sábado, 31 de outubro de 2009





Veja, civilidade...

Home » Revistas » Edição 2137 / 4 de novembro de 2009





Pequeno manual da civilidade

As pequenas vantagens de virtudes grandemente subestimadas,
analisadas por quem entende tudo do assunto, desde sempre


Juliana Linhares

Montagem sobre foto divulgação
NÃO LIBERTE O MONSTRO QUE EXISTE EM VOCÊ
A vida em estado natural: "Solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta"


Engana-se quem pensa que civilidade é uma matéria relacionada a senhores pomposos e mesas cobertas de talheres esquisitos. Mas é verdade que o tema foi tratado por cavalheiros com quilometragem de pelo menos alguns séculos. Tudo o que disseram, porém, sobre a necessidade de convenções sociais para promover a boa convivência e administrar conflitos permanece de urgente contemporaneidade. Quando Schopenhauer, o gigante da filosofia alemã do século XIX, dizia que as pessoas deveriam seguir o comportamento do porco-espinho - se fica muito perto de seus pares, morre espetado; se fica muito longe, morre de frio -, não estava pensando no uso do telefone celular em público, mas bem que poderia. Thomas Hobbes, um dos gênios do pensamento político produzidos pela Inglaterra, constatou no século XVII que em estado natural, sem as construções sociais, "a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta". Em outras palavras, um congestionamento em São Paulo em dia de chuva. Por isso, emergem leis necessárias, entre as quais que "os homens cumpram os pactos que celebrarem" (e não parem em fila dupla, por exemplo) e "não declarem ódio ou desprezo pelo outro por atos, palavras, atitude ou gesto" (e não façam perfis falsos na internet). Especialistas em ética, comportamento e controle dos monstros interiores fazem análises e sugestões nesse pequeno manual das virtudes da civilidade. Todo mundo pode aprender - e até lucrar com elas. "O stress é causado em grande parte por relacionamentos humanos mal resolvidos. Se melhorarmos a capacidade de nos relacionar, teremos menos brigas, menos stress e, consequentemente, menos processos e pessoas doentes", diz o italiano Piero Massimo Forni. Professor da Universidade Johns Hopkins e um dos maiores especialistas mundiais no estudo da civilidade, ele até calculou o custo da falta dela nos Estados Unidos: 30 bilhões de dólares por ano. Já pensaram se ele conhecesse o Congresso brasileiro?

1. Questão de honra

Houve um tempo em que tudo girava em torno dela: ter honra era ser um legítimo membro da tribo; não ter, preferível morrer. O conceito de honra, na sua interpretação mais tradicional, nasceu na Grécia antiga, foi remodelado em Roma e reemergiu na Idade Média. "Na época feudal, a honra era uma qualidade atribuída aos nobres, essencialmente guerreiros, cuja função social era proteger o rei, as crianças e as mulheres", diz Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp. Hoje, a HONRADEZ pode ser mais relacionada à fidelidade aos próprios princípios ou ao próprio eu. Ou, no popular, ter vergonha na cara. É por isso que o tribunal da própria consciência continua a pesar mesmo quando se alega que "todo mundo faz", a começar dos "caras lá de cima", então "que mal tem" em levar a avozinha para passar na frente na fila de comprar ingresso, desrespeitar a precedência na hora de pegar uma vaga no estacionamento do shopping ou deixar uma toalha guardando lugar o dia inteirinho na espreguiçadeira da piscina disputada? O mal, evidentemente, está em desprezar a própria dignidade.

O fato

Nelson Almeida/AFP


É difícil imaginar exemplo mais completo de desonra que o do piloto NELSON PIQUET JÚNIOR. Ameaçado de demissão da escuderia Renault, ele confessou bem a posteriori ter concordado em fraudar o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Singapura no ano passado. A certa altura da corrida, para facilitar a situação de seu companheiro de equipe, Fernando Alonso, Nelsinho recebeu a ordem de bater seu carro contra um muro. Obedeceu. Os privilégios de nascimento - bonito, rico, sobrenome famoso - agravam o tamanho da indignidade cometida contra si mesmo e do mau exemplo dado à sociedade.

A análise

"Ser honrado, hoje em dia, significa ser portador de exemplaridade para uma comunidade. E, para ser exemplo, o sujeito precisa ser probo em todos os aspectos da vida dele. Não basta, por exemplo, ser só bom médico ou bom piloto. É preciso ser bom pai, bom marido, um sujeito respeitoso e incorruptível", diz o cientista político Bolívar Lamounier.

2. Os intransigíveis

O conceito de INTEGRIDADE tem raízes na Grécia antiga, onde o sujeito íntegro era chamado aplos, uma peça só - projetando com esse nome a imagem de inteireza, de alguém que não tem duas palavras, duas lealdades. "Não é íntegro aquele que transige em valores inegáveis de uma sociedade", diz Bolívar Lamounier. Integridade é não abusar do poder, não desmerecer os outros, não tripudiar. E também outras interdições mais prosaicas: não se esgueirar melifluamente na fila de embarque, não "deixar o carro aqui só um minutinho", não dizer que vai atender "só esta chamada" no meio da refeição compartilhada e não começar nenhuma piada dizendo "esta é politicamente incorreta" caso você não trabalhe no Casseta & Planeta.

O fato

Roberto Monaldo/La Presse/Zuma


Ele já deixou a primeira-ministra alemã Angela Merkel esperando enquanto falava ao celular, já passou cantada numa médica entre ruínas de um terremoto e já fez piadinha racista com Barack Obama (é "bonito e bronzeado", disse). Mas será que o primeiro-ministro italiano SILVIO BERLUSCONI também tem o direito de fazer o que quiser quando está na sua casa - como promover orgias e contratar prostitutas?

A análise

"O conceito de integridade não pode ser aplicado a Berlusconi porque ele não tem essa inteireza. Teria de apresentar um comportamento probo, imaculado, uma vez que deve espelhar o que há de melhor na sociedade. Mas o que prevalece nele é outra faceta, a de quem se movimenta com escracho, sem respeitar a liturgia que o poder exige", diz Bolívar Lamounier.

