domingo, 10 de outubro de 2010

Um artigo e algumas perguntas.

!) Por que o articulista deixou a assessoria ao santo governo do presidente Luis Inácio da Silva?

2) Pesquisas de opinião constituem os novos Evangelhos?

3) Existiu, ou não, processo corruptor no governo santo?

4) A consciência de cada um é segredo, só Deus pode ter acesso a ela. Mas quando alguém diz algo em público, a sua consciência vem à tona por um ato livre. Caso o dito não corresponda ao pensado, ocorre algo bem conhecido das mentes cristãs : trata-se de farisaísmo ou hipocrisia. A candidata defendeu ou não a discriminalização do aborto? Se defendeu, era seu direito e ninguém pode dizer que ela não o tem. Se não defendeu, deixou de dizer sua verdade de consciência ao declarar, por várias vezes, que o defendia.

5) De qualquer modo, o eleitor foi desrespeitado.

6) Considero um atraso institucional pautar uma eleição importante pela agenda dos ortodoxos desta ou daquela crença religiosa. FHC perdeu a prefeitura de São Paulo por tal motivo.

7) Quanto às calúnias, boatarias, e quejandos, basta entrar nos sites petistas para ver que alí os ataques não são nada evangélicos. Alí, reina o "quem não está comigo, é contra mim". Só que o PT e seus candidatos não são Deus (ainda não foi declarada a divindade de Lula, mas só por enquanto). Talvez, se as pesquisas oráculo chegarem aos 100% de popularidade do soberano, ele seja proclamado Deus, e sua candidata a profetiza maior. Até lá, a fábrica de boatos opera em todos os partidos, do governo e da oposição. É infelizmente o modus operandi da política mundial e brasileira. Na Inglaterra existe a profissão, não regulamentada claro, de Spin Doctor. O Pt possui em seus quadros inúmeros desses honoráveis diplomados em boataria. Basta recordar os supostos planos de privatização absoluta, usados e abusados na última campanha contra os tucanos. Basta recordar o "já ganhou" que espalhava aos quatro ventos, no primeiro turno, que a candidata oficial teria mais de 70% dos votos válidos. E com ajuda de institutos de "pesquisa"...

8) Mas é singular que o articulista passe atestado de bons antecedentes religiosos para a candidata. Na hora do segundo turno. O reforço talvez seja bem vindo. Mas à custa de rebaixar, ainda mais, as questões da fé ao político. Tarefa digna de Carl Schmitt.

9) Mesmo que a candidata oficial fosse católica de sacristia, nada impediria que ela cometesse erros. Ninguém possui assistência direta do Espírito Santo, salvo o Papa.

10) Do artigo, deduzo que a LEC está viva e operante, só que na margem do poder, supostamente de esquerda (as "elites" econômicas, financeiras, e até os socialites, não constituem propriamente o proletariado mundial e brasileiro).

11) E assim continua sua labuta a ex-querda.

RR



São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010



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TENDÊNCIAS/DEBATES

Dilma e a fé cristã

FREI BETTO


Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã



Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia". Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória -diria, terrorista- acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.

Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho. É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam. Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente. Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.