segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Uma conversa "antiga", mas atual. Os militantãs continuam dizendo coisas sobre mim. Tantãns...bem pagos pelos seus donos.

Roberto Romano G1 S
Roberto Romano
31/01/2007



Leia abaixo o chat Roberto Romano na íntegra

Moderador fala para a platéia: Olá boa tarde a todos os internautas! Hoje nosso bate-papo é com o especialista Roberto Romano, professor de filosofia política e ética da Universidade Estadual de Campinas que vai comentar os dados do levantamento exclusivo do G1 e explica os fatores que levam à quantidade de deputados investigados por crimes. Você já pode enviar suas perguntas!

Roberto Romano fala para a platéia: Boa tarde.

Moderador apresenta a mensagem enviada por ricardo: O brasileiro não tem o costume de investigar a vida dos seus candidatos. Por quê?

Roberto Romano responde para ricardo: No Brasil nós temos exatamente o costume oposto. Isto é, uma relação direta entre o candidato e o eleitor. O eleitor quase sempre tem uma adesão ao seu candidato por motivos antigos que são a proteção, o favor, uma série de práticas extremamente ruins e perversas do ponto de vista ético. Por outro lado temos partidos políticos muito fracos que não valorizam o eleitor de base.

Moderador apresenta a mensagem enviada por Marisa: Marisa pergunta para Convidado: A sociedade já perdeu a noção de ética e por isso elege esses deputados?

Roberto Romano responde para Marisa: Olha, na verdade a sociedade tem uma noção de ética. Ela tem uma noção de ética, só que esta, como eu disse é extremamente pervertida por umas relações de dominação social ou de interesse. Nós temos muitos eleitores e cidadãos utilizam deste mecanismo do favor e transferem isso para a relação com os deputados. É o que faz se configurar no horizonte nacional uma ética extremamente complicada. Uma ética da denomição e do favor e não uma ética da cidade e do espírito público.

Moderador apresenta a mensagem enviada por liane: A questão ética não é o primeiro fator levado em conta na hora do voto. O que o cidadão leva mais em consideração nas eleições?

Roberto Romano responde para liane: Esse é um ponto importante. Você tem no Brasil uma centralização excessiva dos poderes no plano federal e com isso também uma centralização dos impostos. Os municípios e os estados precisam de recursos. E com isso da mobilização dos intermediários que são os senadores e deputados federais. Eles cumprem este papel de trazer as verbas. Veja que sempre se elege deputado federal aquele que traz obras para a região. Este é o ponto que deveria ser modificado radicalmente na política brasileira.

Moderador apresenta a mensagem enviada por roberto: O uso intensivo do marketing mudou a dinâmica eleitoral e renegou a questão ética e de princípios para segundo plano?

Roberto Romano responde para roberto: Aqui no Brasil é muito estranho isso. Eu tenho advertido há mais de 20 anos (sou professor de ética e pesquiso esta questão) para que não se utilizasse na vida política esta temática apenas para definir um plano de ataque para os adversários. Existem partidos que passaram um bom tempo dizendo que os outros não eram éticos que eles eram os únicos. Esta atitude fez com que a palavra ética deixasse de significar alguma coisa. É importante retomar o valor da palavra ética e da moral e definir um padrão para sua utilização. Utilizar somente para atacar é uma forma muito pobre de se discutir este assunto.

Moderador apresenta a mensagem enviada por bernardo: Ontem, dia 30/11, César Maia, prefeito do Rio em sua newsletter, escreveu sobre um tema próximo ao nosso de hoje. O texto dizia que transformar o debate político em um debate sobre honestidade, é anti-política. Já que o discurso desqualifica a prática política. O senhor concorda? Como isso pode ser perigoso para a correto exercício da democracia?

Roberto Romano responde para bernardo: É um ponto essencial. Há um jurista importante que discute esta questão e fica muito claro que efetivamente os políticos tem que ter por condição inicial a honestidade. Este é o primeiro ponto.. E como segundo ponto não vale dizer que a política pode se valer de mecanismos diferentes que não a honestidade universal. É bom insistir, a honestidade é um pré-requisito para todos. Mas além dela é necessário também que exista a competência, o espírito público, que exista trabalho coletivo, em fim uma série de elementos que definem a atividade da política.

Moderador apresenta a mensagem enviada por carlos: Quase 15% dos deputados respondem algum processo na Justiça mas ao mesmo é comum que pessoas públicas sejam processadas por outras. Como separar o joio do trigo?

Roberto Romano responde para carlos: É preciso que as denúncias sejam julgadas. Não podemos estabelecer que elas sejam culpadas sem um juízo final. No Brasil temos um costume, devido à lentidão da Justiça, que é o linchamento. O que é muito sério e desmoraliza as campanhas de mudança ética na vida política. É preciso tomar muito cuidado e por outro lado exigir que a justiça seja feita. Então, este é um ponto que parece gravíssimo que é o plenário absolver quem é indicado pelo Conselho de Ética. E mais, além de ignorar, além de disso tivemos uma série de deboches como a dança da deputada ou discursos dos deputados acusados.

