quinta-feira, 25 de junho de 2009

De um amigo, vem as ponderações abaixo. Vale a pena ler.


Um certo realismo político apregoa que declarar a vitória de Ahmadinejad seria o melhor, pois isso manteria acesa a suspeita de fraude e talvez ampliasse a divisão no Irã. Dizem ainda que seria muito trabalhoso ou quase impossível desmascarar o opositor de Ahmadinejad quanto às suas reais intenções de fabricar a bomba.

Também já li que essas declarações favoráveis à Ahmadinejad por parte do governo israelense e da CIA são uma forma de mandar um recado ao mundo árabe de que Israel e EUA nada tem a ver com os protestos, pois reconhecem a vitória de Ahmadinejad.

O que vai sair disso tudo eu não sei. Mas é inegável, quando se examina os fatos, e mesmo considerando os estreitos limites de liberdade política no Irã, que a vontade soberana do povo iraniano foi golpeada por interesses particulares. No caso, os interesses do grupo que se articulou para fraudar a eleição e que ativa contra os insurgentes não apenas o monopólio da força física do Estado, mas também a sua milícia particular (Basij). Se isso não é golpe, é exatamente o quê? Briga de torcidas de futebol?

Como você vem insistindo em mostrar, golpes de Estado podem ter a visibilidade espetacular dos tanques nas ruas e da deposição de governantes e podem também ter a "invisibilidade" de fala que Naudé.

O que os dois tipos de golpe têm comum? Ambos constituem um conjunto de ações ousadas que os golpista, governantes ou não, executam contra o direito dos cidadãos, em desrespeito à Justiça. Fraudar eleição é golpe de Estadom moesmo no Irã, embora isso não tenha o caráter espetacular dos golpes ao estilo das ditaduras latino-americanas.

Os protestos iniciaram porque indivíduos concretos sentiram na carne a concretude do golpe e, para o nosso espanto, resolveram reagir. Isso é o que importa saber. E também é impossível saber de quanto exatamente foi a fraude, se de 3 milhões ou 40 milhões de votos. É burrice ou desonestidade apontar os dedos do grande Satã a movimentar os cordéis que moveram os um milhão de iranianos nas ruas de Teerã. Também é burrice ou desonestidade ignorar que os um milhão de iranianos foram às ruas porque movidos pela certeza que possuem de que os votos foram fraudados.

Para mim, a prova provada da fraude são os um milhão de iranianos que saíram às ruas para protestar contra o golpe. Mas entãocomeçam a surgir as costumeiras desqualificações de que esse grupo não é representativo do Irã profundo, que ele é classe média, que gosta de música americana e de trocar ideias com jornalistas ocidentais. Enfim, eles apenas seriam os torcedores briguentos do Lula.

Abs.