3. Obrigado, por favor

Um dos maiores especialistas do mundo no estudo da civilidade, Piero Massimo Forni acredita que as BOAS MANEIRAS não apenas não são coisa de um passado mítico de galanteria, mas ficaram mais importantes ainda na vida contemporânea. "Até umas três gerações atrás, boa parte da sustentação emocional e material das pessoas vinha dos familiares. Hoje convivemos muito mais com amigos e desconhecidos, e, nesse caso, ser afável é uma vantagem", explica. "A cortesia melhora a autoestima da pessoa a quem ela foi dirigida e, dessa maneira, torna as relações sociais menos tensas", concorda Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política da USP. A regra geral, e não escrita, de decência estabelece que todos devem ser tratados com os requisitos básicos de cortesia - "bom dia", "por favor", "obrigado" e "até logo" -, os quais devem ser redobrados em relação a quem ocupa posições menos destacadas. Ignorar a existência de quem presta serviços como trazer o seu carro ou limpar a sua sala é prova de insensibilidade. Ou boçalidade.

O fato

A atriz MEGAN FOX, 23 anos, é infernalmente bonita - e mal-educada. O pessoal técnico que trabalhou com ela em Transformers deu exemplos: ela chega ao estúdio sem cumprimentar ninguém, reclama de tudo, tem ataques de estrelismo e não dirige a palavra aos que considera hierarquicamente inferiores. Mesmo no caso dos superiores, como o diretor Michael Bay, já disse "É um Hitler" - ofensa hedionda, embora o pessoal ache que ela não sabe exatamente quem foi Hitler.

A análise

"A agressão verbal penetra no fundo da alma de quem é atingido por ela. É tão, mas tão grave que tem até punição prevista em lei. Um dos exercícios que proponho para identificarmos se tal ato é uma incivilidade é ver se é possível todo mundo praticá-lo ao mesmo tempo sem que o mundo vire uma barbárie, com todos matando a todos", diz Roberto Romano.

4. Desafio diário

Na hora da raiva, das bravas, qual é o primeiro xingamento que lhe vem à cabeça? Em geral, nesses momentos o ser humano não é criativo e invoca diferenças de comportamento sexual, de origem familiar ou de grupo étnico. Pois o treinamento da aceitação das diferenças deve começar exatamente por aí. De todas as virtudes do campo da civilidade, a TOLERÂNCIA é a que mais exige autoaprendizagem. Quem acha que nunca, jamais conseguirá cumprimentar um torcedor do time adversário pode começar com coisas mais simples, como não ter espasmos visíveis diante do abuso do gerúndio ou prometer a si mesmo ao sair de casa que pelo menos naquele dia não vai comparar nenhuma mulher à fêmea de uma famosa ave natalina. "Tolerância tem a ver com comportamentos diferentes daqueles que valorizamos e pelos quais temos repugnância. Exercê-la é importante não só para a convivência social como para a sanidade mental", diz Bolívar Lamounier.

O fato

Fabio Motta/AE


Não é qualquer um que consegue fazer o país inteiro se solidarizar com um integrante do governo. Mas também não é qualquer um que usa o palavreado do governador de Mato Grosso do Sul, ANDRÉ PUCCINELLI, em relação ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc: "Ele é v... e fuma maconha. Se viesse aqui, eu ia correr atrás dele e estuprar em praça pública". Para piorar, veio depois o típico pedido falso de desculpas: "Se alguém se sentiu ofendido...". Desafio aos tolerantes urbanos: não achar que todo produtor rural é um brutamontes destruidor da natureza.

A análise

"O governador foi desmascarado em seus preconceitos mais bestiais. Em um momento em que se luta tanto contra discriminações, sejam elas de gênero, sejam sociais, o governador mostrou que não tem equilíbrio mental nem competência profissional para estar no cargo que ocupa", fulmina o cientista político Gaudêncio Torquato.

5. Bateu, não levou

Levar uma fechada, ouvir uma buzinada milésimos de segundo depois que o sinal abre, esperar que o manobrista pegue o carro largado na sua frente com a maior displicência. O stress e o anonimato propiciados pelo trânsito nas grandes cidades se combinam para testar o tempo todo os limites do AUTOCONTROLE. Para não se transformar num ser desatinado em busca de vingança, só existe uma reação possível: olhar tudo aquilo de um ponto de vista distanciado - ou, se preferir, superior. "Podemos aliviar a raiva tomando distância do que está acontecendo. Alguém me xinga, por exemplo, e eu reajo como se a ofensa fosse um pacote que recebo e devolvo fechado, porque não me considero o destinatário. O ato de grosseria está relacionado com o estado mental do agressor, não com o do agredido", ensina Piero Forni. Quem acha que tem temperamento forte, sangue quente ou pavio curto, e usa essas expressões para justificar comportamentos agressivos, deve considerar a hipótese oposta. "A pessoa que não controla a agressividade no fundo tem ego fraco", explica a psicóloga Lidia Aratangy.

O fato

Jonathan Mannion/Corbis Outline/Latin Stock


Eles estavam numa festa, discutiram. Entraram no carro, gritaram. Pararam, ela pegou a chave e jogou pela janela. Que briga de namorados já não passou por esses estágios? A diferença no caso infeliz do rapper americano CHRIS BROWN, 20 anos, é que ele não teve autocontrole para impedir que a raiva se transformasse em agressão - e arrebentou brutalmente o rosto da cantora Rihanna, 21. E ainda disse no dia seguinte que todo mundo iria saber quem "era ela de verdade". A partir daí, os profissionais de imagem assumiram e ele pediu desculpas duas vezes, sem muita convicção. Foi condenado a cinco anos em regime de liberdade vigiada e 180 dias de trabalho comunitário.

A análise

"A única maneira de uma pessoa de pavio curto adquirir autocontrole é ela tomar a decisão, de maneira íntima e compromissada, de não agir com violência diante de uma situação de stress", diz o cientista político Rubens Figueiredo. Quem já atingiu o limiar da agressão física deve parar - de dirigir, por exemplo, ou de beber - até se reprogramar, com ajuda profissional se necessário.

6. Respeito é bom

O termo CIVILIDADE vem da palavra civitas, que quer dizer cidade. Tem civilidade, portanto, aquele que sabe viver em sociedade, um sistema refinado ao longo dos tempos. No século XVI, por exemplo, o filósofo holandês Erasmo escreveu uma espécie de manual de comportamento. "Ele explicava que não devemos cuspir à mesa nem na mesa, nem beber a sopa direto da sopeira, nem colocar as botas em cima da mesa. Soaria estranho fazer isso hoje, mas houve um tempo em que os nobres precisaram ser educados para melhorar seus modos", diz Renato Janine Ribeiro. Na construção da sociedade ocidental, o mesmo conceito que abrange algo aparentemente acessório, como os bons modos à mesa, inclui o complexo mecanismo do respeito entre as pessoas, base das relações civilizadas. "Hoje, o que entendemos como a ideia central da civilidade é justamente o respeito pelos outros. Os bons modos mostram a nosso próximo que temos estima por ele", diz Ribeiro. Roberto Romano propõe uma pergunta simples para aplicar o conceito de civilidade em diferentes situações da vida cotidiana: o que posso fazer pelo outro para que a vida de todos seja suportável?

