terça-feira, 24 de abril de 2012

Estado. Eis os frutos da "flexibilização"do mercado financeiro, no mundo todo. E por aqui, os falastrões que proclamam "marolinhas"logo terão algo para prender a lingua. Infelizmente para o povo.

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Holandeses vendem sobras de comida para driblar crise

Cada vez mais, população na Holanda recorre à criatividade para pagar as contas.

24 de abril de 2012 | 9h 42
 
Anna Holligan, da BBC
 
 
 


AMSTERDÃ - Durante o auge da crise financeira internacional, a Holanda parecia estar lidando relativamente bem com as ondas de problemas econômicos.

Mas, agora, depois da queda do governo do primeiro-ministro Mark Rutte por discordâncias sobre cortes no orçamento, os sinais dos efeitos da crise ficam cada vez mais claros no país. 

Muitos holandeses vêm usando soluções criativas para driblar a crise, como vender o que sobra da comida feita em casa ou frequentar bares onde se pode levar a própria refeição. 

Outros recorrem a doações de alimentos. Fome não é um conceito geralmente associado a países ricos europeus, mas a economia holandesa está em recessão e o índice de desemprego chegou a 6%, o índice mais alto em seis anos. 

Uma em cada seis famílias tem dificuldades em pagar a conta do supermercado. 

Em Amsterdã, uma das soluções é se juntar às filas em frente a um dos cinco "bancos de alimentos" da cidade, onde voluntários organizam doações para quem precisa. 

"Recebemos cerca de 1,3 mil famílias por semana aqui. A demanda vinha crescendo já havia algum tempo, mas agora vemos um aumento mais acentuado", disse à BBC Piet van Diepen, do Banco de Alimentos de Amsterdã. 

"Estamos vendo os efeitos da crise. Essas pessoas estão sem emprego, têm pouco dinheiro e muitas dívidas. O governo está diminuindo os benefícios também, então as pessoas precisam vir aqui", diz ele, acrescentando que, hoje, 60 mil pessoas em toda a Holanda dependem dessas doações. 

Uma das primeiras da fila é Petra, que diz que os 40 euros (R$ 100) por semana que recebe do governo não são suficientes para alimentar a família. Segundo ela, sem as doações, ela seria forçada a roubar. 

"Há muita pobreza na Holanda, mas ela está escondida, ninguém sabe."


Microondas no bar 


Não muito longe dali, o badalado Basis Bar está lotado de pessoas determinadas a não deixar a crise atrapalhar sua vida social. No bar, os clientes trazem sua própria comida, que é aquecida pelos funcionários de graça. Só é preciso pagar pelas bebidas. 

"É muito caro sair e comer fora, mas aqui é ótimo porque você não precisa gastar muito. Essa salada custa cinco euros (R$ 12) do outro lado da rua, mas em um restaurante normal, seria algo entre 10 e 15 euros (R$ 25 e R$ 37)", diz Sophie, que além da salada, levou também uma pizza de muçarela e rúcula, que está no microondas do Basis Bar. 

O dono do Basis (que quer dizer Básico, em holandês) diz que não pensou em se beneficiar da crise quando criou o local, mas admite que vem notando um aumento no movimento recentemente. 

"Temos pessoas que trazem sopa de casa. Basta colocar umas baguetes no forno e você pode ter uma noite agradável sem gastar muito", diz Michiel Zwart. 

E os funcionários ainda lavam sua louça e reciclam as embalagens. 

Culinária contra a crise
Do outro lado da cidade, Denise Dulcic, de 32 anos, nem cogita a possibilidade de comer fora.
Quando o governo cortou os gastos com educação para crianças com necessidades especiais, ela perdeu seu emprego como psicóloga infantil e ainda não conseguiu achar outro trabalho na área.
"Agora, cozinho para sobreviver. Eu tenho qualificações, mas não há mais empregos", diz ela, que decidiu fazer parte de um programa chamado "Mesa para Dois", em que as pessoas preparam sua própria comida e vendem as sobras. 

Além disso, ela criou um negócio que combina culinária e terapia. 

"É difícil conseguir pagar meu aluguel, que é muito alto. Cozinhar é minha paixão, mas eu estou fazendo isso porque é a única maneira de sobreviver." 

Com os políticos holandeses em uma difícil negociação para cortar mais 9 bilhões de euros (R$ 22 bilhões) do orçamento, cada vez mais pessoas no país vão ter de lutar para evitar ter suas vidas completamente transformadas pela crise. 

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