domingo, 24 de janeiro de 2010

AOS LEITORES HONESTOS.

PEÇO AO LEITOR HONESTO (ENTENDO POR LEITOR HONESTO O QUE NÃO TEM A MENTE LAVADA PELA IDEOLOGIA DA DIREITA OU DA ESQUERDA E QUE, CONDITIO SINE QUA NON, ESTÁ LONGE DAS SINECURAS DE GOVERNOS OU DE AGRUPAMENTOS SECTÁRIOS) QUE LEIA AS DUAS MATÉRIAS ABAIXO. UMA, DA DIREITA, OUTRA, DA ESQUERDA. JEAN-PIERRE FAYE, NO MAGISTRAL ENSAIO SOBRE A LINGUAGEM TOTALITÁRIA (LA THÉORIE DU RECIT) DIZ QUE EXISTE UMA FERRADURA IDEOLÓGICA NO CIRCUÍTO DA LINGUAGEM. NÃO RARO TEMAS E SLOGANS CRIADOS NA DIREITA, SÃO ACOLHIDOS PELA ESQUERDA E VICE VERSA. NO FUNDO, AMBOS OS SETORES USAM A MESMA LINGUA : QUEM NÃO REZA PELO SEU CATECISMO, ANATHEMA SIT! NOTEM QUE OS XINGATÓRIOS, A MÁ FÉ, A GROSSERIA É EXATAMENTE IGUAL NOS DOIS CONJUNTOS DISCURSIVOS. AS MESMAS PALAVRAS SÃO USADAS PARA TENTAR DESTRUIR A PERSONALIDADE QUE NÃO ACEITA OS DOGMAS BOLORENTOS DOS ENERGÚMENOS DE AMBOS OS LADOS. FICO CONTENTE COM OS ATAQUES, PORQUE ELES MOSTRAM, À SACIEDADE, QUE INCOMODO OS BAJULADORES DE LULA E OS SEUS INIMIGOS. QUEM TIVER ESTÔMAGO PARA LER TEXTOS CUJO "AROMA" É DE PURO VÔMITO ESPIRITUAL, LEIA. OS DOIS TEXTOS POR FAVOR, PARA VER O QUANTO DIREITA E ESQUERDA SÃO LAMENTÁVEIS SIAMESES. ROBERTO ROMANO



Direita, volver!


Midia sem Máscara.

Especialista em Ética!?

Heitor de Paola analisa entrevista concedida pelo "especialista em ética" Roberto Romano ao jornal O Globo, e identifica o perfil preciso do "intelectual orgânico" preconizado por Antonio Gramsci, comprometido com o projeto de poder do "intelectual coletivo", e não com a verdade dos fatos.

Se esta prosa surgisse numa roda de chimarrão, em volta do fogo do galpão da estância:

- Mas bah, tchê, êta indiada esperta, deve ser cousa de castelhano pro piá arrumar emprego e não trabalhar, barbaridade!

- Não é não, índio véio, eu li naquele jornal lá dos carioca que o patrão compra: O Globo! O guri é isto mesmo, especialista em ética. Chique demás!

- Só pode ser cousa do chifrudo! Cousa boa não é! Quem ensina estas cousa é pai e mãe e o patrão velho lá de riba.

- Bueno, tá aqui, dá uma espiada.

O bagual pega a edição de dia 10/06/2009 e lá na página 4 lê que o tal ROBERTO ROMANO é isto mesmo.

- Ah, ROMANO, já entendi, é coisa dos italiano lá de Bento! Só podia ser cousa de estrangeiro inventar estas moda.

Pois nosso peão pode não saber, mas não é coisa dos italiano de Bento, é coisa bem pior: um intelectual da UNICAMP - o que não exclui a intervenção do chifrudo, antes a confirma, é claro. Trata-se de um Professor de Filosofia e Ética, chiquérrimo! Seria muito difícil explicar para o peão que é cousa de italiano sim, mas não de Bento, que é tudo gente trabalhadeira, mas, das bandas da Sardenha, um tal de Antonio, que inventou uns causos esquisitos para os tais intelectuais especialistas.