Moderador apresenta a mensagem enviada por caroline: Na sua opinião, o que falta para o povo brasileiro exercer melhor a democracia?

Roberto Romano responde para caroline: Temos que aperfeiçoar o exercício dos partidos políticos. Nenhum partido brasileiro tem a saudável prática de ouvir os eleitores em eleições primárias. Nos EUA e na França você tem essas eleições que escolhem os candidatos e os programas dos partidos. O que acontece? Você tem oligarquias partidárias, que controlam a máquina e escolhem os candidatos e indicam para convenções estas pessoas. Não temos o vínculo do militante com a direção do partido. Este me parece um ponto importante. Quando você tem este vínculo há a possibilidade de renovação dos quadros enquanto em nosso sistema temos sempre os mesmos nomes.

Moderador apresenta a mensagem enviada por leticia: A internet pode ser uma ferramenta fundamental na busca de informações sobre os candidatos?

Roberto Romano responde para leticia: A internet é um instrumento fantástico que a modernidade nos trouxe e que permite acompanhar a vida pública tanto de candidatos como de pessoas que exercem o poder. Me parece que salas como esta de bate-papo, os mecanismos de busca, também uma série de documentos postos na internet, inclusive documentos de análise. O problema é que por enquanto não temos uma internet tão democratizada assim. É importante também ter espírito crítico para não comprar gato por lebre. Mas é o grande instrumento de democratização, no meu ver.

Moderador apresenta a mensagem enviada por orlando: Como o senhor vê o papel da imprensa na divulgação de dados sobre os parlamentares investigados?

Roberto Romano responde para orlando: Me parece que imprensa vem cumprindo muito bem o seu papel. Evidente que a imprensa assim como a Câmara dos Deputados, a Igreja, o Exército, é composta por seres humanos. E seres humanos têm interesses econômicos, políticos, ideológicos e religiosos. É impossível que estes interesses sejam extirpados no momento em que o jornalista ou a empresa jornalística está cumprindo o seu papel. Mas por outro lado, é perfeitamente possível controlar estes interesses. E me parece que no caso da imprensa brasileira ela tem procurado manter uma linha de fidelidade e respeito aos fatos.

Moderador apresenta a mensagem enviada por regiane: Há muitos grupos de interesse no Congresso Nacional, cada qual buscando defender seus partidários, como exercer esta prática, comum da política, com o respeito total às leis e aos padrões éticos da sociedade?

Roberto Romano responde para regiane: O primeiro ponto é definir um padrão oficial para o exercício do lobby. Você tem a profissão de lobista. Isso existe nos EUA e outros países. Você tem a profissão de lobista. Fica bem claro que alguém que pertence a algum movimento, como por exemplo, o movimento ambiental e o movimento feminista. Eles têm uma ponta avançada que faz o lobby e, portanto o faz às claras, não é no segredo. O que me parece mais grave é quando você aparentemente não tem nenhuma definição sobre os lobbies e eles muitas vezes estão até ditando aos deputados a forma da Lei. Me parece que a transparência e o controle democrático desta atividade é que vai diminuir um pouco a unilateralidade na distribuição de recursos para este ou aquele interesse.

Moderador apresenta a mensagem enviada por Giselle: o sr. disse eu o uso da palavra ética pelos adversários deixou de significar alguma coisa. Pelo que tenho verificado no cotidiano a ética deixou de fazer parte de uma grande parte da populção.Não estamos pagando o preço do tal "jeitinho brasileiro"?

Roberto Romano responde para Giselle: O jeitinho brasileiro é uma forma de ética. Quando você diz que não há ética, na verdade, é uma outra ética que está funcionando. A ética pode ser dita no sentido negativo ou positivo. Na máfia há ética, nas quadrilhas também. São valores que norteiam a vida naquele grupo. No caso brasileiro temos uma ética profundamente negativa. Veja o caso do trânsito brasileiro. Quando você tem uma faixa de pedestre a ética da maioria dos motoristas é colocar o pé no acelerador e não no freio. O que se passe pela cabeça deste motorista não são os valores da vida humana. Tanto que a ONU não aceita os dados de acidentes de trânsito no Brasil porque ela os considera assassinatos. Então, temos muito mais mortes por acidentes de trânsito do que em guerras pelo ponto. Este é o ponto que considero muito sério. O que está ocorrendo é uma ética hedionda, que não respeita os valores coletivos e individuais. Não respeita a liberdade do outro e não é responsável por ninguém.

Moderador apresenta a mensagem enviada por giselle: Você é contra ou a favor do foro privilegiado?

