terça-feira, 13 de janeiro de 2009

"Só quem não acredita no Brasil são os brasileiros. Isso se passava antes da Copa de 58, como dizia o Nelson Rodrigues (...) No futebol nós superamos essa síndrome. Na política e no comércio internacional não."Sr. Amorim, Ministro das Relações Exteriores.

Comentário: na França, o ridículo mata. No Brasil, engorda.

Roberto Romano




São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009



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Para Amorim, críticas são falta de autoestima

Chanceler defende papel do Brasil na mediação

DO ENVIADO A JERUSALÉM

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu ontem a relevância de sua viagem ao Oriente Médio, destinada a oferecer apoio a um cessar-fogo na faixa de Gaza, e classificou as críticas que recebeu como um sintoma da baixa autoestima dos brasileiros.
Amorim disse que ele "e grande parte do mundo" discordam dos comentários feitos por seus antecessores Celso Lafer e Luiz Felipe Lampreia, que questionaram a capacidade de o Brasil ter influência na busca de uma solução para o conflito.
"Só quem não acredita no Brasil são os brasileiros. Isso se passava antes da Copa de 58, como dizia o Nelson Rodrigues", comparou Amorim. "No futebol nós superamos essa síndrome. Na política e no comércio internacional não."
O périplo de Amorim começou no domingo em Damasco, onde ele se reuniu com o presidente sírio, Bashar Assad. A Síria é uma das bases de apoio do grupo extremista Hamas, alvo da ação israelense em Gaza, e residência de um de seus principais líderes, Khaled Meshaal.
Amorim não deixou claro se estaria disposto a falar com o Hamas, mas disse que conversou com Assad sobre o grupo. "Conversei com o governo sírio e a minha sensação é que a Síria tem interesse no processo de paz e sente a necessidade de uma interlocução internacional mais ampla", disse.
De Damasco ele seguiu para Jerusalém -como ambas estão em estado de guerra, o avião da FAB teve de pousar antes em Amã. No encontro com a chanceler israelense, Tzipi Livni, Amorim foi indagado sobre a nota do PT comparando a ação em Gaza a métodos nazistas.
"Eu disse a ela que só posso ser responsável pelas notas de cuja redação participo", contou o ministro. Ontem, cerca de 50 pessoas se reuniram em frente à Embaixada do Brasil em Tel Aviv para protestar contra a nota, em ato organizado pela comunidade brasileira local.
Em entrevista a jornalistas brasileiros em Jerusalém, Amorim defendeu a relevância de sua missão, mencionando que foi incentivado por vários países e que foi muito bem recebido na Síria, em Israel e na cidade palestina de Ramallah.
Ele evitou usar a palavra "neutro" para definir a atuação do Brasil -"parece que não estamos ligando para nada"- mas ressaltou que fatores como não ter sido uma potência colonial, ser um exemplo de convivência pacífica entre judeus e árabes e ter presença em todos os foros internacionais credenciam o país como interlocutor.
"Não tenho ilusões de que estamos aqui para resolver um problema que ninguém resolveu. Mas fazemos parte de um conjunto de esforços da comunidade internacional", disse Amorim. "A comunidade internacional não pode ser só EUA e União Europeia."
De Israel Amorim seguiu para a Jordânia, de onde partiu um carregamento de ajuda humanitária do Brasil para Gaza, e para o Egito, última escala da viagem. (MARCELO NINIO)