Nesta entrevista o tal Romano deita falação e normas supostamente éticas para os jornalistas. A matéria é sobre o malfadado blog da Petrossauro, no qual a estatal pegajosa passou a expor todas as entrevistas sobre suas atividades, desmascarando as editorias que cortam, pinçam frases soltas, juntam de forma diferente para comunicar outra coisa que não a original, etc. Longe de mim defender este mamute estatal que deveria ser pulverizado e desestatizado em pequenas porções, vendido para empresas de verdade que nos forneçam gasolina de primeira a preços razoáveis, e não esta porcaria de baixa octanagem a preços absurdos, enquanto manda fortunas para o MST, CUT e outras ONGS apaniguadas. Não obstante, neste assunto o mamute tem toda razão, que o diga quem teve a má sorte de dar entrevistas à imprensa sem exigir a publicação das perguntas e respostas na íntegra. Em agosto passado fui entrevistado pela Revista Isto É e como as respostas foram o oposto do que o comando totalitário esquerdista quer nada saiu. Mas há tempos eu me antecipei e só respondo por escrito me reservando o copyright e o direito de publicar em qualquer lugar, à minha escolha. (ver a entrevista em http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=236).

Pois o tal especialista em ética é um dos produtos mais bem acabados de intelectual orgânico, a invenção do indigitado Antonio, o Sardo, mais conhecido como Gramsci. Vamos à entrevista.

Já no início ele dá a orientação que o entrevistador amestrado deveria seguir, numa clara expressão do totalitarismo midiático. Perguntado o que achava da polêmica sobre o blog, respondeu: "Não existe polêmica" e assim dita a regra: não pode haver opinião contrária à dos "especialistas", no mais puro estilo Al Gore encerrando o debate sobre o "aquecimento global". Como o blog é utilizado para divulgar as perguntas e respostas dadas aos jornalistas antes da publicação, diz: "... é um instrumento de ataque (...) é absolutamente antiético, ilegal e insuportável (meus grifos) que uma empresa mantida pelo dinheiro público utilize um instrumento para pressionar o Poder Legislativo e a imprensa". Vejam só o totalitarismo em marcha: o sujeito determina o que é ético, afirma ser ilegal sem mostrar a lei que a impede e, sobretudo, pontifica: é insuportável!

Será mesmo um instrumento de ataque, ou de defesa do mamute ferido pelas lanças ferinas da imprensa e das CPIs, cujo funcionamento corrupto é sobejamente conhecido? Uma pergunta se impõe aqui: por que a esquerda ataca a empresa que sempre defendeu - junto com a direita retrógrada que abomina o liberalismo econômico? Para os que não sabem, a Petrossauro foi criada por lei de Vargas como empresa estatal não monopolista para não permitir a exploração sem controle pelas estrangeiras, nos moldes da ENI (Ente Nazzionale Idrocarburi) italiana. Quem introduziu a emenda do monopólio foi a UDN, partido supostamente à direita e liberal. E quem tinha todas as condições de privatizá-la, o "liberal" Roberto Campos, não o fez e passou o resto da vida falando mal dos sucessores exatamente por não terem feito o que ele não fez. Qual o interesse das esquerdas em fazer definhar o traste que sempre defenderam? Como diria o nosso peão, boa cousa não é, é cousa do demo!

Podemos especular que os interesses do neo-comunismo gramsciano em aliança com os metacapitalistas (ver em http://www.olavodecarvalho.org/semana/051010dc.htm), tendo superado as esquerdas e as direitas tradicionais para estruturar a Nova Ordem Mundial, esteja interessadas numa privatização em bloco no estilo da privataria (apud Gaspari) tucana, aliás os mais interessados na tal CPI. Não é à toa que FHC é o maior representante da globalização no Brasil. A tensão (oposição coisa nenhuma!) entre PT e PSDB é porque o primeiro ainda mantém um resquício da esquerda nacionalista e o segundo está totalmente dedicado aos projetos de George Soros, do Diálogo Interamericano, da ONU e do shadow party http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=902).

Voltando à entrevista. A pergunta e a resposta finais devem ser transcritas integralmente, pois devem ter feito Gramsci sorrir no túmulo. (Entre parêntesis minhas observações).

Pergunta: Os jornalistas têm de publicar todas as informações prestadas pela fonte?

Resposta: De jeito nenhum. A profissão de jornalista é eminentemente intelectual (leia-se orgânico). Uma das funções do intelectual é criticar os dados e interpretar os dados para o leitor (a função não é apresentar os fatos ao leitor, mas interpretá-los de acordo com o intelectual coletivo - note-se a contribuição de Frankfurt: crítica) O jornalista não é obrigado a dar a íntegra de uma entrevista. A função do jornalista não é de xerox, vocês não são porta-vozes mecânicos dos interesses vários que se digladiam na sociedade civil e no Estado. (Claro, são porta-vozes exclusivos do intelectual coletivo). O jornalista dá uma interpretação a mais próxima possível do espírito da coisa (leia-se: o espírito da coisa é o que manda o intelectual orgânico). Jornalista não e uma maquineta de reproduzir os interesses conflitantes (claro, não há conflito, não há polêmica). E neste caso bota interesses conflitantes nisso.