Roberto Romano responde para giselle: Eu sou absolutamente contra. E pediria aos cidadãos brasileiros que lutassem para que este mecanismo desapareça. Ele tolda a República, fazendo com ela seja capenga. É bom lembrar que a República é o regime onde impera a igualdade de todos perante a lei. Quando você tem foro privilegiado para uma altíssima autoridade do Estado, você tem um motivo muito forte. Mas quando você tem deputados, que são representantes da população e devem prestar contas a ela, que deveriam ser julgados como a população, isto se forem julgados. Nós não temos no STF juízes e nem instrumentos para julgar todos os casos. O que quer dizer que estas pessoas já estão absolvidas. Isto é uma coisa insustentável no regime democrático.

Moderador apresenta a mensagem enviada por denis: Você acredita que pessoas respondendo a processos judiciais deveriam ser impedidas de se candidatar a cargos eletivos?

Roberto Romano responde para denis: É uma questão a ser discutida. Me parece que do ponto de vista do direito você não pode retirar direitos de uma pessoa enquanto ela não for declarada culpada em última instância. Por outro lado, fica a dúvida: se uma pessoa tem um processo no qual há provas cabais contra si, como é possível confiar? Porque quando estamos falando de Legislativo estamos falando de pessoas que fazem leis para todos. Se este indivíduo está fora das próprias leis estamos num paradoxo. Precisa ser investigado e analisado com muita prudência para que não se tire direitos das pessoas e nem da cidadania.

Moderador apresenta a mensagem enviada por fabianna: O que merece mais atenção por parte dos cidadãos? Que 1 em cada 7 deputados tenham processos na Justiça ou que 5 deles concentrem 30% dos casos?

Roberto Romano responde para fabianna: Este é um ponto. Me parece que você tem razão. Quando você tem um índice tão forte de concentração, é de se perguntar porque estes ainda permanecem na vida pública e na atividade legislativa? O que ocorre é que muitas vezes estas pessoas podem ser importantes para os tratos políticos. Quando eu disse sobre a centralização do poder no Brasil, fiz referência justamente a este papel de intermediário entre o poder central e as instituições regionais que o deputado ou o senador cumpre. Então, se ele mantém várias irregularidades, mas faz um bom intermédio ele passa a ser importante para o governo e para as próprias populações. Boa parte do que chamamos de impunidade tem o nome que é muito ruim, que é o "dando que se recebe". Aquele que é eficaz na tarefa de fazer esta da troca de recursos entre o poder central e estados e municípios tem mais condições de receber o que chamamos de impunidade.

Moderador apresenta a mensagem enviada por Clovis: esse tipo de atitude de quem exerce o poder parece endêmico no país, mas não parece tão grave lá fora. essa visão é correta? se sim, o que é que permite que isso acontece por aqui?

Roberto Romano responde para Clovis: É um ponto que gosto de recordar. Vou começar com uma fábula, a do paraíso. Se todos vivêssemos no paraíso e fosse tudo perfeito estaríamos no reino eterno. E lá não seriam necessários Estado, política, dinheiro e nada disso. Como estamos no reino dos homens existe sim a possibilidade da corrupção em qualquer sociedade. É por isso que a Transparência Internacional tem este índice da captação da corrupção em vários países. Mesmo os países, que são considerados menos corruptos, enfrentam o problema e muitas vezes de forma grave. Outro dia tive em mãos um relatório sobre corrupção na Suécia (!). Então, temos uma necessidade de não supervalorizar e de não dramatizar excessivamente a nossa situação porque em outras sociedades o problema da corrupção política, econômica entre outras existem também. A questão da falta de ética ou da ética corrosiva não é privilégio apenas do Brasil.

Moderador apresenta a mensagem enviada por jonathan: Como o cidadão comum pode participar melhor do processo político e cobrar mais ética dos seus representantes?

Roberto Romano responde para jonathan: O primeiro ponto é organização.As pessoas devem se organizar. Inclusive aqui, faço um reparo em relação a questão da Internet. É muito fácil você fazer um Blog, entrar no Orkut e protestar contra a situação política. É muito mais rápido e tranquilo e inclusive você pode até tomar uma Coca-Cola enquanto faz isso. Mas é muito mais penoso, você sair da sua casa e se encontrar fisicamente com outras pessoas para pensar, discutir e organizar uma ação conjunta. Este é o primeiro ponto. Existem movimentos e instituições que devem ser encaminhados para este controle do poder. Por outro lado, o grande local e o grande movimento a ser procurado devem ser os partidos políticos. Justamente o fato de as pessoas honestas não exigirem dos partidos, no cotidiano, é que faz com eles sejam tomados pelas oligarquias que desvirtuam o cenário partidário. Me parece que não adianta ficar apenas criticando. É necessário colocar mão na massa e se dedicar às questões nacionais.

Roberto Romano fala para a platéia: Eu gostaria de dizer que o futuro e presente do Brasil está em nossas mãos. Nós somos responsáveis. Então é bom fazer a crítica dos políticos, mas também assumir o nosso grau de responsabilidade. Eu tenho plena confiança que estas pessoas que estão neste debate conosco têm essa visão e irão ajudar muito a melhorar a política brasileira.

Moderador fala para a platéia: Obrigado a todos pela participação! Nosso bate-papo chegou ao fim! Até a próxima!