já para as estações de tratamento, seria uma proposta de destinação correta do resíduo. Com tudo isso, a pesquisa de mestrado, orientada pelo professor Adriano Luiz Tonetti, reúne vários argumentos favoráveis à utilização do lodo de esgoto na agricultura.
É importante lembrar, na opinião de Jorge Paixão, que grande parte dos municípios brasileiros realiza o tratamento do esgoto pelo processo de lagoas e a remoção do lodo deve ser frequente para melhorar a eficiência do tratamento. “Felizmente, cada vez mais aumenta o número de estações de tratamento de esgoto. A opção por lagoas é usada desde a década de 1980 por ser a mais simples para os pequenos municípios com grandes áreas. Há alguns anos não se acreditava que o lodo acumulado pudesse reduzir a eficiência do processo. Mas, recentemente, a remoção do resíduo tem sido necessária”, destaca o tecnólogo. A questão, no entanto, consiste em como e para onde levar o lodo de esgoto. Os custos com transporte são muito elevados e a sua disposição no meio ambiente deve ser criteriosa, preferencialmente em aterros sanitários, se transformando, desta forma, em um problema ambiental sério. “Por isso, a opção de utilizá-lo nas plantações de rosas resolveria as duas questões principais”, argumenta.
A pesquisa realizada na FEC não é a primeira a demonstrar o potencial do lodo para utilização em plantações de culturas não comestíveis. Mas foi a primeira vez que o resíduo foi aplicado em um canteiro de rosas, mercado expressivo no Estado de São Paulo. Ele explica que a opção pela roseira deve-se ao fato de que este tipo de plantio necessitar de elevado volume de fertilizante químico, pois requer muitos nutrientes para se desenvolver de forma saudável. Vale destacar que o lodo possui naturalmente matéria orgânica, nitrogênio, fósforo e potássio, estes dois últimos em menores concentrações.
Os testes realizados com o lodo indicaram um crescimento adequado da planta. Nas avaliações de lixiviação de nitrato – indicador do quanto de nitrogênio na forma de nitrato é perdido para abaixo da zona de absorção das raízes da planta–, por exemplo, os testes mostraram que o tratamento com lodo alcançou a porcentagem de 5%, enquanto que a adubação mineral foi 10%. “Isto quer dizer que a adubação com lodo teve uma menor lixiviação de nitrato quando comparada com a adubação mineral e, por isso, menor probabilidade de contaminação da água subterrânea e, consequentemente, menor impacto ambiental”, esclarece.
O lodo utilizado na pesquisa foi proveniente da lagoa facultativa da cidade de Coronel Macedo, no Estado de São Paulo. Uma vez classificado como tipo A – que pode ser utilizado para outros fins por não possuir metais pesados e contaminantes –, foi realizada a sua aplicação em vasos para facilitar as análises do tamanho das folhas, da massa seca das raízes e da parte aérea. Foi avaliado, ainda, o volume das raízes.
O estudo traz ainda os cálculos para a fração de mineralização do lodo de lagoa, um parâmetro importante para o cálculo do volume do lodo a ser aplicado na agricultura, e que ainda não havia sido estudado. “Deve ser a dose correta para que não sofra com nutrientes a mais ou de menos. Estes testes foram importantes para que o produtor consiga determinar a necessidade da sua plantação”, explica. A variedade utilizada na pesquisa foi a rosa “carola”, que possui um alto grau de resistência à contaminação, além de ser a preferida do consumidor. 

Publicação

Dissertação: “Aplicação de lodo de lagoa facultativa em roseira”
Autor: Jorge Luiz da Paixão Filho
Orientador: Adriano Luiz Tonetti 
Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)
Financiamento: Capes