quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

SOBRE OBAMA , Igreja e Estado, alguns palpites meus e de outros.





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Bênçãos de pastores dão tom religioso a posse

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

Barack Hussein Obama crê em Deus -ou pelo menos no apoio dos religiosos a seu governo. No discurso de posse de ontem, o presidente dos EUA definiu o país como "nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus -e não crentes" e encerrou sua fala desejando que "a graça de Deus" guie as ações dos norte-americanos.

Antes de falar, porém, assistiu a uma bênção do pastor Rick Warren, polêmico por sua militância contra a união de homossexuais. Depois de discursar, houve outra, a cargo do reverendo Joseph Lowery, antigo colega de igreja de Martin Luther King.

"Obama precisa do aval do país, vai ter dificuldades para passar medidas econômicas com os congressistas republicanos", lembra Roberto Romano, professor de ética e filosofia política na Unicamp. Para Romano, a religião já foi usada como escudo contra a pressão sofrida na campanha, quando Obama era associado à impopular posição pró-aborto.

Kenneth Serbin, professor de história na Universidade de San Diego e autor de "Padres, Celibato e Conflito Social" (Companhia das Letras), acrescenta: "Obama lembra à população a tradição de tolerância, ao mesmo tempo apelando para a unidade nacional. Ele seria uma combinação dessas duas tendências: não vai esconder sua religiosidade vai e usar o discurso público religioso para reanimar o país".

Para Serbin, mais do que as palavras, o tom na cerimônia de ontem foi religioso. "Toda a posse lembra a luta de Luther King, grande pregador. Obama quis levantar o ânimo do povo."

Serbin não vê motivo para preocupação quanto à mistura de política e religião nos EUA: "Ter um Estado laico é justamente o que permite que se utilize o discurso religioso: ninguém tem medo que a religião se apodere do Poder Público".

Antônio Flávio Pierucci, professor de sociologia na USP, acrescenta: "Pode parecer paradoxal, mas a separação de igreja e Estado é feita em respeito à religião. A religião pode fazer o que quiser, contanto que não seja ilegal".

Pierucci também vê o apelo religioso de Obama como estratégia para os que ainda resistem ao presidente. "Ele tem o nome árabe, não pode vacilar."

Mas o tom de pregação incomoda Roberto Romano: "O que me deixa escandalizado é o fato de Obama aceitar essa quase passagem de líder político para messias. Colocam sobre ele o papel de grande salvador da economia, ele é o Moisés que veio nos livrar do racismo".

"Os fundadores do Estado quiseram separar fundamentalmente: uma coisa é a administração do Estado, outra é a religião. Estamos num momento ambíguo desse trato", conclui Romano.