O fato

Ed Ferreira/AE


Desprezar o conceito de serviço público, legislar em causa própria, fazer nepotismo cruzado, usar recursos não contabilizados e mentir muito. Todo mundo já percebeu de quem estamos falando. Mas fazer tudo isso e ainda esfregar na nossa cara? Em maio passado, o deputado SÉRGIO MORAES (PTB-RS) se irritou com jornalistas que cobravam dele posição mais rigorosa sobre o caso do colega do castelo de 25 milhões de reais nunca declarados e tripudiou: "Eu estou me lixando para a opinião pública. Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim". A ofensa em escala nacional não abalou o senhor Moraes. "A mídia distorceu a minha fala. O que eu quis dizer é que eu não ia mentir, como a mídia queria", insiste. E reincide: "Não fui deselegante com ninguém, não me arrependo e tenho muito orgulho do que eu disse".

A análise

"O deputado desrespeitou quem votou nele, desrespeitou seu cargo, desrespeitou quem escutou aquela declaração. O perigo mais evidente nesse tipo de situação é o comportamento mimético. As pessoas pensam: se o deputado rouba, por que eu não posso roubar? Se ele fala essas coisas, por que eu tenho de me esforçar para ser educado?", diz Gaudêncio Torquato.

7. Fora, trapaceiros

Todo mundo quer se dar bem, mas, se fizer qualquer coisa para conseguir isso, o mundo todo vai acabar mal. Não é preciso nem voltar ao estado natural, ou hobbesiano, da guerra de todos contra todos para entender a necessidade de um conjunto de regras comumente aceitas e, dentre elas, a importância da HONESTIDADE. Seja pagar pelo gabarito da prova do Enem, seja levar comissão em obras públicas, quem faz trapaça está roubando um pouco de cada um, não só em termos materiais, mas principalmente pela infração ao pacto social através do qual contemos nossos instintos mais selvagens em troca das garantias da civilização. "Na sociedade ocidental cristã, a figura do trapaceiro é uma das mais odiadas. A trapaça fere várias convenções sociais, entre elas a obediência às regras e a honradez", diz Roberto Romano.

O fato

Timothy A. Clary/AFP


Mesmo no universo dos grandes ladrões, a tungada de BERNARD MADOFF, 71 anos, estabeleceu novos parâmetros de desonestidade. Madoff conseguiu tirar dinheiro de gente que entendia tudo do assunto, mas também limpou viúvas, instituições de caridade, parentes e amigos. A pirâmide financeira que presidiu sugou 65 bilhões de dólares de quase 5 000 enganados. Faltando poucos dias para ser preso, quando todo o esquema já havia ruído, ele ainda conseguiu arrancar 250 milhões de dólares do homem a quem dizia ter como pai, o venerando empresário Carl Shapiro, de 95 anos, dando um novo sentido à expressão roubar velhinhos.

A análise

"O efeito de uma desonestidade cometida por uma figura conhecida, bem-sucedida e querida pode virar um problema enorme. Nem todas as pessoas vão ver a desonestidade que não deu certo como um ato necessariamente ruim, passível de restrição moral. A interpretação de muitos é que o erro pode não ter sido o ato, mas o fato de aquele sujeito conhecido, bem-sucedido e admirado não ter conseguido se safar", diz o sociólogo Demétrio Magnoli.

8. Dobre a língua

A cultura da permissividade tem enormes vantagens - a começar, naturalmente, pelo abrandamento dos costumes repressivos. A contrapartida também é evidente: a ideia disseminada de que cada um pode, e até deve, fazer e falar o que quiser, mesmo que isso invada o espaço alheio, incluindo os ouvidos. Não dizer o que dá na bola é diferente de contar mentiras. No primeiro caso, quem usa da CONTENÇÃO VERBAL está obedecendo ao mecanismo de freios sociais pelo qual as opiniões próprias são atenuadas de forma a não ofender os sentimentos alheios. No segundo, a verdade é falsificada para tirar algum proveito, nem que seja promover a própria e engrandecida imagem. Quem acha que tem de "pôr para fora" tudo o que pensa e até invoca o pensamento mágico ("Assim não vou ter infarto") na verdade não está no comando de si mesmo. "Viver em sociedade implica abrir mão de certas selvagerias para obter a proteção social que vem da vida em conjunto", diz Roberto Romano. "Nesse contexto, a má-educação, a ganância desmedida, a negligência ao outro, são todos fatores de desagregação social."

O fato

Adriano Vizoni/Folha Imagem


Quando MARTA SUPLICY era ministra do Turismo e disparou o infame "relaxa e goza" para os infelizes vitimados pelas longas esperas nos aeroportos, obedeceu a imperativos próprios: ter papas na língua era o equivalente a viver uma vida de insuportável repressão, como pregava uma tendência psicanalítica dos anos 70. Resultado: passou imagem de arrogância pela classe a que pertence, prepotência pelo posto que ocupava e, incrivelmente para uma pessoa com seu histórico, machismo virulento pela comparação.

A análise

"Na política, alguém que fala o que quer e, principalmente, com um nível de agressividade alto está querendo dizer que é dono da verdade absoluta", analisa Demétrio Magnoli. "Na esfera privada, quem fala o que quer e não se preocupa com o que o outro pensa e sente, além de ser profundamente incivilizado, não permite que uma divergência seja resolvida. O diálogo é cortado antes que produza frutos."

