terça-feira, 30 de agosto de 2011

No Blog abordagem policial.


Ninguém razoavelmente afeito à democracia defenderia a intervenção governamental nos órgãos de imprensa, instituição que é uma via de fuga ao conformismo, tendo o papel de denunciar desmandos, questionar ações e omissões que prejudicam o bem estar da coletividade. A imprensa serve também para simplesmente informar, deixando o cidadão a par da realidade – que vai desde a programação do cinema até uma catástrofe natural. Nestes papéis, exige-se sempre que a imprensa seja “imparcial”, que não se posicione a favor ou contra determinado grupo da sociedade, principalmente grupos políticos-partidários. Um ideal bem distante de ser alcançado.

Se a imprensa deixa de cumprir o papel de cobrança e demonstração da realidade, deixa também de possuir legitimidade na exigência de liberdade, e dá vazão aos ensaios de patrulhamento que vez ou outra ocorrem, principalmente por parte de quem quer abafados abusos cometidos. Mas existem outras modalidades de cerceamento do poder de denúncia e transparência da imprensa, que é a compra corrupta de tendências nas matérias ou a compra de órgãos de imprensa por parte de empresários e autoridades que visam antecipadamente propagar seus projetos de poder.

O Ministério das Comunicações brasileiro acaba de prestar um grande serviço aos defensores da probidade na imprensa, divulgando uma lista dos sócios e dirigentes das televisões e rádios brasileiras, que logo de cara traz 56 deputados e senadores como sócios ou parentes de sócios de órgãos de imprensa:

Classificado de “caixa-preta”, o cadastro dos donos de rádios e TV no país – onde estão os nomes de 56 deputados e senadores que são sócios ou têm parentes no controle de emissoras – passará a ser divulgado em caráter definitivo pelo Ministério das Comunicações.

O cadastro traz um mapa das 291 TVs, 3.205 rádios e 6.186 retransmissoras comerciais existentes no Brasil.

Clique para ver a lista…

Em março, a Folha publicou uma matéria relevante sobre o mecanismo de uso de “laranjas” por políticos para a compra de concessões de rádios e TV’s. É interessante observar os nomes das listas e ver quem são os “donos” da imprensa brasileira. Muitos nomes célebres da política nacional são signatários de órgãos de imprensa, que certamente têm sua imparcialidade significativamente comprometida por isso.

Não é à tôa que temos órgãos de imprensa cada vez menos ativos em causas coletivas de modo responsável e aprofundado. Geralmente, as tevês, rádios e jornais têm partido político e candidato definidos, e fazem a defesa dos seus interesses de modo velado, manipulador e perverso, sob a presunção da “imparcialidade”. Neste ambiente, o que há de novo é a descentralização proporcionada pela internet, que autorizou qualquer cidadão a dizer o que pensa e vê sem precisar de uma megaestrutura de mídia.

Hoje, a voz dos indivíduos reunidos pode até fazer frente ao uníssono daqueles que ocupam o palanque. Quem não quiser ficar a mercê do microfone dos outros, que se manifeste através do grito da própria voz.