domingo, 22 de maio de 2011

Diário de Pernambuco (Recife), 22/05/2011.

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Entrevista >> Roberto Romano
Recife, domingo, 22 de maio de 2011

"Eles não são masoquistas"


Autor de sete livros, a exemplo do Caldeirão de Medéia, o professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, não acredita que a reforma política passe no Congresso Nacional sem haver pressão da sociedade. Especialista em ética na política, Romano também defende outros mecanismos para se evitar a corrupção e o caixa 2, algo que, segundo ele, deve passar longe do voto em lista fechada.

O senhor acha que a lista fechada evita o caixa 2 e a corrupção?

A Reforma Política sem uma democratização dos partidos leva a um procedimento enganoso. O problema não é a lista fechada ou aberta. O problema é que a lista é produzida pelos donos dos partidos. E cada um quer discutir os seus interesses. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, propôs que a prioridade da lista fosse dada aos que já têm mandatos. Isso beneficia, sobretudo, os donos dos partidos, que vão privilegiar os seus. A lista fechada só piora a situação de caixa 2 e a corrupção. Por quê? Porque, para escolher os candidatos, haverá uma imposição da cúpula dos partidos, que tem diversos interesses. Os candidatos serão indicados verticalmente e isso aumenta a corrupção.

E quais são os caminhos para se melhorar a transparência dos partidos?

Se você tivesse no Brasil eleições primárias, como acontecem nos Estados Unidos, a situação melhoraria bastante, porque haveria mais participação e fiscalização dos eleitores. Você vê que a cúpula do Partido Democrata nos Estados Unidos escolheu Hillary Clinton como candidata à presidência, mas a base escolheu Barack Obama. Outra coisa, ninguém deveria poder ficar numa direção partidária por mais de quatro anos, porque essa pessoa passa a controlar tudo… São coisas desse tipo, pequenas, que podem melhorar a transparência. Sou a favor, por exemplo, do projeto de lei que normatiza o lobby, que foi apresentado pela primeira vez pelo ex-senador Marco Maciel (DEM). Se você tem o lobby normatizado, você sabe oficialmente a pessoa que vai trabalhar em busca de recursos. Isso diminui a promiscuidade.


Os partidos têm dificuldade de ouvir as bases. O PT, por exemplo, fazia um processo de escuta grande, mas parece que nem o PT está fazendo mais isso…Existe uma oligarquização dos partidos de uma maneira geral. O PMDB, por exemplo, é um conjunto de oligarquias. O PT era o único partido que fazia consulta as bases, mas já há uma oligarquia do PT que controla a outra. O caso do ministro (da Casa Civil) Antônio Palocci é um exemplo. Hoje, existe o PT do Acre, o PT de São Paulo, o PT de Pernambuco…O PT de São Paulo é a maior das oligarquias


O senhor acha que, com tanta polêmica, os deputados e senadores vão cortar na própria pele?
Não, eles não são masoquistas. Eles gostam de cortar a nossa pele, não a deles. No Brasil, os grandes mitos são feitos para se enganar os trouxas. E a reforma está se tornando cada vez mais uma fábula para adormecer as consciências. A solução para que aconteça é a cidadania, a pressão popular. Nós conquistamos muito com o Ficha Limpa para se ter uma ideia. A cidadania é a saída, porque o que está acontecendo com os partidos políticos no Brasil é muito sério.