quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Padre Vieira, um profeta. E pensar que o Brasil de hoje é apenas e infelizmente imenso Maranhão...

"Se o clima influi soberba, nasce a inveja: se influi gula, nasce a luxúria: se inclui cobiça, nasce a avareza: se influi ira, nasce a vingança. E para nascer a mentira, que é o que influi? Ociosidade. Onde o clima influi ócio, dá-se a mentira a perder. Nasce, cresce, espiga, e de um não sei quê, tamanho como um grão de trigo, podeis colher mentiras aos alqueires. Estes são os dois vícios do Maranhão, estas as duas influências deste clima, ócio e mentira." Padre Vieira, Sermão da Quinta Dominga da Quaresma.

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E agora, o post de hoje de Noblat:

Governo celebra mentira e impunidade

O governo celebra em silêncio o fato de Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, ter dito que a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, não a pressionou para por fim às investigações sobre os negócios suspeitos do empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP).Lina disse que Dilma lhe pediu "agilidade" nas investigações. E que ela entendeu o pedido como uma cobrança para que as investigações fossem concluídas o mais rápido possível. Classificou o pedido de incabível. Então o governo celebra mesmo o quê?O assunto não era da competência da chefe da Casa Civil. Lina não era funcionária subordinada a ela. Dilma recomendar pressa e a Justiça se queixar da morosidade da Receita Federal não são a mesma coisa. Por uma única razão: a Justiça pode se queixar e mandar. Dilma, não.

Ninguém suspeita que a queixa da Justiça tivesse algo a ver com seu desejo de ajudar Sarney. Tem gente aos montes que suspeita que Dilma tenha tentado ajudar um precioso aliado do governo. Se tentou, incorreu em crime de prevaricação. A ministra negou o encontro com Lina e a conversa. Nem o mais governista de carteirinha saiu do depoimento de Lina na Comissão de Constituição e Justiça acreditando no que Dilma afirmou. Por que Lina inventaria um encontro que não existiu? E se ofereceria para ser acareada com Dilma? A propósito: por que o governo não admite nem em sonho que Dilma seja acareada com Lina? Nem mesmo que Dilma seja ouvida pelo Senado sobre as declarações de Lina? Por que a ordem dada é para que Dilma não toque mais no assunto? Por que não se busca o registro da ida de Lina para o encontro com Dilma?

O governo também celebra o desfecho próximo da crise que ameaçou o mandato de Sarney. PSDB e DEM baixaram a bola mesmo depois de todas as denúncias publicadas contra o atual presidente do Senado. O PT baixara a bola antes sob a intensa pressão do governo.Não dá mais para atribuir a salvação de Sarney apenas aos votos que faltam dentro do PT para que ele seja investigado. Faltam votos também dentro do PSDB e do DEM. O PSDB teme retaliação em cima do seu líder Arthur Virgílio, acusado de quebra de decoro. Sarney tem muitos amigos no DEM.

Doravante, fica estabelecido que um senador pode, sim, mentir aos seus pares impunemente como fez Sarney. Pode morar em casa omitida em sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral. Pode se hospedar em apartamentos de empreiteira. Pode pôr seu jamegão em atos secretos. Pode, pode, pode...Alvíssaras! Está garantida a governabilidade - pelo menos até a próxima crise. O PMDB de Sarney e Renan Calheiros (PMDB-AL) não criará problemas para o governo na CPI da Petrobras e muito menos em relação a Dilma. Só não lhe peçam que garanta desde já apoio à candidatura de Dilma. É cedo e ele não é bobo.

Por último, o governo celebra alguns resultados da mais recente pesquisa Datafolha. A popularidade de Lula não caiu. Ele escapou sem arranhões dos efeitos da crise do Senado e da crise do Sarney. Dilma empacou na pesquisa? Tolice. Haverá tempo de sobra para que volte a crescer. Afinal, por que ela será candidata? Porque Lula quer, só por isso. E por que ela poderá se eleger? Por causa do prestígio de Lula junto aos eleitores.Em 1994, o Plano Real elegeria um poste presidente da República. Elegeu Fernando Henrique Cardoso, que no início daquele ano se arriscava a nem se eleger deputado federal. Em 2010, veremos se a força de Lula será igual ou maior que a do Plano Real.