domingo, 21 de junho de 2009

UM CORRETO ARTIGO DE ELIO GASPARI.

São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009



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ELIO GASPARI

A diplomacia kung fu do doutor Amorim


Lula foi à terra de Borat depois de receber o companheiro Karimov, aquele que ferve dissidentes


EMOLDURADO pelo luxo asiático-stalinista do palácio do presidente Nursultan Nazarbayev, no Cazaquistão, o chanceler Celso Amorim fez a defesa do que seria a política "realista" de Nosso Guia em defesa dos direitos humanos dos outros: "É uma questão de concepção. Tem gente que quer (...) ficar em paz com sua consciência e purgar os pecados do colonialismo".
O doutor Amorim cortejou o ditador do Zimbábue, agradou o soba do Sudão, recebeu o chanceler da Coreia do Norte e, num lance de audácia, convidou o presidente do Uzbequistão para dar um pulinho a Brasília.
Pode-se fazer de conta que Amorim não sabe quem é o presidente Nazarbayev, do Cazaquistão. Ele está no poder desde a época da falecida União Soviética, com direito a quantas reeleições quiser. Como não há oposição no seu reino, em 2006 ele foi a Washington para dar queixa de Borat ao presidente George Bush. Estima-se que sua fortuna chegue a US$ 1 bilhão. Prova não há, porque ele é homem cuidadoso. Durante uma visita do secretário de Estado americano, agendou uma importante conversa para a sauna (leia-se: só eu gravo).
Nazarbayev é um santo se comparado com outro convidado de Nosso Guia e de Amorim. Islam Karimov, presidente do Uzbequistão, esteve em Brasília em maio passado. Ele também está no poder desde o tempo da falecida União Soviética. Como os demais tiranos, massacra a oposição e rouba o que pode, mas Karimov conquistou um lugar na galeria das atrocidades: em pelo menos um caso, sua polícia ferveu um opositor. Ferveu, não confundir com jogar na água fervendo. Quem diz isso é um laudo de patologistas da Universidade de Glasgow.
Karimov só não se tornou um tirano do tipo Geni porque mereceu a proteção dos Estados Unidos, a quem quase certamente agradou hospedando uma central secreta de torturas da CIA. Isso e mais as facilidades que concede a empresas mineradoras americanas. Sua filha está com a prisão preventiva decretada nos Estados Unidos por roubalheiras. George Bush não teve peito de convidar o companheiro Karimov para visitar Washington.
Quando no Brasil penduravam-se no pau-de-arara adversários da ditadura (inclusive um irmão de Nosso Guia), o secretário de Estado Henry Kissinger patrocinava uma política de simpatia "realista" com Brasília. Anos depois, Jimmy Carter assumiu a Presidência dos Estados Unidos e pressionou Pindorama. À época, os hierarcas do Itamaraty diziam que sua iniciativa era colonialista e continuavam negando passaportes para exilados.