terça-feira, 18 de maio de 2010

As várias verdades e uma mentira - Coluna Carlos Brickmann

Brickmann & Associados Comunicação - B&A - 18/05/2010 - www.brickmann.com.br




As várias verdades e uma mentira - Coluna Carlos Brickmann

Coluna de quarta-feira, 19 de maio

Houve um acordo entre o Brasil, a Turquia e o Irã, é verdade; o acordo é positivo, um passo no caminho correto, é verdade. Boa parte do estoque de urânio do Irã, 1.200 quilos, deve ser encaminhado à Turquia, é verdade; e, é verdade, trocado em um ano por 120 quilos de urânio enriquecido na Rússia.

Mas também é verdade que, segundo disse o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Irã continuará enriquecendo urânio em seu território. Também é verdade que o acordo não obriga o Irã a permitir as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica previstas no Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares - inspeções que até agora o Irã se negou a permitir. Ou seja, estamos enxugando gelo: uma parte do urânio tem seu destino conhecido, outra parte continua clandestina, sendo clandestinamente enriquecida, sabe-se lá para quê.

Imaginemos uma situação semelhante. Digamos que as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (que, segundo a diplomacia brasileira, devem ser vistas como "força combatente", e não como traficantes de drogas), proponham um acordo ao Governo colombiano: em troca da suspensão das ações militares governamentais, entregam uma parte de seu estoque de armas a um país neutro, que ficará responsável por sua guarda. Mas mantêm parte de suas armas, sabe-se lá quanto, e continuam com o direito de comprar mais armas. Funciona?

Lula conseguiu, é verdade, realizar uma ação diplomática que parece espetacular. Mas a história principal, de que não haverá bomba iraniana, essa é mentira.

O general que não se lembra

A entrevista do general Maynard Santa Rosa à Folha é terrível: famoso por ter-se oposto, em nome da segurança nacional, à criação de uma reserva indígena contínua na Raposa - Serra do Sol, preferiu usar o espaço que teve para negar o passado (íntegra da entrevista para assinantes). O general disse, entre outras bobagens sobre a ditadura militar, que:

1 - "Nenhum militar torturou ninguém. Se houve, foi no Dops" [Departamento de Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia].

Este colunista teve um parente assassinado sob tortura por militares. O presidente Ernesto Geisel demitiu o comandante do 2º Exército, general Ednardo d’Ávila Mello, após mortes por tortura. Por que o general-presidente demitiu o comandante do 2º Exército se não havia militares envolvidos na tortura?

2 - "Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair".

Todos conhecem ex-torturados cubanos, russos, chineses - menos o general Maynard. Alexander Soljenitsin é um deles; Anatoly Scharanski é outro; Armando Valladares, mais um. Se o general quiser mais nomes, é só olhar no Google.

3 - "A imprensa, por exemplo, foi amplamente livre".

Este colunista foi um dos que tiveram matérias censuradas. Houve época em que o Jornal da Tarde não podia publicar o nome "Leonardo". Era o nome de um dos censores, que temia ser vítima de alguma piada que passasse batida por ele. O Governo queria prender o repórter Fernando Morais por ter ido a Cuba, antes mesmo que tivesse escrito qualquer linha de A Ilha.

4 - "Sinceramente, não sei de nenhum caso [de tortura a moças grávidas]. O que existe é produto de imaginação".

Converse com a jornalista Rose Nogueira, general. Ela sabe, ela foi vítima. Se o sr. não conseguir encontrá-la, este colunista o levará até ela.

É triste. Por que esconder os fatos, tantos anos depois de ocorridos? E o general que não se lembra deve criticar o presidente Lula por dizer que não sabia.

O trovador

Está no twitter do próprio José Serra: em sua visita ao Crato, no Ceará, aproveitou para cantar, de Luiz Gonzaga, "Último Pau de Arara". O senador Tasso Jereissati, do PSDB cearense, também cantou.

Será que não bastam os problemas que a população local já enfrenta?

Quem sou eu?

Dilma tentou ser Norma Bengell, Lula diz que Dilma é Mandela, o marqueteiro quer transformar Dilma em Dilminha Paz e Amor, a chefia da campanha quer transformar Dilma em Lula. O problema é que Dilma é Dilma.

Minha mãimãi

De Marta Suplicy, candidata petista ao Senado por São Paulo, indignada com os ataques pessoais na Internet (isso foi antes de acusar Fernando Gabeira de ter sido escalado para matar o embaixador americano):

"Meu filho chegou e disse: Mamãe, é verdade que a Dilma seqüestrou pessoas e assaltou banco? Eu falei: Mas de onde você tirou isso?

"Uai, tá na Internet. O tempo inteiro na Internet…"

Marta tem três filhos. O mais novo com 37 anos.