9. Sinto muito, mesmo

Pressa, pressão, prazos - tudo na vida contemporânea conspira para que o tratamento civilizado seja atropelado mais cedo ou mais tarde. Para isso existe um remédio universal: PEDIR DESCULPAS. O arrependimento sincero, aquele cuja intenção seja menos aliviar a consciência do ofensor e mais dar uma satisfação moral a quem foi ofendido, é um lenitivo de eficácia comprovada através dos tempos. Só os seres altamente evoluídos se desculpam com classe e naturalidade, mas os demais - ou seja, todos nós - também podem desfrutar o sentimento de paz interior que essa atitude desencadeia. É só treinar direitinho. Quanto ao momento e ao método corretos para pedir desculpas, gente com os mecanismos psíquicos em estado de bom funcionamento tem um "vergonhômetro" infalível. "É aquele sangue que sobe ao rosto quando fazemos algo errado, e que sinaliza o respeito pelo outro", diz Roberto Romano. "Sem isso, o pedido de desculpas não vale."O fato

O fato

Kevin Lamarque/Reuters


A moral sexual é, evidentemente, assunto de foro íntimo, mas trair a mulher e tentar faturar em cima disso vira um caso flagrante de ofensa social. Ainda por cima fingindo falso arrependimento, como fez o apresentador americano DAVID LETTERMAN, 62 anos, ao contar piadinhas para confessar que teve casos com funcionárias e que estava divulgando o fato porque alguém que sabia da prática ameaçou chantageá-lo. Só uma semana depois ele se lembrou de pedir desculpas, esfarrapadíssimas, à mulher. A audiência foi às alturas.

A análise

"Ao fazer humor com o ocorrido, ele quis banalizar seu erro e, assim, ser perdoado", diz Rubens Figueiredo. "O pedido de desculpas deve mostrar que você está ciente de que o que fez foi errado, e que magoou a outra pessoa. Buscar justificativas tortuosas para o ato demonstra negligência em relação aos sentimentos do outro", completa Piero Forni.

10. A casa comum

O comportamento decoroso surgiu na Igreja Católica, a partir da vestimenta dos padres e das freiras, sempre igual em qualquer ambiente e feita para cobrir tudo de forma a não atentar contra o pudor próprio ou alheio. "Com o tempo, o DECORO das vestimentas passou para a linguagem e as atitudes. A fala decorosa é aquela que diz o que tem de dizer sem adular ou ferir. O comportamento decoroso é aquele que não ofende os outros, que não agride, que não é exibicionista ou apelativo", explica Roberto Romano. Pequenos atentados cotidianos ao decoro incluem urrar ao celular em ambientes confinados, ignorar solenemente aquilo que seu cãozinho faz na calçada e ouvir música nas alturas porque "a casa é minha". Ter decoro é entender que a casa é um pouco de todos.

O fato

Divulgação/TV Globo


Lady Kate, personagem da atriz KATIUSCIA CANORO no programa Zorra Total, é exibida, decotada e exagerada, adora gastar o dinheiro de um certo senador que convenientemente nunca aparece e, diante de qualquer obstáculo que surge, repete o bordão: "Tô pagando". Na personagem, é engraçado; na vida real, é execrável.

A análise

"Uma vez conscientes de que a vida é uma experiência baseada nas relações, temos de ter em mente que os desejos das outras pessoas são tão válidos quantos os nossos. Isso significa que, ao perseguir nossos objetivos, precisamos ter certeza de que estamos sendo justos com os outros. O decoro nos ajuda a ajustar essa medida", diz Piero Forni.

EDIÇÃO DA SEMANA
ACERVO DIGITAL


quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Já encomendei...

BOOK WORLD

Mind over monsters: Peering into the dark corners of the psyche



By Michael Sims
Tuesday, October 27, 2009

ON MONSTERS

An Unnatural History of Our Worst Fears

By Stephen T. Asma

Oxford Univ. 351 pp. $27.95

Cleverly conceived and slyly written, Stephen Asma's survey of monsters is not content merely to parade the usual suspects -- the fretful dead or the giant recluses of the deep sea. Instead, this "Unnatural History of Our Worst Fears" leads us on a safari through the many manifestations of our idea of the monstrous. I have seldom read a book that so satisfyingly achieves such an ambitious goal.

"To be a monster," writes Asma, "is to be an omen." He points out that the word "monster" derives from a Latin root meaning "to warn." He nce his subtitle's emphasis on fear, our troublesome primate combination of herd-think and anxiety that quickly metamorphoses the other -- the unknown -- into something ghastly and threatening. Asma quotes Nietzsche's famous line: "He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster." Consequently, Asma examines not only Frankenstein's monster and vampires and ghosts, but also racists, torturers and serial killers; he takes us into xenophobia, misogyny, homophobia and warmongering. "One will search in vain through this book to find a single compelling definition of monster," he writes. "That's not because I forgot to include one, but because I don't think there is one."

Asma explores all sorts of historical and psychological terrain, deliberately seeking a confrontation with every monster in our nasty little minds. The book's antique title positions Asma in the tradition of comprehensive personal essayists, a la Robert Burton; even his endnotes are unpredictably broad and flavored with outrage and humor. The result is a confident and appealing authorial presence. A philosophy professor at Columbia College Chicago, Asma ranges easily from the deadly charisma of Leopold and Loeb to the enthusiastic demon-hunting of Augustine and Aquinas.

It's great fun to accompany him on this trek. Only a wide-ranging mind could work into a single book Freud's theories about Medusa and castration and the way in which the feisty biblical Satan resembles the good cop/bad cop theology of Zoroastrianism. Although Asma doesn't treat the topic lightly, one of the more amusing sections in his book addresses Christianity's carnival of rationalizations and back flips around the question of monsters; medieval Christians believed in whole arks of them. Do these creatures demonstrate a supposedly benevolent creator's attention deficit, they wondered, or do monsters serve as what Asma nicely describes as "living billboards for God's sublime creativity and awe-inspiring authority"?

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But Asma doesn't spend all his time among dusty texts. He also aims his spotlight at numerous movies, examining the dehumanizing racism behind such films as "The Birth of a Nation" and "300" or even the implications of the unchained id in "Forbidden Planet." He peers into the sobering back story behind "Godzilla." He demonstrates how recent movies have transformed Grendel in the Beowulf story from a ravening beast into a victim of oppression.

Not surprisingly, this author of a superb chronicle of natural history museums ("Stuffed Animals and Pickled Heads") proves adept at explaining Darwinian evolution, too. Yes, even natural selection shows up in Asma's unnatural history. He smoothly explains why genetic monsters (melodramatic, dead-end mistakes of nature such as two-headed babies) preoccupied Darwin and his colleagues. "The year 1838 was the turning point for Darwin," Asma writes. "Before that, he thought of monsters as a reasonable catalyst for evolution, but after the discovery of natural selection he rejected the role of monsters."

