terça-feira, 17 de novembro de 2009

Blog de Rerum Natura...

terça-feira, 17 de Novembro de 2009

O LIVRO E A LEITURA ENTRE OS JOVENS


Hoje começa em Coimbra um colóquio com o título que está em cima. Publicamos sobre ele um artigo do organizador do Colóquio, João Gouveia Monteiro, que saiu antes no "Diário de Coimbra":

Escrevi há tempos uma crónica intitulada O Elogio da Leitura”. O objectivo era chamar a atenção para a perda de hábitos de leitura convencional regular entre os jovens. Com consequências nefastas em termos da sua expressão escrita e oral. Esta crónica suscitou diversos comentários e por isso regresso ao tema.

Não nego que os nossos jovens não leiam mais. Por exemplo, é seguro que lêem muito mais periódicos. E também lêem muito mais em suporte informático. O que eu digo é que eles, em média, lêem pior, que há uma clara infantilização da leitura. E a prova é que a sua capacidade de expressão por escrito se está a degradar fortemente. Pelo menos entre os jovens que frequentam a Faculdade de Letras, disso não tenho a menor dúvida. E se é assim em Letras…

Reconheço que hoje os nossos adolescentes têm capacidades de diversa natureza que superam em muito as da minha geração. Por exemplo, do ponto de vista técnico, do manejo de equipamentos electrónicos essenciais para a satisfação de múltiplas necessidades. Isso é verdade. Mas devemos por isso desvalorizar a degradação de um domínio tão estruturante quanto é a capacidade de expressão oral e escrita? Em que profissão é que isso não lhes será essencial? Em que medida é que a própria formação humanística do indivíduo, do cidadão, não se ressente da perda de qualidade nessas duas vertentes nucleares? A questão é muito complexa e não se resolve com receitas simples. Tem decerto que ver com o panorama da escola pública. E com o aumento de ofertas muito apetecíveis, que vendem aos nossos jovens muito prazer por pouco esforço. A própria forma como hoje a maioria das famílias encara a utilização da televisão ajuda a distorcer as prioridades: a caixa que mudou o Mundo, e que podia ser um instrumento extraordinário de elevação do nível cultural dos cidadãos, é quase sempre um factor de alienação. Entre novelas de baixa qualidade, jogos de futebol em catadupa e programas de informação convertidos em reality shows, a hipotermia cultural é certa. Mas poucos são os que resistem a um zapping sem rumo e oferecem aos filhos um bom livro, um bom programa gravado ou um bom filme. E, no entanto, é seguro que, nestas alternativas, existiria muita matéria para seduzir pela positiva e para instruir sem bocejo os nossos jovens. Uma outra alternativa consistiria em instituir em casa, com os atractivos que se revelassem razoáveis, uma espécie de Plano Paternal de Leitura, paralelo ao Plano Nacional de Leitura. Seria tão bom que livros como O Principezinho, Mobby Dick, Emílio e os Detectives, O Meu Pé de Laranja Lima ou, noutro género, os Contos de Hans Christian Andersen ou O Mundo de Sofia, entre muitos outros, não faltassem na formação literária, cultural e afectiva dos nossos meninos.

Estou convicto disto e vou defendê-lo no Colóquio sobre o Livro e a Leitura entre os Jovens que a Imprensa da U.C., a Direcção-Geral da AAC e a Biblioteca Geral vão promover este Novembro, no TAGV (dia 17 às 17h00) e na Faculdade de Letras (dia 18 às 14h30). Quero ver os nossos escritores, jornalistas, editores, responsáveis culturais, professores, os nossos jovens, porem o dedo numa chaga que alastra perigosamente.

João Gouveia Monteiro.