quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

It´s about nothing, com minha concordância.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Paris – a Hilton, Conar e o falso moralismo brasileiro






Antes de começar este texto vou estabelecer algumas explicações: não sou puritano (se fosse também, não teria problema – mesmo que um Salomon Kane na vida. Tal fato não invalidaria meus argumentos), não gosto de cerveja e não a bebo, na realidade não bebo bebidas alcoolicas (embora não odeie que o faz – moderadamente – não acho bêbados legais e engraçados, mas tristes, fracos e patéticos) e por fim não tenho nada contra pessoas como Paris Hilton, embora esta seja uma notória "devassa" e fútil, Hilton é um produto da indústria da sub cultura, do sub entretenimento e do sub jornalismo.
Propagandas de cerveja são acéfalas e repugnantes desde sempre. Propagandas brasileiras são um porre: sentimentais em bancos, “engraçadas” com produtos de limpeza e carros e eróticas em cervejas e chinelos. O Conar entrou com duas representações contra a propaganda e uma destas entidades de direito das mulheres também, com aquela ladainha de sempre: denigre a imagem da mulher e blá, blá, blá. Há uma semana tínhamos dúzias de mulheres nuas (nuas mesmo) em avenidas, trios elétricos e ruas – Mas aí é carnaval, Marcos, seu babaca! Pode e que discurso estranho, você não é chegado? – Diriam alguns, claro. Reproduzindo o puro argumento cafajeste.
Tempos atrás, creio que em 2006 ou 2008, que seja, uma propaganda de cerveja (Skol eu acho) comparou homens com ratos de laboratório. A propaganda era assim: um grupo de mulheres assistia a um documentário na TV onde mostrava ratos tomando choques na tentiva de pegar um pedaço de queijo, insistindo e tomando mais choques. Tudo ao som de um narrador que explicava o “experimento”, uma mulher exclama: “Que animal burro!” Na cena seguinte um grupo de rapazes tomava choques toda a vez que tentavam pegar uma cerveja na geladeira e tal como os ratos do experimento continuavam a tentativa. Pois, bem não houve um ‘a’ do Conar ou de qualquer órgão, pessoa ou entidade. Outras propagandas de cerveja claramente ligam o produto com sexo, tinha até uma atriz global que era a “boa”, mas para o Conar, tudo bem, vamos andando.
Canais de televisões pagas após a 0:00h (vários mesmo – rede Cinemax, rede telecine –estes últimos canais do grupo Globosat) colocam filmes e programas pornográficos que vão desde o que os americanos chamam de softporn até a pornografia explícita (este fato já foi denunciado reiteradamente no blog do professor Roberto Romano – como resposta da Net ouviu que poderia bloquear os canais - que ele paga, depois fazemos piadas de portugueses). Mais de uma vez liguei a tv com pessoas em casa e estava passando um filme destes, fiquei com vergonha em todas, a regra agora é esta: não ligo a tv com pessoas em casa depois da 0:00h para não passar por constrangimentos que a operadora de TV paga proporciona. Quer assistir filmes eróticos, assine os canais propícios ou um pay-per-view. Mas o até agora nenhum juiz ou entidade se manifestou em relação a este fato.
Onde quero chegar: primeiro no falso moralismo brasileiro, na verdade no falso moralismo ocidental. Na Europa e EUA é a mesma coisa se não pior. Há uma semana tínhamos mulheres nuas nas ruas sendo filmadas em plena luz do dia, o ano todo temos erotização de comerciais, e exposições de corpos em programas de TV – novelas, programas de auditório, os malditos reality shows e afins e tudo está bem. Durante o ano todo, a maior parte dos canais de filmes da TV paga vira uma seção pornográfica de locadoras depois da meia noite, mas está tudo bem. Agora a notória devassa socialite norte-americana Paris Hilton faz uma propaganda de cerveja, o mundo acaba. Paris não ficou de fio dental na propaganda, mas se insinuou com caras e bocas a um voyer, então desvirtuou a boa moral da televisão brasileira. A propaganda gerou polêmica pelo fato de ser Paris Hilton, se fosse qualquer uma das peladas da avenida e de trio elétricos, estava ótimo. A propaganda é uma droga e de mau gosto? É sem dúvida. Mas é pior ou mais apelativa que outras propagandas de cerveja e até mesmo de chinelos de dedo? Não.
A segunda coisa que gostaria de comentar é: por conta da militância de certos movimentos, determinado grupos são mais santos e imaculados que outros. O exemplo que dei: a propaganda de 2006 ou 2008 não teve qualquer problema, embora de mau gosto e ofensiva, mas estava comparando homens com ratos, se fossem mulheres, apareceriam órgãos, entidades, juízes aos borbotões denunciando a depreciação da mulher. Enquanto isto o Brasil é notório no mundo pelo turismo sexual, em especial no Norte e Nordeste onde meninas de 10, 12 e 13 anos (ou até menos) se vendem ou são agenciadas pela própria família. Cuidar do que realmente importa estas entidades não fazem, mas fazer barulho por besteira é com eles mesmos. O que dá mais notoriedade combater a prostituição infantil ou fazer grita contra comercial de cervejas (entenda Paris Hilton)? Qual é mais fácil?
Este tipo de boçalidade, mentalidade tacanha e falso moralismo vai longe. Um amigo comentou que o Datena (de vez em quando tenho algumas conversas estranhas e bizarras com os meus amigos) está fazendo uma campanha em seu programa (já foi um choque saber que o Datena tinha um programa) para pena de morte ou prisão perpétua para agressores de mulheres. Oras, a vida de uma mulher vale mais do que a de um homem? Agredir ou matar um homem, ok! Mas o mesmo não pode ser feito com uma mulher. Não seria correto repudiar e abominar a agressão e o assassinato sem distinções?
Enquanto o circo é armado e Paris Hilton vira a inimiga pública número 1 da sociedade brasileira, continuaremos tendo cerveja vendida com sexo, mulheres andando nuas na rua durante o carnaval, pornografia explícita em canais pagos que não se destinam a este tipo de conteúdo e prostituição de meninas que mal saíram da infância. Sem falar no Datena instaurando pena de morte aos agressores de mulheres. Viva o Brasil!