Darwin and Freud are only two of the many characters whose connection with monsters got them invited to Asma's party. Others are much more alarming. You will encounter fantastic tales of penis-stealing witches and hard-headed accounts of the incestuous Austrian rapist Josef Fritzl. Asma brings in the camera-swallowing artist Stelarc and the performance artist Orlan, who undergoes plastic surgery onstage. Then along comes the fascinating 16th-century Frenchman from whom Asma borrows his title: Ambroise Paré, author of "On Monsters and Marvels," a transitional work that sought to bring medicine out of the Dark Ages.

Asma garnishes these enlightening pages with many photographs and illustrations, including his own graceful drawings of such figures as the biblical Behemoth, the murderer John Wayne Gacy and the dog-headed cannibal Saint Christopher. Asma is that sort of writer -- able to get his hands on all kinds of gourmet ingredients, offhandedly scenting the air with erudition and then casually tossing in his own drawings just to add the last touch of spice. His new book is a feast.

Michael Sims's books include "Apollo's Fire" and a recent companion book to the National Geographic Channel series "In the Womb."

THE NEW YORK TIMES

Napoleon’s Dynamite

Timothy Egan

PARIS — He’s in there somewhere, under the gilded dome of Les Invalides in the 7th arrondissement of Paris. The Emperor of the French, Napoleon Bonaparte, is entombed by six coffins in what has to be the most spectacular sarcophagus in all the City of Light.

I stared at this extravagance of marble and mortality not long ago, thought about Napoleon’s campaigns in Russia, Italy and Prussia, the wars that briefly remade Europe, and realized that I owed a considerable part of my heritage as a citizen of the American West to the Little Corporal in the coffin.

Distracted as he was in trying to build an empire, Napoleon looked across the Atlantic and decided he had little use for the mid-section of a distant continent. Needing cash for conquest, he then sold the French holdings for a pittance to the fledgling United States.

Putting aside the fact that these lands had Native Americans living on them, with deep attachments and rights of sovereignty of their own, the United States got one of the greatest real estate deals of all time from the French.

For barely 5 cents an acre, the U.S. picked up more than 800,000 square miles in the Louisiana Purchase of 1803. With the stroke of a pen at Thomas Jefferson’s behest, and without the loss of a single life, America doubled in size.

We were wary, following the advice of Jefferson and others, of ceaseless and senseless overseas wars. Wars for territory. Wars for defense. Wars for revenge. Wars because one religion was better than another. This was not our way. We didn’t meddle. We fought “good wars,” against imperial occupiers like Great Britain and, much later, the Nazis.

And we were slow to rouse, intervening only when called to the rescue. That was — perhaps still is — our narrative as a people.

From that peaceful triumph with France, you pivot to the present day, and wonder how we will fit what are likely to be our two longest wars into this story. The United States has been in Afghanistan coming up on a decade. Iraq is not far behind.

In Iraq, some Sunnis have always hated some Shiites, and vice-versa, for more years than the United States has been a country, and they will continue to dismember each other and their children whether we are there or not. I suspect most historians will judge the Iraq War an epic mistake. Already, most of our efforts in blood and capital have been spent trying to clean up the mess of the initial hubristic invasion, an ill-planned act from the shallows of a light-thinking president. (Now moonlighting as a motivational speaker — go figure! See Jon Stewart’s take.)

The never-ending quality of that war was reinforced over the weekend, with the worst bomb blast in a year, a bloodbath at the heart of Iraqi government buildings.

Afghanistan is more difficult, of course. The jihadists who killed American citizens on Sept. 11, 2001, had their base in that seemingly ungovernable mountain country. It is the graveyard of empires — Soviet, British — for good reason, as most Americans have come to understand. Progress is not yet a word that can be used with any credibility after eight years of war. And this month was the deadliest for U.S. forces since troops arrived, a danger heightened by Wednesday’s bombing in Peshawar.

Now comes the first United States official known to resign in protest of American strategy in Afghanistan. Matthew Hoh, former Marine Captain and up-and-coming foreign service officer, says American presence has thus far only fueled the insurgency.

Yet, to leave now, we are told, would be to abandon a country to people who live 8th century lives with 21st century weapons. And they have a hatred warped by religion — making for the worst kind of enemy.

There is little advice floating around, and much that is bad. Chief among the latter was the suggestion of Dick Cheney, co-architect of the present disasters, that the president quit “dithering.” This is particularly galling coming from a man with five draft deferments during the Vietnam War. His dithering kept him out of combat.

For the president, if thoughtful dithering produces a more enlightened policy, he will be well served by stretching time.

The rest of us can look at Napoleon’s tomb, holding the body of the man who led so many men to war, trying repeatedly to do with military might what the French could usually only do with their cultural exports.

Americans have never been empire builders. Napoleon, who was dynamite in a small package, even though he reigned before it was invented, had dreams of flying le tricolor over distant lands.

In a fit of historic distraction, this emperor gave us Montana and Missouri among many fine places. We paid less than $15 million, thanks to one leader who dithered until the right moment presented itself, and another who let his army slow bleed to collapse.

Jornal da Unicamp.

Uso indiscriminado de plantas medicinais pode causar problemas de saúde

Edição das imagens:
Everaldo Silva

Carvalho: um simples chá pode interferir no tratamento

[23/10/2009] Se os chazinhos que nossas avós nos receitavam para tratar de insônia a dor de cabeça não fizerem bem à saúde, mal também não farão, certo? Nem sempre. Quem alerta é o coordenador da Divisão de Farmacologia e Toxicologia do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, João Ernesto de Carvalho. Segundo ele, o uso indiscriminado de determinadas plantas medicinais pode, sim, trazer efeitos nocivos ao organismo humano. “Substâncias presentes em algumas espécies podem, por exemplo, interagir negativamente com certos medicamentos empregados no tratamento de doenças crônico-degenerativas, prejudicando dessa forma o processo terapêutico”, adverte.

O uso de plantas medicinais sem a devida orientação, conforme Carvalho, vem de longa data. Até a Segunda Guerra Mundial, lembra ele, boa parte dos métodos terapêuticos utilizados pela medicina estava baseada no aproveitamento de ervas, folhas e raízes. Especialmente no Brasil, convencionou-se associar essas matérias-primas a algo essencialmente positivo ou, no máximo, inócuo. Tanto é assim que até hoje muita gente repete a frase segundo a qual se um determinado produto é de origem natural, certamente ele não poderá fazer mal à saúde. “É um erro pensar assim. Alguns do piores venenos que conhecemos podem ser extraídos de plantas. Se ingeridos, alguns tipos de cogumelos podem matar uma pessoa por intoxicação”, assinala o pesquisador.