A entrevista, além de mostrar a abjeta submissão da imprensa ao representante máximo do intelectual coletivo, serve para exemplificar o que Gramsci queria.

Gramsci mantém a idéia marxista do sujeito conhecedor e pensante coletivo e faz uma distinção entre o intelectual "orgânico", aqueles conscientes de sua posição de classe - criado pela classe dos intelectuais, pelo partido-classe - e o intelectual "tradicional" - aquele que mantém sua autonomia e continuidade histórica. A organização da cultura é conseguida exatamente através da hegemonia dos intelectuais orgânicos - organizados, como órgãos de um único organismo, o Partido-classe, o "intelectual coletivo". Não me refiro aqui ao conceito tradicional de partido político. Um intelectual orgânico não necessariamente integra os quadros de um partido, mas sabe quais são seus interesses de classe e, por assim dizer, "toca de ouvido": não é preciso uma partitura para que conheça a "música" que lhe interessa; na dúvida, basta ouvir a música que seus pares estão tocando. Cabe a estes homogeneizar a classe que representam e levá-la à consciência de sua própria função histórica: transformar uma classe em-si numa classe para-si.

Esta atividade dos intelectuais, na prática necessita criar uma espécie de escola de dirigentes, um grupo de intelectuais "especialistas", que servem para orientar os demais quanto a seus interesses específicos de classe. Sempre que ocorre algum fato relevante a imprensa recorre logo a "especialistas". A proposta de revolução educacional - pedagogia crítica - de Gramsci sugere a criação de escolas profissionais especializadas, nas quais o destino do aluno e sua futura atividade serão predeterminados (UNICAMP, USP, UFRJ e a quase totalidade das universidades brasileiras), pessoas designadas pelo intelectual coletivo para dizer como os outros devem pensar a respeito do assunto. Quem ouse pensar diferente é severamente admoestado pelos "especialistas", obrigado a uma autocrítica e se reincidir, é posto no ostracismo e perde o apoio dos companheiros de viagem. Deve-se frisar que as palavras desses "especialistas" expressam sempre a opinião que deverá ser adotada em comum para os interesses exclusivos do Partido-Classe, do Intelectual Coletivo. Estes são os agentes transformadores da consciência e do senso comum, popularmente conhecidos como "formadores de opinião".

Ética tem em Gramsci um sentido totalmente diferente do que significa para as pessoas em geral acostumadas pelo senso comum com o "discurso moralístico burguês". Ético é tudo que serve para fazer avançar a tomada do poder pelo pensamento hegemônico quando atinge o estado de consenso: em que todos concordam em aceitar sua ideologia de classe. (*)

Eis o Sr. Romano!

(*) Os três últimos parágrafos foram retirados do Capítulo III do livro O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, É Realizações, 2008.


ESQUERDA, VOLVER!


Acadêmicos amestrados

Por Idelber Avelar [Quarta-Feira, 2 de Dezembro de 2009 às 16:26hs]

Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli. Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre, armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o seu histórico na disciplina seja bastante modesto.

Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz, uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman, economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma fórmula neoliberal e pontificavam sobre a “morte de Marx”. Foi ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo, Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a desqualificação que eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são, nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar – cada vez menor, diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não é um deles. Visite, em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa, pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de “vagabunda” pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como “o filósofo” pelo jornal O Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de “terrorismo de Estado”. Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10 de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma vítima de terrorismo de Estado real – por exemplo, uma família palestina expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses – se lhe disséssemos que um filósofo qualifica como “terrorismo de Estado” a inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de “trapalhadas” e chamava Celso Amorim de “líder estudantil” e “cavalo de troia de bufões latino-americanos”. Poucos dias depois, a respeitadíssima revista Foreign Policy – que não tem nada de esquerdista – apresentava o que era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula: Celso Amorim, o “melhor chanceler do mundo”, nas palavras da própria revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações raciais como o Brasil. Na mídia, os “especialistas” sobre isso – agora sim, com aspas – são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele? Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira, as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de novembro. Nas bancas.l

Idelber Avelar