sexta-feira, 29 de julho de 2011

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Roberto Romano integra comitê para comemoração dos 300 anos de Diderot

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Everaldo Luís Silva

O filósofo Roberto Romano: “É muito importante revisar os pesandores das luzes, que pregavam a tolerância”

[29/7/2011] Os franceses preparam uma série de atividades científicas e culturais para o longo de 2013, quando se comemora o tricentenário do nascimento de Denis Diderot, considerado um dos grandes pensadores do Século das Luzes. A iniciativa da revista Recherches sur Diderot et l 'Encyclopédie está mobilizando a comunidade científica e principalmente de Langres, cidade natal do filósofo e escritor (1713-1784). Roberto Romano, professor titular de Ética e Filosofia Política da Unicamp, é o único brasileiro a integrar o Comitê Científico constituído para ter dimensão internacional.

“Um evento desta magnitude é muito simbólico, por lembrar a herança das luzes neste momento em que vemos o renascimento de ideologias terroristas, antidemocráticas e racistas na França e na Europa inteira – o caso da Noruega é típico – e o antissemitismo, que agora se manifesta particularmente contra os árabes, o Islã, mas havendo ainda muita violência contra os judeus. Por isso, é importantíssimo revisitar os pensadores que pregavam justamente a tolerância. Há uma frase de Diderot que acho fantástica: ‘Não se deve usar Deus como um punhal’”, lembra Roberto Romano.

Na opinião do docente da Unicamp, Diderot foi um dos instauradores da perspectiva moderna de pensamento político, um republicano já com tendências democráticas num período em que a tendência era de manter a monarquia. “Ele é uma figura mestra do pensamento das luzes do século XVIII, ao lado de outras figuras como Voltaire e Rousseau, e está sendo cada vez mais estudado por causa da sua pluralidade de interesses: sem ser um especialista, dedicava-se a estética, política, direito, física, matemática –existem trabalhos mostrando que sua capacidade matemática era quase similar à de D’Alembert, o grande matemático da Enciclopédia”.

Retrato de Denis Diderot pintado por Louis-Michel van Loo em 1767Romano se refere à obra prima de Denis Diderot, Encyclopédie, em parceria com o matemático e físico Jean D’Alembert, em que reuniu todo o conhecimento produzido pela humanidade até a sua época, demorando 21 anos para editar os 28 volumes. “Ele criou um núcleo de expansão do saber internacional, que teve muita importância na proposta de atualização da ciência, da universidade. A Enciclopédia, sobretudo, é uma espécie de retomada da obra maior de Francis Bacon, Instauratio magna [Grande restauração]”.

Além de conduzir e orientar pesquisas sobre o pensador francês, Roberto Romano escreveu Silêncio e Ruído – A Sátira em Denis Diderot (Editora da Unicamp, 1997), que republicou em francês e disponibilizou na internet. “Mandei cópias do livro para a Biblioteca Nacional da França e para institutos de pesquisa sobre Diderot em Paris, Londres e Estados Unidos. Os organizadores da comemoração dos trezentos anos leram e consideraram meu trabalho propício para o evento”.

Os organizadores também ficaram sabendo que o docente da Unicamp e o professor Jacó Guinsburg, diretor-presidente da Editora Perspectiva, estão editando a obra praticamente completa de Diderot em português – trabalho iniciado há dez anos e com previsão de término em 2014. “Estamos organizando volumes por obras políticas, estéticas, romances, textos da Enciclopédia. Há um texto onde Diderot defende ideias bastante democratizantes para a universidade, como por exemplo, que a universidade pública é lugar dos pobres, e não dos ricos, até por questão de probabilidade: diz ele que é mais fácil encontrar gênios em choupanas do que em palácios”.

Vem à mente de Roberto Romano, ainda, a tese de doutorado que Maria Laura Guimarães Gomes defendeu na Faculdade de Educação da Unicamp (o professor participou da banca), intitulada Quatro visões iluministas sobre a educação matemática – Diderot, D’Alembert, Condillac e Condorcet. Analisando várias obras desses pensadores, a autora da tese constata que, além de conferirem à matemática um lugar privilegiado entre os conhecimentos humanos, eles enfatizaram que o acesso a essa ciência era possível a todos.

Mais informações sobre os preparativos para os 300 anos de Diderot na França estão no site, que pertence a um grupo de professores universitários e pesquisadores que coordenam projetos científicos sobre o pensador.