sexta-feira, 16 de abril de 2010

Paulo Araújo, a "depromacia", o Irã e quejandos.

A diplomacia brasileira já mostrou-se no passado bem mais hábil e inteligente quando reivindicou a posição brasileira na mediação de uma antigo conflito nuclear, que em alguns elementos lembram os de hoje como Irã. Seria melhor que os nossos atuais diplomatas deixassem de lado a bravataria lulesca e estudassem mais a história da época em que o Itamaraty não envergonhava o Barão de Rio Branco.

Um pouco da história da diplomacia dos “vira-latas”. E também uma pista que parece indicar que Obama, ao aceitar a oferta de ajuda brasileira (em se tratando dos aitolás da Pérsia, toda ajuda é bem-vinda) está adaptando a estratégia de Clinton no atual enfrentamento com o Irã.

O Brasil já ocupou em situação semelhante a posição de mediador em conflitos regionais nucleares.

Vamos recordar à turma do “nunca antes” que em 1998 o Brasil foi bastante ativo nas tentativas de negociações dos conflitos entre Índia e Paquistão. O protagonismo brasileiro resultou de conversas de FHC com Clinton e do fato do Senado brasileiro na época sinalizar forte e positivamente a aprovação da mensagem presidencial apoiando o TNP, encaminhada ao Congresso em junho de 1997. Lula também nisso poderia imitar o que fez o governo antecessor, sinalizando ao mundo uma posição favorável à assinatura do Protocolo Adicional na ONU, durante a VIII Revisão do TNP de maio próximo.

As análises e as conclusões sobre se as iniciativas brasileiras nessas negociações foram ou não positivas, fica a cargo dos leitores interessados em prosseguir a pesquisa.

Esclarecedora reportagem de Rui Nogueira, na FSP de 10 de junho de 1998.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft10069801.htm

"CORRIDA ARMAMENTISTA. Tratado de 91 com a Argentina será usado para tentar convencer Índia e Paquistão a cessar testes atômicos. Brasil exibe modelo para acordo nuclear"

Na rivalidade nuclear entre indianos e paquistaneses, os países desenvolvidos e com arsenal atômico escolheram o subdesenvolvido Brasil para desempenhar uma dupla função: oferecer o acordo com a vizinha Argentina como modelo para negociar uma solução entre Índia e Paquistão e ASSUMIR PAPEL ATIVO nas negociações internacionais. [...]

O BRASIL GANHOU ESSA PROJEÇÃO POR TER RATIFICADO PRATICAMENTE TODOS OS TRATADOS DE CONTROLE DE PROGRAMAS DE PESQUISA NUCLEAR PARA FINS PACÍFICOS E BÉLICOS.

A proposta de usar o acordo nuclear Brasil-Argentina como modelo de negociação foi feita pela Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), em Brasília, e levada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo norte-americano. OS EUA ENCAMINHARAM A PROPOSTA À AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que reuniu segunda-feira, em Viena, a sua junta de governadores (órgão executivo).

O diretor-geral da AIEA, Mohamed al Baraddai, telefonou ontem para a Cnen e disse que a junta de governadores acatou a proposta brasileira como forma de estimular Índia e Paquistão a negociarem SEM A INTERFERÊNCIA DAS POTÊNCIAS que reclamam dos testes e AMEAÇAM COM SANÇÕES, mas têm armas nucleares - situação classificada pelo governo indiano de "hipócrita". [...]

Foi esse papel de bom moço na questão nuclear, que o Brasil vem desempenhando desde o governo Sarney (85-89), quando começou a ser desmontada a rivalidade nuclear com a Argentina, que levou agora o G-8 (grupo dos sete países mais ricos e Rússia) e a AIEA a empurrar o Itamaraty para o cenário da negociação internacional. Um papel que o governo brasileiro aceita de bom grado. [...]

Até chegar ao TNP, o Brasil assinou o acordo com a Argentina, o Tlatelolco (não-proliferação entre países latino-americanos), o Quatripartite (com a AIEA), o com o chamado "Clube de Londres" (que autoriza o país a ser supridor de materiais nucleares) e o MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis).

A postura contra a pesquisa nuclear para fins bélicos foi reforçada no governo FHC com a decisão de assinar o TNP, o tratado que enfrentava a oposição mais organizada entre setores das Forças Armadas e da diplomacia. Esses setores consideram o TNP discriminatório -não acaba com o arsenal nuclear existente. [GRIFOS MEUS]

Relembrando, por último, o que disseram alguns militares da reserva, todos vinculados ao golpe de 64 e à ditadura e contrários ao TNP, sobre a ratificação do TNP pelos “vira-latas” de 1998.

Antes, porém, um artigo de 2004 para efeito de comparação com uma reportagem da FSP de 1998 e uma declaração de Lula em 2002

Economia & Energia. Ano VIII -No 44: Maio-Junho 2004.

Othon L.P. da Silva. Empresário. Engenheiro Naval, Mecânico e Nuclear. Vice-Almirante da Reserva.