Como se isso não bastasse, continua o especialista, substâncias presentes em certas plantas medicinais podem interagir negativamente com medicamentos usados no tratamento de enfermidades crônico-degenerativas, como diabetes, hipertensão etc. Há casos, explica o pesquisador, em que esses elementos alteram o metabolismo do medicamento, fazendo com que ele perca a eficácia ou mesmo se acumule no organismo do paciente. “Alguns chás podem causar hipoglicemia no diabético, o que induz o médico a acreditar que talvez seja necessário reduzir a dose da medicação. Se isso for feito, há o risco de, num período imediatamente posterior, quando o consumo dos chás for suspenso, de o mesmo paciente apresentar hiperglicemia. Essa oscilação pode trazer sérios danos ao tratamento e à saúde do assistido”, afirma.

Pesquisas recentes citadas por Carvalho constataram que o consumo do suco da toronja, fruta conhecida como grapefruit, contém uma substância que interfere no metabolismo de uma série de drogas, entre elas anti-hipertensivos e antimicrobianos. “Por conta dessa interação negativa, há uma tendência de que o fármaco se acumule no organismo do paciente, o que pode gerar um quadro de intoxicação menos ou mais sério”, diz. Usado como medicamento, o alho, muito consumido na forma de óleo em cápsulas, também pode interagir de modo adverso com antivirais, o que é especialmente perigoso para os portadores de Aids, de acordo com o especialista do CBQPA.

Para agravar esse quadro, assinala o pesquisador, a imensa maioria dos médicos não tem conhecimento desse tipo de problema. “Isso se deve especialmente ao fato de os cursos de Medicina não oferecerem uma disciplina que trate em profundidade a questão do uso de fitoterápicos e plantas medicinais. Isso faz com que esses profissionais dificilmente associem uma mudança no quadro geral do paciente ao possível consumo de um chá. Ademais, os pacientes também não costumam contar a seus médicos que lançam mão do uso de plantas medicinais durante seus tratamentos, seja por não confiarem nos profissionais, seja por desconhecerem que esse tipo de associação possa trazer efeitos deletérios”.

Preocupado com o desconhecimento geral sobre as consequências que as plantas medicinais podem causar à saúde, Carvalho destaca que a situação pode ser agravada com a divulgação nos próximos meses, por parte do governo federal, de uma lista de espécies formulada pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde. A ideia é incluir essas plantas e fármacos produzidos a partir delas na relação de medicamentos ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Se a população e os médicos não forem muito bem orientados sobre o uso desses recursos naturais, é possível que parte da população venha a enfrentar problemas”, teme o pesquisador.

Ele insiste que a melhor maneira de evitar possíveis adversidades geradas pelo uso indiscriminado ou sem orientação de plantas medicinais ou fitoterápicos é informar adequadamente a população e os profissionais de saúde sobre os riscos que o hábito oferece. “Com isso, o paciente saberá que deve comentar com seu médico que está ingerindo determinado tipo de chá, enquanto este último também passará a perguntar se o primeiro ingere habitual ou esporadicamente alguma infusão ou coisa do gênero”, defende o pesquisador do CPQBA.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009


No Congresso em Foco...a tunga perene do Estado, contra os cidadãos.

27/10/2009 - 23h18

Câmara: comissão especial aprova PEC dos Precatórios

Fábio Góis

Com rejeição de destaques, a Câmara aprovou na noite desta terça-feira (27) o texto principal da chamada PEC dos Precatórios, que em suma reduz de 60% para a 50% a parte da conta especial que pode ser reservada aos leilões desse tipo de título. A Proposta de Emenda à Constituição 351/09, relatada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estabelece que os outros 50% da conta devem ser aplicados no pagamento de precatório de acordo com a ordem cronológica de apresentação, obrigatoriamente, e com prioridade para créditos de natureza alimentícia (salários, pensões e benefícios previdenciários). A matéria ainda terá de ser aprovada em dois turnos no penário da Casa, e só entra em vigor depois de promulgada em sessão do Congresso.

De acordo com o texto aprovado em dois turnos pelo Senado, em 1º de abril, tal preferência era concedida apenas para pessoas idosas, sem distinção de natureza especial. A proposição aprovada hoje pelos deputados garante a primazia principalmente aos titulares idosos com ao menos 60 anos de idade, ou àqueles que sofrem de alguma doença grave.

Com a aprovação da PEC, fica também definido um mecanismo de deságio segundo o qual receberá antes o valor de direito o credor que aceitar uma taxa de desconto maior do que o que ele receberia normalmente. A modalidade, no entanto, não vale para créditos alimentícios ou aqueles considerados de pouco valor.

Na defesa desse critério, o relator alegou que já existe "mercado paralelo" no pagamento dos precatórios, e que seria injusto impedir que o desconto praticado na informalidade das ruas reduzisse o "endividamento público". "Se essa fosse a única possibilidade de pagamento, seria ruim, mas ninguém será obrigado a optar por receber seu pagamento com deságio", disse Eduardo, segundo a Agência Câmara.

Os entes federativos (estados, municípios e Distrito Federal) terão critérios diferentes quanto aos recursos para pagamento de precatórios. O montante disponível para cada entidade devedora será definido de acordo com o tamanho do estoque de títulos e a receita corrente líquida (RCL).

No caso dos Estados e do Distrito Federal, o percentual de receita destinado ao custeio dessa conta será de: no mínimo 1,5% para os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, além do DF, ou cujo estoque de precatórios pendentes das suas administrações direta e indireta corresponder até a 35% da RCL; no mínimo 2% para os estados das regiões Sul e Sudeste cujo estoque de precatórios pendentes corresponda a mais de 35% da RCL.

Já para municípios, o percentual de receita será de: no mínimo 1% para municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, ou cujo estoque de precatórios pendentes corresponder a até 35% da RCL; no mínimo 1,5% para municípios das regiões Sul e Sudeste, cujo estoque de precatórios corresponder a mais de 35% da RCL.

