sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Globo. O "empresário" é da pá virada. A prudência manda tomar cuidado com as suas "denúncias".


Sob ameaça

Empresário Rubnei Quícoli ameaçou assessor de Erenice Guerra

Publicada em 16/09/2010 às 23h37m

Fábio Fabrini e Roberto Maltchik

BRASÍLIA - Com o contrato apresentado pela empresa Capital em mãos, o empresário Rubnei Quícoli passou a ameaçar Vinícius de Oliveira Castro, então assessor de Erenice Guerra na Casa Civil, e seus parceiros de lobby para tentar viabilizar o empréstimo no BNDES. Embora só tenha denunciado o suposto tráfico de influência na reta final das eleições, numa sucessão de e-mails enviados ao ex-assessor e outros interlocutores, entre janeiro e fevereiro, o empresário deixa claro que o escândalo era um barril de pólvora prestes a se incendiar.

(Entenda o escândalo na Casa Civil)

O GLOBO teve acesso nesta quinta-feira a uma série dessas mensagens repassadas por Quícoli. Em 2 de janeiro, dois meses após ser recebido na Casa Civil, sem uma resposta positiva, Quícoli avisa a Vinícius e aos donos da empresa que tinha encontro marcado com jornalistas e "Serra" (ele não deixa claro se está se referindo ao tucano José Serra). Informa que adiou a reunião "para ver a postura que a Casa Civil irá tomar".

É o começo da intensa pressão exercida por e-mail. Além de Vinícius, ele se comunica com Luiz Carlos Ourofino, que também participaria das negociações. Em várias mensagens, o empresário explica que discorda da comissão de R$ 240 mil, supostamente exigida pela Capital para azeitar o financiamento. E fixa o dia 2 de fevereiro para que Vinícius e seus companheiros obtenham sucesso junto ao BNDES. Em alguns e-mails, o empresário cita até familiares do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, na trama supostamente montada com integrantes da Casa Civil para garantir que a EDRB fosse contemplada com empréstimo de R$ 9 bilhões para criar uma central de energia solar no Nordeste.

Numa das mensagens para Ourofino, em 28 de janeiro, ele afirma: "Derrubo o Coutinho e muita gente ao redor dessa Casa Civil e BNDES". E completa: "Cabeças irão rolar... isso eu GARANTIUUUU (sic)." A ameaça seria concretizada caso Vinícius e M.A. (iniciais de Marco Antonio, então diretor dos Correios) não dessem demonstrações claras de seu engajamento no projeto de energia. No mesmo texto, ele adverte: "Não tenho nada a perder... boca para falar, eu tenho, e muito (sic) saliva".

Nos e-mails, Quícoli se refere a Vinícius como "advogado da Dilma" e se diz vítima de 171 (estelionato). Promete que, em caso de recuo nas pretensões de construir a central elétrica, faria estardalhaço nos jornais.

A quatro dias de seu prazo fatal, Quícoli informa a Vinícius que não pode "ficar dando explicações e fazendo reuniões com os oportunistas de plantão, querendo saber de quanto e como irão levar se houver o aporte beneficiado pela empresa".

Os dias se passam, e os lobistas com acesso à Casa Civil, segundo o relato de Quícoli, não cooperam. Em 1º de fevereiro, às 7h08m, ele marca a hora em e-mail a Vinícius: "Mantenho minha palavra até as 18h de hoje, amanhã é outro dia". No mesmo dia, à noite, volta a pressionar, de forma ainda mais incisiva. "A partir de amanhã, não me falem mais sobre BNDES, usina solar e tão pouco (sic) o PT e o que nele contém". Chama os integrantes do grupo de "bandidos" e cita um dos filhos de Coutinho, sem mencionar o nome: "Não permito que um MOLEQUE me ofende (sic) por ser filho do presidente do BNDES. Deveria tomar cuidado na maneira de proceder".

Coutinho disse nesta quinta-feira que as denúncias são "graves e mentirosas". Sustentou que as acusações "não têm pé nem cabeça" e informou que entrará com processo e pedido de indenização contra Quícoli. O presidente do BNDES tem dois filhos: um é professor da USP, e o outro, publicitário. Segundo o BNDES, nenhum trabalha com consultoria ou tem relação com o banco.