segunda-feira, 26 de julho de 2010

Neste ponto, apoio o governo Lula!

Das poucas iniciativas do governo atual que merecem todo meu aplauso e apoio. Uma sociedade deformada pela tortura (desde o início, pois os índios se revoltaram contra ela, os negros resistiram mas foram submetidos pela força bruta e do lucro) e pelo domínio despótico (o macho que bate na mulher e nos filhos, não raro os levando à morte), cujos resultados as pesquisas e o trabalho do Ministério Público denunciam evidenciam o quanto existe de covardia disfarçada de rigor "educacional", semelhante "sociedade", como sempre repito, tem uma das éticas mais hediondas do planeta. Tem razão o presidente, quando alerta para o fato de que ninguém que usa "apenas" palmadas se limita a elas. Os índios consideram covardia bater em crianças. Os gregos tinham uma lei, a lei da Hybris, que considerava sem honra os que espancavam crianças, velhos, mulheres. A nossa "civilização cristã" aceitou a tortura contra os hereges, as bruxas e os que supostamente ameaçavam a Igreja e o Estado. Esta é a mancha mais negra na face a Esposa de Cristo, mancha indelével que se tornou mais persistente com as bençãos de padres e bispos às violências contra escravos. Todas estas taras integram a nossa cultura, a nossa ética apodrecida. Em país onde indios na rua são queimados por adolescentes de classe média, que ficam impunes e onde moradores de rua (ah, os eufemismos canalhas!) são mortos pelos mesmos grupos de classe média fascista e pelas "forças da ordem" reunidas em milícias de extermínio (sempre o Esquadrão da Morte), em país em que mulheres e homossexuais são assassinados friamente, industrialmente, em país onde capangas matam políticos incomodos (o caso de Toninho, de Campinas —antes, Toninho do PT— e de Celso Daniel são claros) e onde a Morte ronda em cada esquina com sua procissão de covardias e dores, é fundamental proibir palmadinhas ou palmadonas. É louvável atenuar, digo atenuar porque a covardia integra a natureza do bicho humano, a força bruta e o despotismo. Não significa transformar as crianças em tiranas, como aliás é o hábito de setores de classe média que preferem pagar propinas e mesadas aos filhos, em vez de enfrentá-los no debate e no bom exemplo. Não se trata de leniência. Na verdade, a lei em questão apenas continua, em outro âmbito, a ainda não aplicada integralmente Lei Maria da Penha. RR

PS: Quanto à pesquisa Datafolha, lembro sempre que científico é o método, não seu objeto, a opinião. Esta última é o que existe de mais fluído e mutável no universo. E além de tudo: se perguntassem para os alemães, italianos, russos, etc. o que achavam que deveria ser feito em termos sociais em seus países, eles aprovariam as políticas de genocídio praticadas pelos seus líderes e donos. Como desconfio de pesquisas que indicam a "popularidade" e desconfio dos plebiscitos em geral (sigo o enunciado de Diógenes : "quando digo algo e a multidão aplaude, tenho certeza de ter falado tolice") sigo a trilha de defender os direitos humanos. E o principal direito humano, de crianças e adultos, é o de possuir um corpo incólume. E um espírito idem.

RR



Maioria já deu, levou e é contra proibir palmadas A maioria dos brasileiros já apanhou dos pais, já bateu nos filhos e é contra o projeto de lei do governo federal que proíbe palmadas, beliscões e castigos físicos em crianças, conforme pesquisa feita pelo Datafolha, publicada nesta segunda-feira (26) pela
Folha



Lula defende projeto contra palmadas e diz que "beliscão dói pra cacete"
Projeto deve proibir que pais usem "palmadas" para castigar filhos
Você concorda com a proibição de palmadas em crianças?

Enviada ao Congresso no começo deste mês, a proposta "estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradante".

Disseram ser contra o projeto de lei do presidente Lula 54% dos 10.905 entrevistados, enquanto 36% revelaram concordar com a mudança. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Segundo o levantamento, meninos costumam apanhar mais, e as mães (69%) batem mais do que os pais (44%). No total, 72% disseram ter sofrido castigo físico -- 16% afirmaram que isso acontecia sempre.