"PEC do Calote"

Polêmica, a matéria tramitou por cerca de três anos no Senado, tendo sido apresentada pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no início de 2006 (leia). Em trâmite no Congresso, recebeu forte rejeição de entidades representativas como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que em maio deste ano entregaram ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), um manifesto contra sua aprovação.

O presidente da OAB, Cesar Brito, é um dos principais críticos da proposição. Em 1º de outubro, o advogado disse ao Congresso em Foco que a PEC é "eivada de vícios" e "afronta a Constituição cidadã". "Ela expressamente diz que o governador pode tudo, o prefeito pode tudo e, se o cidadão buscar o Judiciário para reparar a lesão e ver nascer seus direitos, levará 50, 70, 80, 90 anos para ter o ressarcimento. Isso é dar uma carta branca para o abuso do estado”, disse.

Leia: Cezar Britto: “PEC do Calote” é o pior golpe depois da ditadura

01/10/2009 - 18h04

Cezar Britto: “PEC do Calote” é o pior golpe depois da ditadura

Fábio Góis

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, voltou a fazer firmes críticas à chamada PEC dos Precatórios. A matéria estabelece, entre outros pontos, a execução do pagamento de precatórios apenas na ordem cronológica de apresentação, e com observância aos percentuais anuais referentes às recentes correntes líquidas de cada ente da Federação.

Segundo Britto, que compareceu ao Senado nesta quinta-feira (1º), a proposta chegou à Câmara “eivada de vícios”. “A PEC do Calote, para mim, é o maior ataque à democracia depois da ditadura militar, porque ela expressamente diz que o governador pode tudo, o prefeito pode tudo e, se o cidadão buscar o Judiciário para reparar a lesão e ver nascer seus direitos, levará 50, 70, 80, 90 anos para ter o ressarcimento. Isso é dar uma carta branca para o abuso do estado”, disse o advogado ao Congresso em Foco.

Aprovada no Senado em 1º de abril, a Proposta de Emenda à Constituição 12/06 espera votação no plenário da Câmara, onde recebeu alterações na Comissão de Constituição e Justiça.

Britto disse que a proposição “afronta a Constituição Cidadã”, uma vez que esta não tem ênfase no poder do Estado. “Outra grave aberração da PEC é que ela cria um sistema de leilão, ou seja, vai-se leiloar a sentença judicial, em que o comprador, que é o Estado, é que causou a dor. Ele vai ditar o preço do que o outro vai dispor, e todo mundo vai ter de ceder direitos seus para não ter de esperar o resultado por décadas”, criticou. “O leilão em que o preço vai ser pautado pelo tamanho da fome e da necessidade dos cidadãos.”

Para Britto, a proposta guarda semelhanças com outra recentemente aprovada no que diz respeito ao viés eleitoreiro “Essa PEC do Calote tem uma relação com a própria PEC dos Vereadores [aprovada no último dia 22], que é querer agradar a base eleitoral. E, quando se quer agradar a base eleitoral, não se preocupa muito com a base constitucional”, acrescentou.

A matéria recebeu substitutivo no Senado com a definição da ordem cronológica dos pagamentos, com exceções: terão prioridade os débitos referentes a alimentação (com origem em salários, proventos, vencimentos, pensões, indenizações por morte ou invalidez e benefícios previdenciários). Titulares de precatórios com mais de 60 anos de idade também terão a preferência.

Atualmente, as dívidas não quitadas pelos entes – União, estados, municípios e Distrito Federal – acumulam cerca de R$ 70 bilhões.

Idem, ibidem, cara Marta Bellini...se desse tempo para ler o que desejamos e precisamos, sem as "comissões", os burocratas produtivistas....

terça-feira, 27 de outubro de 2009

De volta...


Desde do dia 20/10 estou em uma maratona. Quem ganhará? Eu ou o trabalho? Gosto da frase do Vianinha: o trabalho enobrece ... o nobre. Uma assustadora onda de produtivismo em universidades faz desaparecer a noção social e dá lugar aos narcisos dos conselhos de pesquisa. Os alunos são ensinados a competir. Publiquem mais! Mas, a falta de experiência na escrita, na leitura... a falta da tradição do diálogo. Do bom debate. Dos bons encontros ... faz água na nossa vida. Enfim, estou cansada. Tento modificar o cenário.

Dia 10/11 faço uma conferência no Congresso de Filosofia Moral e Política. Programação inteira abaixo.


Virtudes, Direitos e Democracia, de 09 a 12/11/2009

Auditório do Hotel Jacques Georges Tower

Rua Almirante Barroso, 2069 - Pelotas/RS – Brasil

Promoção: Programa de Pós-Graduação em Filosofia UFPel

Patrocínios e Apoios:

CAPES

Universidade Federal de Pelotas

Fundação Simón Bolívar

Programa de Pós-Graduação em Filosofia UFPel

Centro de Integração do Mercosul

Instituto de Sociologia e Política UFPel

Departamento de Filosofia UFPel


Programação

09/11/09- Segunda:

16:00-18:00 – Retirada de Material

19:00 – Abertura oficial: Prof. Cesar Borges (Reitor UFPel)

19:30 – Conferência de Abertura: Pierre-Marie Morel (Ecole Normale Supérieure de Lettres et de Sciences Humaines – Lyon) A Prudência em Aristóteles e no Epicurismo

Moderador: João Hobuss (UFPel)

10/11/09- Terça:

09:00-11:30 – Mini-Curso

11:40-13:20 – Comunicações

14:00-16:00 – Mesa Temática: Filosofia Política e Relações Internacionais

Yara Frateschi (Unicamp), João Carlos Brum Torres (UFRGS), Douglas Ferreira (PUC-Campinas)

Coordenador: Cláudio Leivas (UFPel)

16:15-16:30 – Café

16:30-19:00 – Mesa Temática: Teorias da Justiça e Direitos Humanos

Nythamar de Oliveira (PUCRS), Delamar V. Dutra (UFSC), Luiz Bernardo Araújo (UERJ)

Coordenador: Carlos Ferraz (UFPel)

19:30 – Conferência: Pablo da Silveira (Universidad Católica del Uruguay) O Governo da Educação como Tema da Filosofia Política Contemporânea

20:30 – Conferência: Roberto Romano (Unicamp) – Trapaças, Vícios e Virtudes: uma leitura da razão de Estado

Moderador: Carlos Ferraz (UFPel)

11/11/09- Quarta:

