quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre banqueiros e golpes de Estado.

Em todos os golpes de Estado modernos, há uma presença constante, a dos banqueiros. Foi assim desde o século XVI, passando pelo absolutismo e chegando ao 18 Brumário de Bonaparte. Depois de garantir o golpe do sobrinho, “o Pequeno”, eles seguiram no século XX com o suporte dado a Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet e a turba de ditadores ordinários e sanguinários. O Brasil entra na mesma história, com bancos que patrioticamente ajudaram a instalar e a manter uma ditadura civil-militar que ainda hoje impede a nossa passagem ao Estado democrático (por exemplo, com a colusão de petistas e Sarney, mestre e servo do regime ditatorial). O mensalão tem muito a mostrar sobre os banqueiros unidos aos “companheiros”. Sim, os bancos têm muito a explicar na história moderna e não apenas sobre as fraudes e golpes cometidos nos EUA (desde longa data e não só em 2008) e na Europa.

Vejam um trecho do livro escrito por Jacques-Olivier Boudon, Histoire du Consulat et de l ‘Empire (Paris, Perrin, 2003), sobre os preparativos para o golpe que instituiu a tirania napoleônica:

“Apoios políticos não faltaram a Bonaparte nas vésperas do 18 Brumário. E também os apoios financeiros e militares. Os intrigantes precisam de dinheiro para vencer em seu empreendimento, mesmo que fosse para comprar certas consciências, recompensar as tropas mobilizadas ou simplesmente pagar a impressão dos cartazes e proclamações editadas naqueles dias. A realidade de semelhantes apoios financeiros ainda é difícil de estabelecer, mas é possível notar, claramente, que certos banqueiros e negociantes deram sua contribuição à trama conspiratória. Collot, fornecedor dos exércitos, em relações com Bonaparte desde a campanha da Itália, lhe teria adiantado quinhentos mil francos, Michel le Jeune, igualmente fornecedor dos exércitos, lhe teria adiantado dois, depois seis milhões. Outros financistas contribuíram e podemos pensar que a criação, alguns meses depois do golpe de Estado, da sociedade dita dos Vinte Negociantes reunidos, talvez mesmo o nascimento do Banco da França, também constituem um meio de recompensar os meios das finanças que tinham se mostrado generosos nas vésperas do 18 Brumário e que, sobretudo, tinha prometido seu apoio ao golpe de Estado. O banqueiro Ouvrard, amigo de Barras, se reuniu com Bonaparte dois dias antes do golpe, mas sem que o último solicitasse diretamente. Contudo, na manhã do 18 Brumário, quando Ouvrard compreende que o golpe está em marcha, ao ver passar Bonaparte e sua tropa sob suas janelas, ele oferece seu apoio financeiro ao general”, (páginas 38-39).