domingo, 27 de março de 2011

Mensagem e reflexão de Hiro Kumazaka. Um brilhante descendente de japoneses.



Prezado Professor,


Acompanho, por leitura diária, o seu blog. Sempre há ali sobre o que se pensar e, não raro, de estarrecer. Sim, mais uma vez, a cobertura da imprensa expõe o que há de pior na condição humana. Repare a busca por cenas de desespero, de choro, de derrota. Em sua falta, chegaram a dar capa ao choro de um bebê... Não se respeita o sofrimento do outro nem por um terremoto, um tsunami e o risco de um acidente atômico de inimagináveis proporções. Agora, somos espancados com a folclorização do que denominam de caráter japonês. No fundo, é como se dissessem: não sentem como nós. O programa Saia Justa, ao qual o senhor se refere hoje, foi, desculpe-me a expressão, abjeto.

Meus familiares tiveram de abandonar suas casas, suas coisinhas, suas histórias. Afinal, moravam a 20 km do complexo atômico de Fukushima. Os de Tóquio, com os quais tenho mantido contato, dizem: estamos bem, as perdas foram materiais, obrigado por se preocupar conosco. Engana-se quem pensar estarem eles deixando de, a seu modo, expressar sofrimento quase insuportável. São gratos pela solidariedade. Mal sabem eles que uma jornalista do Brasil manifestara num programa de TV o desejo de uma explosão muitas vezes superior às que ocorreram por lá em 1945. O terrível, sabemos, é que ela apenas vocalizou o que passava, e passa, pela cabeça de muitos de seus colegas em todo o mundo.


De tudo o que se tem publicado, sobre o Japão e sobre a Líbia, o senhor é o único que se preocupou em sublinhar o elemento mórbido por trás do que parece simples informação. Ou sob os traços luminosos na Líbia não se dá a destruição que ontem ocorreu no Líbano?


Este é, portanto, para agradecer-lhe de todo o coração. Seguem, anexas, duas imagens: uma contendo pedido de oração e, outra, de florada de cerejeiras. Que a florada deste ano (no Japão, em abril) sirva de estímulo para a reconstrução. O belo, dom de Deus, preencha as nossas vidas do vazio deixado pela feiúra. E não me refiro a terremoto, tsunami ou acidente nuclear.
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Abraço,

Hiro Kumasaka