09:00-11:30 – Mini-Curso

11:40-13:20 – Comunicações

14:30-16:00 – Mesa Temática: Democracia e Globalização

Nelson Boeira (UFRGS), Álvaro de Vita (USP) Coordenador: Álvaro Barreto (UFPel)

16:00-16:15 – Café

16:15-19:00 – Mesa Temática: Fundamentos da Ética

Marco Zingano (USP), Noeli Rossato (UFSM), Roberto Pich (PUCRS), Juliette Lemaire – Centre Léon Robin (Paris IV)

Coordenador: Manoel Vasconcellos (UFPel)

19:30 – Conferência: Pierre Guenancia (Université de Bourgogne)Identidade e Nação

20:30 – Conferência: Yves Zarka (Université Paris Descartes/Sorbonne) – A Legitimidade Democrática em Questão

Moderador: Cláudio Leivas (UFPel)

12/11/09 – Quinta:

09:00-11:30 – Mini-Curso

14:00-16:00 – Comunicações

16:15-16:30 – Café

16:30 – 19:00: Mesa Temática: Temas de Metaética

Nelson Gomes (UnB), Darlei Dall’Agnol (UFSC), Adriano Naves de Brito (UNISINOS)

Coordenador: Denis Silveira (UFPel)

19:30 – Conferência: Miguel Andreoli (Universidad de la República del Uruguay) – Observações sobre Razões Morais e Direitos Sociais

20:30 – Conferência: Gustavo Pereira (Universidad de la Republica del Uruguay) Eticidade Democrática

Moderador: Robinson dos Santos (UFPel)

COMUNICAÇÕES:

Apresentação de comunicações terça, quarta e quinta. Os trabalhos completos serão publicados em CD.

Dia/Horário: Terça e Quarta (10, 11) 11:40-13:20

Quinta (12): 14:00-16:00

MINI-CURSO:

Terça, Quarta e Quinta – Horário: 9:00- 11:30.

Alfredo Storck (UFRGS)

Concurso fotográfico NIKON Small World 2009, em Z Guiotto, Blog Link Abaixo

[FOTO+PRIMEIRO+LUGAR+DR+HEITI+PAVES.jpg]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Correio Popular de Campinas, 28/10/2009.

http://www.redicecreations.com/specialreports/2005/11nov/lucifer.jpg



Símiles diabólicos




Então Lula foi conduzido ao governo, deserto onde gente livre é escassa. Alí, foi tentado pelo Cujo. E tendo consumido churrasco durante quarenta dias e quarenta noites, ainda teve fome. Chegando então o Marrafo, disse-lhe : “se tu és o messias do Brasil, manda que estas pedras se tornem em pães”. Mas Lula respondeu: “está escrito no meu programa : nem só de pão vive o homem, mas de toda aliança que traga votos”. O Capiroto fica perplexo com a esperteza. Mas como todo bom Demo, persevera. Ardiloso Dianho, ele pegou Lula e o levou à cidade nada santa, a Brasília dos mil políticos (ou 340 picaretas, conforme o petista) e dos impostos sumidos, colocou-o no pináculo do Senado. Então disse: se és o líder do país, lança-te daqui abaixo; porque está escrito que aos bajuladores dará ordens a teu respeito; e eles te sustentarão nas mãos para que nunca tropeces em alguma pedra ou Comissão Parlamentar de Inquérito. Replicou-lhe Lula: também está escrito: não tentarás o TCU, o TSE e o STF. Novamente o Coisa-Ruim o levou a um monte e mostrou-lhe toda a ONU e mais a glória do Conselho de Segurança e disse-lhe : tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então Lula ordenou-lhe: vai-te ó Tisnado, porque está escrito: ao senhor PMDB adorarás, e só ao Sarney (com ajuda de Renan e Collor) servirás. Então o Azarape o deixou, e eis que vieram os bajuladores e o serviram.

Se você, leitor, for católico ou protestante, com certeza se irritou com o uso feito acima da cena mais relevante do Evangelho, onde o poder terrestre é recusado por Jesus. Mas a sua mesma consciência não se levanta contra as blasfêmias do presidente, nesta infeliz república? Em primeiro lugar, ao dizer que a governabilidade exige que Jesus se alie aos Judas dos partidos, ele se compara ao Cristo. Esquece o trecho acima de Mateus (4, 1), no qual o Messias afasta o poder que usa falsos milagres para enganar os humanos. Lula não é um deus. Sempre que, na história política, dirigentes usurparam as prerrogativas divinas, vieram catástrofes e morte de milhões. Se como político ele prefere pactuar com Judas, o homem dos trinta dinheiros, é sua escolha, mas sem direito ao deboche.

Fiquei estarrecido com a fleugma dos bispos católicos, frente à zombaria presidencial. Também não vi indignação entre os que seguem a Reforma. Erro se imagino que, para tal tolerância, no caso dos católicos, muito contribui a recente Concordata assinada por Lula e pelo Vaticano? Blasfêmia do governante, simonia dos pastores ? Erro se imagino que os protestantes tem escondida na manga a Lei sobre as Religiões? “Não te é lícito”, disse o Batista ao tirânico Herodes. Tal deveria ser a atitude dos encarregados de pregar o respeito ao divino. “É preciso obedecer mais a Deus do que aos homens” (Atos, 5, 29). Tal preceito, segundo Max Weber, foi a barreira mais sólida na defesa dos povos, até a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Senhores antístetes: não é lícito apenas rir de um governante, quando ele se compara a Deus e reduz o trato de Cristo com seus discípulos à prática do “é dando que se recebe”. Todos somos pecadores, erramos e, para isto, temos na lei divina o nosso corretivo. O fato de ser poderoso e aplaudido pela massa não dá a ninguém o direito de pregar a impunidade. Na arte de se comparar aos personagens bíblicos (nela o presidente é doutor) existe um quesito que não deve abandonar a nossa memória. Quando se trata de popularidade, não foi o Cristo o aplaudido, mas um nome indicado pelos políticos. No texto evangélico onde aparece Judas, vemos o plebiscito que escolheu um senhor muito popular. Pergunta Pilatos: qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus? Os príncipes dos sacerdotes persuadiram à multidão que pedisse Barrabás, cuja popularidade, então, subiu a mais de 80%. Não foi necessária nenhuma outra “pesquisa de opinião”. Cristo foi crucificado. Barrabás, com certeza, ganhou um cargo no governo da época. Nota: os nomes do Demo, aqui usados, foram extraídos de Grandes Sertões. Veredas, bom Guimarães Rosa.