segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sobre Honduras, uma interessante reflexão de Paulo Araújo

E começou o Fla X Flu. O argumento de sempre: canelada preventiva. Os hondurenhos enfrentam uma situação econômica ruim. Como ocorre em todo pais periférico, quem mais sofre é a população. Mas ela que se dane, como sempre. Golpistas ali são todos, situação e oposição.

Está evidente que a destituição era a melhor saída para Chávez e Zelaya, simplesmente porque eles não tinham outra. Como mostram os fatos, Zelaya claramente apostava no aprofundamento da crise e forçou assim a sua destituição. Eu penso que equivocadamente (ou oportunisticamente) a oposição embarcou nessa canoa furada do golpe. Isso deu ao Zelaya um ganho político considerável: passou de golpista a vítima de golpistas. Melhor seria mantê-lo como presidente e continuar trabalhando no sentido de manter o seu isolamento político, tocando esse barco até as eleições de novembro.


Havia ainda o recurso da oposição acionar os organismos latino-americanos e isolar ainda mais Zelaya na sua pretensão de golpear, ao estilo chavista, a Constituição. Mas preferiram o golpe. Por outro lado, Zelaya já cometeu um erro político grave. O esperado era que ele acionasse o Sistema de Integración Centroaméricana (O Brasil participa como observador), o Grupo do Rio, a OEA, como lembrou um articulista do La nación (Costa Rica). Mas ele optou por acionar os amigos da ALBA. Se a oposição for hábil, ela destaca as tintas ideológicas desse ato, parte para cima do Cháves e tenta isolar Zelaya por via diplomática. O melhor seria promover a sua volta à presidência com o compromisso de que ele cesse os ataques à Constituição. Fazer isso com apoio da OEA, isolando os "albanos".


O golpe não se justifica em nenhuma hipótese. Do ponto de vista bem pragmático, foi burrice e/ou oportunismo. Zelaya estava politicamente isolado. O bolivarianismo tem expressão política mínima em Honduras. Seu partido (Liberal) já havia indicado candidato para as eleições de novembro (ex-vice de Zelaya). A tal "encuesta" foi amplamente rechaçada em Honduras:

Sobre a golpista "encuesta" ao estilo chavista:


Corte Suprema de Justicia la declaró contraria a la Constitución; el Tribunal Supremo Electoral (TSE) se opone frontalmente, porque vulnera sus competencias; la Conferencia Episcopal ha advertido de los riesgos que encierra; la Confraternidad Evangélica ha sido aún más severa en sus críticas; el Colegio de Abogados de Honduras calificó la “encuesta” de ilegal, y el martes en la noche el Congreso aprobó un reglamento que impide la realización de cualquier referendo o consulta electoral 180 días antes o después de las elecciones nacionales. El más reciente y dramático hecho fue la negativa de las Fuerzas Armadas, a pedido del TSE, de negarse a repartir el material para la “encuesta”, a pesar de la orden del Presidente. Por este motivo, Zelaya destituyó al jefe del Estado Mayor, general Romeo Vásquez, quien, sin embargo, fue restituido ayer en su cargo, tras un amparo de la Fiscalía, por la Corte Suprema de Justicia. El Ministro de Defensa renunció en solidaridad con Vásquez, y han surgido rumores de un posible (aunque improbable) golpe de Estado.

http://www.nacion.com/ln_ee/2009/junio/26/opinion2007986.html

Com toda essa oposição o correto seria continuar levando a luta política pela via institucional. Com certeza o golpe rachou a oposição, o que deve ter deixado o golpista mór na Venezuela felicíssimo.

O resultado imediato é que os golpistas (como sempre) deram sobrevida política a um presidente fraco e dependente de Cháves. Mas a tentação da via rápida falou mais alto.