quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Blog do Noblat

Enviado por Ricardo Noblat -
26.8.2009
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16h59m
Comentário

Por que Lina se cala? Por que Dilma não a processa?

É pouco verossímel que Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, não saiba o dia exato em que diz ter estado com a ministra Dilma Rousseff no Palácio do Planalto - e ouvido dela o pedido para que "agilazasse" as investigações sobre os negócios do empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.

Do mesmo modo é pouco verossímel que a ida de Lina ao palácio para uma reunião com Dilma não tenha deixado rastros nem nas dezenas de câmeras de segurança do local, nem no registro da entrada e saída de autoridades e de carros que as transportam.

Lina jamais ocuparia o cargo de Secretaria da Receita Federal se não fosse uma pessoa da absoluta confiança do governo. A identificação dela com o PT jamais foi posta em dúvida. O fato do marido dela ter sido durante um ano ministro interino do governo FHC não enfraqueceu o DNA petista de Lina.

Se a ex-chefe de gabinete dela foi capaz de lembrar que Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil, esteve no prédio da Receita Federal, e que Lina lhe disse em seguida que iria ao palácio para uma reunião com Dilma, é improvável que não tenha ficado na Receita registro sobre a data do encontro no palácio.

E por que Lina sonega a data?

Talvez porque ela não queira criar para o governo mais embaraços do que já criou ao confirmar à Folha de S. Paulo seu suposto encontro com Dilma. Foi o jornal que descobriu que houvera o encontro. E o que Dilma pedira a Lina.

A oposição aproveitou a revelação do episódio para tentar desgastar Dilma e o governo? É claro que sim. Oposição existe para cavar seu possível retorno ao poder. O PT sempre se comportou assim até chegar ao poder. Mas não foi ela que inventou o episódio.

Lina poderia ter negado à Folha o que a Folha descobriu. Ou poderia pelo menos ter-se negado a falar com o jornal. Falou. E ao fazê-lo disparou um míssel contra Dilma.

Foi brabeza para a oposição convencer Lina a aceitar o convite da Comissão de Constituição e Justiça do Senado para ir depor ali. Ela só aceitou porque a oposição garantiu que a defenderia dos ataques da tropa de choque do governo.

A serviço de quem estava Lina? Dos seus ressentimentos por ter sido demitida do cargo? De alguma ala do PT desgostosa com a escolha de Dilma para candidata à sucessão de Lula?

Faltam muitas peças para montar esse quebra-cabeça. Mas nele não se encaixa a peça que ao cabo revelaria ter sido Lina cooptada pela oposição para minar as chances de Dilma se eleger.

Lina não mudou de lado. E porque não mudou silencia sobre a data do suposto encontro.

Se quisesse, Dilma poderia processar Lina por denunciação caluniosa. Por que não o faz?