sexta-feira, 26 de março de 2010

Paulo Araújo e uma seleção de besteirol da razão de estado cabocla.

“Rússia e EUA lutarão contra Irã e Coreia do Norte nucleares, diz Hillary

Secretária de Estado diz que países concordam em manter armas atômicas longe de 'mãos erradas'”

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,russia-e-eua-lutarao-contra-ira-e-coreia-do-norte-nucleares--diz-hillary,529566,0.htm

Só que não vi na notícia o Dimitri Medvedev expressar literalmente o seu ‘Yes, we can!”

Chamo atenção para essas outras notícias do site G1

“Lula defende Irã e critica negociações de paz no Oriente Médio”

http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1545407-5601,00.html

Principalmente, para essa notícia do G1

“Lula faz duras críticas às negociações de paz no Oriente Médio”

http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1545404-5601,00.html

Sobretudo, para esta passagem de uma das declarações de Lula:

"Vou lá para dizer ao presidente Ahmadinejad: sou contra você ter armas nucleares, mas sou a favor de você enriquecer urânio como o Brasil enriquece", disse Lula.

O grau de enriquecimento de urânio no Brasil é 4% para as usinas e chegaria a 7% para os futuros reatores dos submarinos.

Pergunto: para que serve urânio enriquecido a 20%, como quer o Irã? Das duas uma. Ou Lula está como de costume falando sobre o que não sabe, ou está dissimulando a intenção de rasgar o TNP, como aliás é o desejo de muita gente graúda no governo. A começar por Samuel Pinheiro Stangelove Guimarães:

“O TNP não é apenas um tratado de não proliferação, é um tratado de desarmamento. As potências nuclearmente armadas se comprometeram a se engajar no desarmamento completo e não o fizeram. Mais do que isso: possivelmente aumentaram o seu potencial de destruição” (Samuel P. Guimarães, FSP, 18/02/10)

A 8ª Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) será em maio deste ano, na sede da ONU e é considerada decisiva. O Brasil aderiu ao TNP com aprovação do Senado (inclusive com as votos favoráveis do PT) em 1998.

Lula concorda com a tese de militares e de diplomatas de que foi um erro assinar o tratado. E não pretende colaborar positivamente para a nova rodada de revisão do TNP. São palavras do então candidato a presidente em 13/09/2002, durante reunião com militares e ex-ministros do regime militar:

"Só teria sentido esse tratado [TNP] se todos os países que já detêm [armas nucleares] abrissem mão das suas. Ora, por que um cidadão pede para eu me desarmar, para ficar com um estilingue, enquanto ele fica com um canhão para cima de mim? Qual a vantagem que levo? O Brasil só vai ser respeitado no mundo quando for forte econômica, tecnológica e militarmente."

Devido a repercussão negativa dessa declaração no debate eleitoral de 2002 (também nos EUA), Lula teve que relativizar suas convicções armamentistas e desdizer em outubro do mesmo ano o que afirmara em setembro.

Recentemente, um amigo enviou-me um link para uma palestra do coordenador do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear (Prosub), almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli.

http://www.naval.com.br/blog/2010/03/04/resumo-da-palestra-do-prosub/

Muito interessante. Recomendo a leitura.

Na verdade trata-se de um resumo da palestra. Foi de onde retirei a informação importante sobre o teor de enriquecimento de urânio no Brasil, conforme o relato do almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli.

Diz o autor do resumo que “foi informado na palestra que as duas atuais usinas civis brasileiras usam urânio enriquecido de 3,2 a 4% e que o reator do submarino atômico brasileiro usará urânio enriquecido a 7% e que deverá ter a necessidade cíclica operacional de ter seus elementos combustíveis nucleares totalmente substituídos de quatro em quatro anos”.

Confronte-se a informação acima (4% para usinas e 7% para reatores) com esta que saiu recentemente

“Irã inicia enriquecimento de urânio a 20%”

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI120975-15227,00.html

Ora, se 4% e 7% de enriquecimento são suficientes para fins de geração de energia em usinas e futuros reatores de submarinos, porque raios é preciso subir o enriquecimento para 20%? Quando se visa fins pacíficos, ou mesmo de produção de reatores submarinos, qual a necessidade de enriquecer o urânio até esse ponto (5 vezes acima do necessário à operação das usinas e quase 3 vezes acima do que é preciso para mover um submarino)? Até quanto é preciso enriquecer minimamente o urânio para efeito de produção de armamento nuclear?

São perguntas que não sei responder. Não tenho os elementos para afirmar ou negar o que quer que se já sobre o assunto. Se alguém souber responder, gostaria de saber.

É importante tomar pé dessa questão técnica do enriquecimento para que possamos estabelecer um referencial bem objetivo sobre o que é energia nuclear para fins pacíficos ou de propulsão de submarinos, diferenciando do que está vinculado ao desenvolvimento (enriquecimento) do uso da energia para fins de obtenção de armas de destruição em massa.